Estamos a viver uma época muito boa na área cultural e desportiva
Presidente da câmara elogiou as forças vivas de VFX numa cerimónia em que medalhou a jovem Leonor Teles. Jovem que venceu Urso de Ouro em Berlim recebeu medalha de valor cultural. O seu último filme arrebatou os júris dos festivais de cinema de Berlim e Hong Kong. À margem da cerimónia disse a O MIRANTE que a sua terra fica deserta assim que cai a noite.
A cidade de Vila Franca de Xira tem muitas virtudes mas é preciso não deixar morrer as coisas boas que ainda tem. A opinião é da jovem cineasta Leonor Teles, vencedora do Urso de Ouro do último festival de cinema de Berlim na categoria de curtas-metragens. Leonor nasceu e ainda vive em em Vila Franca de Xira. “Ultimamente tenho passado mais tempo em Lisboa do que cá mas Vila Franca de Xira ainda vai tendo algumas coisas boas. Mas está sem vida nenhuma, as coisas fecham todas às oito da noite e não se passa mais nada. Antigamente a cidade era muito mais activa, havia mais actividades e oportunidades, era uma terra mais dinâmica”, lamenta a O MIRANTE.
A cineasta, de 24 anos, confessa-se de poucas palavras e falava à margem da cerimónia pública onde recebeu a medalha de valor cultural dourada atribuída pela câmara municipal. Câmara que, quando Leonor precisou de apoio, lhe fechou a porta. “A junta de freguesia sempre me apoiou, mesmo quando precisei de um auxílio para ir a França aquando do meu primeiro filme [“Rhoma Acans”]. Deles não tenho motivos de queixa e sempre se mostraram muito receptivos antes dos ursos e dos sapos. À câmara só pedi uma vez e a resposta foi negativa, vamos ver como será no futuro”, confessa.
O presidente do município, Alberto Mesquita, mostrou-se disponível para apoiar a jovem cineasta no que ela necessitar no futuro. “Não me lembro do pedido que ela fez, provavelmente não terá sido neste mandato. Mas independentemente disso acho que a câmara tem a obrigação de reconhecer o talento dos nossos jovens. Quando ela necessitar estarei sempre disponível para a ouvir. Estamos numa época muito boa, não só na área cultural como desportiva. E isso é fruto de um trabalho das escolas, dos clubes, foi um momento muito gratificante estarmos aqui a atribuir a medalha à Leonor. É o reconhecimento devido e justo a uma jovem com um grande talento e que certamente vai ter um futuro enorme na sétima arte”, refere.
A jovem garante que de momento não tem qualquer projecto em carteira e que a única certeza é que o trabalho não terá a ver com ciganos. O filme premiado na 66ª Berlinale, “Balada de um batráquio”, visava as superstições existentes na comunidade portuguesa face aos sapos de loiça que muitos ainda acreditam dissuadir os ciganos de entrar nas lojas. No filme, que já estreou nas salas portuguesas, Leonor parte vários destes sapos, para desagrado dos lojistas.
“O meu objectivo é continuar a trabalhar em cinema e em Portugal. O prémio em Berlim tem isso de bom, que se possa adquirir financiamento de uma forma mais fácil ou mais rápida. Não é nada fácil viver do cinema. Mas é o que gosto de fazer. Se um dia tiver de fazer outras coisas faço, mas para já estou a conseguir trabalhar nesta área e espero continuar”, refere.
Leonor estudou na Escola Reynaldo dos Santos e depois licenciou-se em cinema pela Escola Superior de Teatro e Cinema, sendo mestre em audiovisual e multimédia pela Escola Superior de Comunicação Social. Garante que nada na sua vida mudou e que continua a fazer a vida na cidade que já fazia antigamente.
“Acho que o prémio foi muito bom para a comunidade. Este percurso aconteceu por acaso, se outros jovens querem seguir a área têm de estudar e trabalhar, mas é uma área difícil. Continuo a fazer uma vida absolutamente normal em Vila Franca de Xira, as coisas não mudaram nada. Só tive mais entrevistas, mas até isso tem vindo a diminuir”, ironiza.