Azougado Serafim das Neves
O Museu Ferroviário em conjunto com a CP realizou uma acção surpresa de charme junto dos seus passageiros no dia 21 de Junho, fazendo-os recuar aos tempos da primeira viagem de comboio entre Lisboa e Carregado que, como sabes, aconteceu há 160 anos e durou mais de quatro horas.
Nesse dia, a partir das cinco da tarde até por volta da meia-noite, os comboios regionais estiveram parados ou a andar devagarinho e foram desligados todos os sistemas de comunicação entre os funcionários da empresa e os passageiros, para que o realismo fosse ainda maior. E não faltaram outros pormenores interessantes para que o recuo no tempo fosse perfeito. Os passageiros colaboraram deitando fumo como as antigas locomotivas e alguns até imitaram na perfeição os silvos que as mesmas soltavam quando passavam à beira das aldeias.
Pelos relatos que me foram feitos o tom geral era de grande animação a bordo dos comboios parados nas linhas e nas estações e apeadeiros, com a algazarra própria das festas populares. Em certos casos houve até tentativa de animar as celebrações com música e só foi pena que, apesar de convidados, muitos revisores, talvez por serem tímidos, se tenham recusado a fazer de bombos da festa.
Tal como tu sou um dos sortudos que conseguiu escapar a receber uma medalha comemorativa do centenário da cidade de Abrantes. Digo sortudos porque quase ninguém escapou. Nem mortos nem recém-nascidos. Mas olha que nem toda a gente tem a mesma fobia que nós temos a ser medalhados. Lembro-me que há uns anos, no Entroncamento, me contaram que um bombeiro tinha alterado a data de admissão na corporação, inscrita no seu processo, para receber mais cedo a medalha que todos recebiam com uns tantos anos de serviço.
E se calhar não foi a única vez que lutou pelo seu direito a ser medalhado. Digo isto tendo em conta que em dias de cerimónias de gala ele se apresenta com a parte da frente do casaco da farda mais enfeitada que a do antigo líder soviético Leónidas Brejnev, um dos mais famosos caça medalhas dos tempos mais recentes.
Mas é injusto falar apenas de cem medalhados em Abrantes. Como te recordas a câmara decidiu dar também uma medalhinha do centenário a todos os bebés que venham a nascer na maternidade do hospital até ao fim do ano e nesta altura ainda só estamos em Junho. Como se costuma dizer até ao lavar dos cestos é vindima e por isso só será possível calcular com exactidão o número de medalhados quando bater a meia-noite do dia 31 de Dezembro. Vais ver que a cidade ainda entra no Livro dos Recordes.
Aproveito para denunciar mais uma vil acção de discriminação de alguns dos nossos presidentes e ex-presidentes de câmara. Falo nisto porque estes casos são recorrentes e dá-me a sensação que há um complot contra os autarcas ribatejanos.
O último caso passou-se ali para o Alentejo. O presidente da Câmara de Estremoz, Luís Mourinha, foi condenado por ter cortado o subsídio a uma associação cujo presidente o criticava regularmente no jornal da terra. Ora, como tu sabes, há pelo menos uma dezena de colegas dele, aqui no Ribatejo, que cortaram a publicidade que era habitualmente colocada em O MIRANTE, por não gostarem de certas notícias ou do penteado de alguns jornalistas e não tiveram direito, nem a ser condenados, nem a serem notícia. É uma injustiça! Uma discriminação do camandro!
Digo-te Serafim, eu estou do lado das nossas vítimas desta inqualificável segregação. E aproveito para te dizer que vou lançar, logo a seguir ao almoço, uma acção de “crowdfunding” para fazer um mural com o nome delas. Camaradas socialistas, António Rodrigues de Torres Novas, Rui Barreiro de Santarém, Rosa do Céu de Alpiarça, Jorge Faria do Entroncamento, Miguel Pombeiro e sucessor de Vila Nova da Barquinha, Anabela Freitas de Tomar, juro por minha honra que cumprirei com lealdade esta nobre missão e que os vossos nomes jamais serão esquecidos.
Saudações justiceiras
Manuel Serra d’Aire