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“Futuro do tratamento do cancro não passa pela quimioterapia”

“Futuro do tratamento do cancro não passa pela quimioterapia”

Jovem investigadora de Tomar vence prémio internacional de melhor tese de doutoramento. Sofia Silva venceu recentemente o prémio de melhor tese de doutoramento atribuído pela International Society for the Advancement of Supercritical Fluids. A sua tese consiste numa nova abordagem terapêutica para o cancro do pulmão, recorrendo a agentes terapêuticos que vão ser administrados no paciente através de inalação, matando apenas as células tumorais. A investigadora de Tomar ficou feliz pelo reconhecimento do seu trabalho, desenvolvido nos últimos três anos. A jovem dedica-se a tentar encontrar uma cura para o cancro porque já perdeu várias pessoas à sua volta com esta doença.

Faltavam apenas dois minutos para terminar o prazo quando Sofia Silva entregou a sua tese de doutoramento para concorrer ao prémio da International Society for the Advancement of Supercritical Fluids. A jovem investigadora confessa que foi a sua orientadora de doutoramento que a desafiou e convenceu a participar. Este mês de Maio ficou a saber que venceu o prémio para a melhor tese de doutoramento. “Quando recebi o email a informarem-me que tinha ganho nem percebi bem. O meu doutoramento teve fases tão complicadas, sobretudo a nível pessoal, que foi muito bom ver o meu trabalho, e o trabalho das pessoas que me acompanharam nesta tese, reconhecidos”, afirma Sofia Silva a O MIRANTE.
O prémio monetário, no valor de 500 euros, vai servir para ajudar a pagar o seu vestido de noiva. Sofia casa em Agosto. A jovem de 27 anos nasceu e viveu sempre em Tomar. Licenciou-se e tirou o mestrado em Ciências Biomédicas na Universidade da Beira Interior (UBI). É doutorada em Bioengenharia e a sua tese de doutoramento consiste numa nova abordagem terapêutica para o cancro do pulmão.
“Desenvolvemos estruturas numa escala que não é visível a olho nu, a nano escala, e também à micro escala, que vão conter agentes terapêuticos que vão ser administrados ao paciente através da inalação. Quando esta terapia chega ao local do cancro só vai matar a célula tumoral. Além disso, os pós que produzimos e que vão ser inalados pelos pacientes não prejudicam nem o meio ambiente nem o Homem”, explica.
A tese de doutoramento foi desenvolvida ao longo de três anos, e contou com a orientação de Ana Aguiar-Ricardo, professora catedrática na Universidade Nova de Lisboa, e a supervisão de Ilídio Correia, professor auxiliar da UBI. A investigadora não fala em cura para o cancro mas sim numa boa terapia para combater a doença. No entanto, como todos os estudos, tem que passar por longos ensaios clínicos para se comprovar que é eficiente. Sofia Silva refere que só dentro de 10 a 15 anos é que esta técnica pode começar a ser utilizada.
Na sua opinião o futuro do tratamento de doenças como o cancro não passa pela quimioterapia. “A quimioterapia provoca muitas lesões no paciente, para além de o deixar com uma saúde vulnerável. É uma terapia muito agressiva que mata muitas células, não só as cancerígenas como as saudáveis. O objectivo destas terapias, que integram a minha tese de doutoramento, é fazer um tratamento localizado, matar apenas o tecido cancerígeno com o mínimo de efeitos adversos para o paciente”, sublinha.
Sofia decidiu incidir as suas investigações na descoberta de novas terapias para o cancro porque teve vários casos de pessoas à sua volta que lutaram contra a doença e algumas não sobreviveram. “Perdi várias pessoas muito próximas com este problema de saúde, incluindo uma pessoa muito importante na minha vida, que considerava como um segundo pai. Poder encontrar uma cura para esta doença é uma motivação que me faz tentar descobrir mais todos os dias”, confessa, emocionada.
A jovem investigadora dá explicações a alunos do ensino superior em Coimbra enquanto decide se entra no mercado de trabalho ou avança para o pós-doutoramento. Admite que todas as hipóteses estão em aberto.

Tese de doutoramento foi uma prova de superação

Ana Sofia Silva nasceu em Tomar a 22 de Julho de 1988. Em criança sonhava ser cantora, embora admita não ter jeito nenhum para cantar. Gosta, no entanto, de tocar viola quando está sozinha em casa. Ajuda a descontrair e a descomprimir do stress do dia-a-dia. Encara o seu doutoramento como uma provação. Durante um mês ficou paralisada e deixou de andar. Descobriu que tinha uma falha na coluna e teve que ser operada. Colocou uma prótese e três semanas depois já estava de volta ao laboratório a trabalhar na sua tese.
“Estes problemas acabaram por tornar o meu doutoramento numa superação porque tive momentos em que me apeteceu desistir. O que vale é que tenho uma família, um namorado e uns amigos incríveis que me apoiaram sempre nos momentos mais difíceis. Receber este prémio soube ainda melhor devido aos obstáculos todos que surgiram no caminho”, reconhece.
A investigadora vive na Mealhada [distrito de Aveiro], embora não descarte estabilizar a sua vida familiar noutra cidade. Gostava que fosse em Portugal. “Gosto do meu país, é cá que tenho as minhas raízes e gostava que os filhos conhecessem bem Tomar como eu também conheço. Se todos os investigadores saírem do país não fica cá ninguém”, afirma.
Sofia adora a sua cidade natal e visita Tomar quase todos os fins-de-semana. Na infância gostava de ir com os amigos para o castelo procurar o tesouro, que dizem lá existir. Destaca a vista “maravilhosa” da cidade e a sua história que lhe dá um encanto especial. Lamenta apenas a entrada da cidade na zona do Flecheiro, que, na sua opinião, é o pior cartão-de-visita de Tomar.

“Futuro do tratamento do cancro não passa pela quimioterapia”

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