“O meu sonho é um dia poder colorir o centro histórico de Abrantes”
Margarida Gameiro, 49 anos, gerente da Clínica Veterinária de Abrantes. Margarida Gameiro, 49 anos, gerente da Clínica Veterinária de Abrantes, gostava de um dia poder colorir o centro da cidade. Não tem nenhum animal preferido mas odeia cobras. Compreende a existência das touradas mas não gosta de assistir. Já visitou Moscovo (Rússia) e diz que nunca viu tanto carro de luxo em convívio com tanta miséria. Também ficou admirada com o culto da personalidade do presidente Vladimir Putin. Não acha graça nenhuma ao monumento do centenário colocado numa das entradas de Abrantes, da autoria de Charters de Almeida.
O meu pai era engenheiro agrónomo e a família viveu em várias terras. Antes de viver em Abrantes vivi em Constância para onde fomos tinha eu três anos. Sempre gostei muito do campo. Quando andava no liceu escolhi agropecuária que me permitia estar menos tempo fechada numa sala de aulas. Depois tive uma disciplina de zootecnia e decidi que queria ser veterinária. Desde que me lembro que gosto de animais mas confesso que odeio cobras.
Não tenho muito tempo livre mas não me queixo. Contento-me com pouco e não me faz falta nada em especial. Gosto de viver em Abrantes por ser uma cidade pacata e pelas recordações da juventude. Também me dou bem com as pessoas de cá mas acho que falta vida e cor à cidade. Se eu pudesse coloria o centro histórico.
Sou empresária e tenho a perfeita consciência da dificuldade que é abrir e manter um negócio. Falando de negócios, por vezes fico a pensar em certas coisas. Como é que alguém vai comprar umas calças de ganga por cem euros quando as pode comprar por dez. Os centros comerciais ganham ao comércio tradicional por vários motivos e um deles é o horário praticado. Estão sempre disponíveis para os potenciais clientes. Para o comércio tradicional é difícil fazer isso. Este problema não é só de Abrantes.
Abrantes tem alguma programação cultural mas está mal divulgada. Por vezes só sei de certos eventos depois de eles terem acontecido. Como não tenho tempo para andar a pesquisar no Facebook perco algumas coisas. Talvez se houvesse cartazes na cidade eu ficasse melhor informada.
Não considero que Abrantes seja Ribatejo. Também acho que não tem nada de Beira Baixa e muito menos de Alto Alentejo. É uma cidade única. Mistura particularidades das três regiões.
Não gosto da escultura comemorativa do centenário de Abrantes. Acho até que devia ter havido um escrutínio público. Mais valia terem colocado ali naquele sítio uma árvore. Uma oliveira, por exemplo, que sempre era muito mais barata. Já existe na cidade uma obra do Charters de Almeida muito idêntica a esta. Pergunto-me se o autor é de Abrantes. No discurso do centenário, a presidente da câmara, Maria do Céu Albuquerque, citou o autor duas vezes e isso irritou-me. Com o dinheiro que a obra custou eu realizava o meu sonho de colorir o centro de Abrantes.
Tenho primos que são forcados amadores mas actualmente não acho graça às touradas. Custa-me assistir. Compreendo a existência do espectáculo e não sou fundamentalista em relação ao sofrimento dos animais, porque trabalhei vários anos num matadouro. Todos os animais sofrem quando são abatidos e toda a gente come carne. As plantinhas também estão vivas e colheram-se para serem comidas.
Há cerca de seis anos levei os meus filhos a assistir a uma corrida de toiros nas Caldas da Rainha. Eles gostaram mas nunca mais foram a nenhuma. Não tenho nada contra o espectáculo mas também não faço nada para o promover. Quem quer vai e quem não quer não vai.
Nunca saio da clínica antes das nove e meia ou dez da noite. Nos poucos tempos livres que tenho aproveito para ler. Leio jornais regionais e nacionais para me manter minimamente informada. De vez em quando também espreito as capas dos jornais internacionais. Gosto de ler policiais, biografias e livros de história. Sou muito ecléctica na leitura mas não tenho paciência para ler romances. Na televisão gosto de ver séries policiais, principalmente as britânicas. Gostava de aprender a pintar.
Gosto de viajar e no ano passado fui à Rússia com uma amiga. Estive em Moscovo e gostei da riqueza e da grandeza dos monumentos. Mas acho que não vou voltar lá. Nunca vi tantos Porsche e tantos Ferrari como naquela cidade, nem tanta pobreza e miséria. Quando vim tive necessidade de ler um pouco da história da Rússia.
Percebo pouco de política mas acho que os russos não conseguem viver sem um Czar. A maior parte dos souvenirs que se vendiam em Moscovo eram t-shirts com fotografias do Putin. Putin com um cãozinho ao colo; Putin com uma kalashnikov, Putin a andar de barco. Claro que não comprei nenhuma.
No outro dia dei boleia a um amigo do meu filho, que tem 15 anos, e ele disse que não gosta da cidade porque não acontece nada. Para ele é muito chato viver aqui. Claro que ele também não deve fazer nada para que se passe alguma coisa.
Considero que fiz e continuo a fazer a diferença com a minha clínica. Fui empreendedora. Arrisquei e trabalhei muito. Estão nesta clínica vinte e um anos de trabalho. Tive três filhos e por isso superei a média nacional. Já fiz algo por este país.