Joaquim Ramos disponível para voltar a concorrer à presidência da Câmara de Azambuja
Ex-autarca diz que o concelho precisa de atrair investimento privado para se desenvolver. A pretexto do lançamento de um novo livro, Joaquim Ramos, ex-presidente da Câmara da Azambuja, falou a O MIRANTE dos projectos que tem para o futuro e mede o pulso ao concelho. E diz para ninguém ter ilusões: “fazer um oásis onde só há areia é impossível”.
O ex-presidente da Câmara de Azambuja, o socialista Joaquim Ramos, diz que o processo de escolha do próximo candidato à câmara “não está fechado” e assume-se como um nome na corrida. “Desde que a saúde me permita, que o partido queira e a população assim o exija, estou disponível”, confessa a O MIRANTE.
O ex-autarca, que obteve em três eleições maiorias absolutas desde 2001, impõe uma condição: não o convidem para ser vice-presidente ou vereador. A concorrer a eleições só mesmo se for candidato a presidente e pelo Partido Socialista. “Por independentes não, ou será pelo PS ou não será por mais ninguém. Estamos a ano e meio das eleições e neste momento há uma câmara legitimamente eleita que deve governar sem atritos ou discussões à volta desta matéria”, defende.
Joaquim Ramos, recorde-se, abandonou o cargo em 2013 na sequência de um ataque cardíaco mas mesmo assim nunca abandonou a política e a vida cívica. Sobre a gestão do seu sucessor e camarada Luís de Sousa não se pronuncia, ainda que o episódio dos vencimentos por pagar tenha deixado algum amargo de boca no ex-autarca, que ficou a arder com quase 10 mil euros respeitantes a quatro meses de salário que não recebeu por se encontrar hospitalizado.
“O dinheiro que me pediam para ir para tribunal com o caso ultrapassava o dinheiro que ia receber por isso desisti. Tenho muita pena que a Câmara de Azambuja tenha enveredado por um caminho que conduziu a que esses meses não me fossem pagos. Não foi o Luís de Sousa o culpado, ele garantiu-me que se tivesse qualquer fundamento para pagar esses meses pagava. Mas ele não é uma pessoa arrojada, eu em relação a determinados direitos que ele tinha não hesitei em mandar processar sem andar a pedir pareces jurídicos. Mas ele entendeu que devia pedir esses pareceres, no entender dos meus advogados, que estavam completamente inquinados. Percebo que ele não tenha querido violar esses pareceres”, nota.
Joaquim Ramos considera os seus mais directos adversários na corrida à câmara - Luís de Sousa e Silvino Lúcio - como “camaradas”. “Não há entre nós qualquer espécie de adversidade ou litigância. Há espírito de união e todos temos excelentes relações. Será candidato aquele que todos acharem melhor para o partido. O PSD anda a cerrar fileiras como nunca vi e é preciso que o PS esteja atento a essa situação”, alerta.
Já no que toca a medir o pulso à terra onde vive, Joaquim Ramos é directo: “o concelho parou e houve uma regressão, em todos os sentidos, do económico ao social”, lamenta. O ex-autarca considera que dar a volta à situação é complicado mas que o sucesso passa pelo captar de investimento privado.
“Não podemos dar a volta a um concelho sem o inserir na região e no país, no contexto em específico. Ninguém tenha ilusões: fazer um oásis onde só há areia é impossível. As coisas estão de tal forma interligadas que a margem de manobra do município é relativamente escassa. Só mesmo fazendo uma magistratura de influência de modo a tornar a terra atractiva para a iniciativa privada”, defende.
Descobertas de infância e uma paixão nazarena
“O tempo da descoberta” é o segundo livro de Joaquim Ramos, tem 328 páginas e reúne um conjunto de contos ficcionados mas inspirados por elementos do seu percurso de vida. “Cobre histórias desde o período da infância e as minhas memórias em Azambuja, até histórias da minha passagem pelos Açores e pela câmara. Não é biográfico, são memórias que observei durante o percurso da minha vida”, explica.
O livro, da Chiado Editora, foi apresentado na última semana em Azambuja. No livro há três histórias que lhe tocam: a primeira, da descoberta da adolescência e uma outra sobre a cruel e dura vida difícil de Azambuja nos tempos da ditadura. “A terceira história é a paixão nazarena, quando tinha 20 anos apaixonei-me por uma nazarena com 83. Não foi paixão física, foi outro tipo de paixão, mas é preciso ler o livro para perceber”, conta com um sorriso.
O livro vai já a caminho da segunda edição. Joaquim Ramos confessa que está a preparar o seu terceiro livro, um romance na primeira pessoa sobre a sua “ressurreição”, como faz questão de chamar. O ex-autarca confessa-se totalmente recuperado, graças a muita força de vontade “porque tinha dois por cento de chances de sobreviver”. E graças a um aparelho revolucionário da Universidade de Boston que tem encostado ao coração e que, via wireless, não deixa que lhe aconteça nada sem que o Hospital da Luz possa intervir directamente sobre o coração. “A pilha dura dez anos, espero que ainda dê para muito tempo”, brinca o homem que, actualmente, já conta com 65 anos.