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Mãe que deu à luz em morte cerebral é um símbolo da medicina nacional e da Póvoa de Santa Iria

Mãe que deu à luz em morte cerebral é um símbolo da medicina nacional e da Póvoa de Santa Iria

Sandra Pedro, 37 anos, foi sepultada no dia seguinte a ter dado à luz um rapaz. Caso apontado como um exemplo da qualidade da medicina portuguesa sensibilizou o país e tornou-se notícia também no estrangeiro. Na cidade onde Sandra Pedro residia não se fala de outra coisa. O caso gerou emoções contraditórias: tristeza pela morte de uma mulher ainda jovem e alegria por este “milagre” da medicina que trouxe mais uma vida ao mundo.

A consternação no Bairro das Bragadas, Póvoa de Santa Iria, concelho de Vila Franca de Xira, é enorme e não se fala de outra coisa desde que nasceu o bebé de Sandra Pedro, 37 anos, que esteve quatro meses ligada artificialmente à vida para que o parto pudesse ser feito.
A grávida em morte cerebral, que foi mantida “viva” até dia 7 de Junho, era muito querida no bairro onde habitava, num primeiro andar em frente ao Café Central. Nesse estabelecimento era constante o corrupio de jornalistas nacionais e estrangeiros que procuravam recolher informação sobre o caso quando a reportagem de O MIRANTE esteve no local, no dia 9 de Junho.
Sentada numa mesa do café, Maria Clara Freitas, 74 anos, conta a O MIRANTE que Sandra “era muito simpática e amiga de ajudar todos, boa rapariga e boa vizinha”. Conta ainda que Sandra trabalhou numa mercearia da zona e saía da loja para a ajudar a levar os sacos das compras até à sua casa. “Ficámos muito tristes com a sua morte, mas ao mesmo tempo felizes com o nascimento do menino”, confessa.
O bebé milagre chama-se Lourenço e “era um menino muito desejado”, conta Bruna Alexandra, 18 anos, enquanto as lágrimas lhe vão caindo pelo rosto. Bruna foi com Sandra fazer o teste de gravidez e, quando deu positivo, as duas amigas, deram pulos de alegria. A amiga esteve nos momentos bons e maus.
Foi Bruna que no dia 20 de Fevereiro chamou a ambulância porque Sandra tinha fortes dores de cabeça. “Contou-me que a cabeça parecia que ia explodir”, diz Bruna que a considerava “uma segunda mãe”. Conta que passavam muito tempo juntas e as saídas à noite eram habituais. Iam à praia e por vezes ficavam a “ver filmes noites inteiras”. Bruna sempre teve a esperança de que houvesse um milagre e que Sandra sobrevivesse, apesar de os médicos dizerem que não havia nada a fazer.
A mãe do bebé entrou em morte cerebral “na sequência de uma hemorragia intracerebral”, no dia 20 de Fevereiro. “O tempo não cura nada, nós é que nos vamos tentando enganar”, explica Bruna Alexandra, que não consegue ultrapassar a dor pela morte da sua melhor amiga. “Era ela que me levantava a moral quando eu estava em baixo e agora já não a tenho”.
Sandra Pedro tinha outro filho com 13 anos, de um anterior relacionamento, e que vivia com ela. Namorava há cerca de um ano com o pai de Lourenço. Os vizinhos contam que perderam a ligação com o pai da criança quando Sandra foi para o hospital.
Sandra, que ultimamente trabalhava numa churrasqueira na Póvoa de Santa Iria, costumava beber café e tomar o pequeno-almoço no Café Central. A dona do café, Susana, diz que nos dias de folga “a Sandra gostava de cozinhar no café”. “Cozinhava para todos e passava aqui o dia”, conta.
O funeral de Sandra realizou-se na quarta-feira, 8 de Junho, no dia seguinte ao nascimento do filho. Nunca em Portugal uma grávida tinha sido mantida tanto tempo em morte cerebral. Este feito da medicina portuguesa foi realizado no Centro Hospitalar de Lisboa Central e o recém-nascido está na Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais.
Em comunicado, o centro hospitalar refere que “após parecer da Comissão de Ética e Direcção Clínica do CHLC, e numa decisão concertada com as famílias da mãe e do pai da criança, foi acordada a manutenção da gravidez até às 32 semanas, por forma a garantir a viabilidade do feto”.

Bebé vai deixar cuidados intensivos

O bebé que nasceu com a mãe em morte cerebral já está a ser alimentado exclusivamente com leite humano e vai deixar os cuidados intensivos, anunciou na segunda-feira o Centro Hospitalar de Lisboa Central (CHLC).
Lourenço, que nasceu no dia 7 de Junho no Hospital de São José com a mãe em morte cerebral há 15 semanas, “está clinicamente estável e a sua evolução prossegue favoravelmente”, não necessitando já de cuidados intensivos, adianta o CHLC em comunicado.
Segundo o comunicado, o bebé encontra-se “transferível para os Cuidados Intermédios da Unidade de Neonatologia”. Informa ainda que o bebé está a alimentar-se sem necessidade de soro. Num comunicado divulgado no domingo, o centro hospitalar informava que o bebé estava com 2,210 quilos, tendo aumentado 50 gramas relativamente ao dia anterior.

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