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Tertúlias ajudam a animar as festas em Vila Franca de Xira

Tertúlias ajudam a animar as festas em Vila Franca de Xira

São locais de convívio criados por amigos, muitas vezes dedicados à festa brava, que também abrem as portas aos visitantes que rumam à cidade durante as festas mais emblemáticas. As tertúlias de Vila Franca de Xirasão uma imagem de marca e existem todo o ano.

O Colete Encarnado é a maior festa de Vila Franca de Xira e durante três dias a cidade celebra a festa brava. Além dos espectáculos e actividades taurinas, são mais de meia centena as tertúlias existentes onde se pode respirar a paixão pela tauromaquia e cultivar o convívio. Espaços criados em casas particulares onde grupos de amigos se juntam em convívio e são muito procuradas pelos visitantes durante as festas.
Na rua do Grémio Artístico há uma mesa comprida com três gerações a almoçar. Parece ser um encontro familiar mas afinal são apenas amigos, com os pais e filhos presentes. No canto da mesa está David Sousa, presidente da tertúlia “Ao Redor do Copo”. O comerciante fundou a tertúlia há 10 anos e desde então o grupo cresceu para cerca de 30 membros. “Costumamos reunir ao fim-de-semana, sentimos que devemos cultivar este espírito de grupo, mas estamos abertos a todas as pessoas, qualquer pessoa nos pode visitar, durante o ano inteiro”, diz o residente de Vila Franca.
Uma das visitas que a tertúlia recebeu este ano foi a dos fadistas vilafranquenses que actuaram no último dia do Colete Encarnado. David Sousa já pertenceu a várias tertúlias e, para ele, ser tertuliano é algo natural. “Quem é de Vila Franca gosta disto”, refere.

Uma espécie de casa-museu
A tertúlia “A Fornalha”, na rua Gomes Freire, é presidida por duas pessoas, Mário Oliveira e o pai Horácio Oliveira. Os dois dirigem uma tertúlia jovem, inaugurada em 2013, mas a decoração da casa mais parece a de um museu consagrado à tauromaquia. “A nossa tertúlia é essencialmente uma casa-museu. O meu avô, António Oliveira, e o meu pai tinham uma frota de camionetas onde transportavam toiros para as corridas. Lidavam com ganadeiros, toureiros, cavaleiros e começaram a ganhar um espólio considerável. Até que decidimos abrir uma tertúlia para mostrar estas peças aos vilafranquenses e turistas”, afirma Mário Oliveira, 29 anos.
A casa onde se situa “A Fornalha”’ tem uma história importante para Vila Franca. Data de 1867 e era a fábrica de bolos onde o pasteleiro Joaquim, dono da Chave D’Ouro, fabricava milhares de pastéis de nata. Lá dentro estão duas cabeças de toiro, uma delas pertencente ao último animal toureado por Rui Bento Vasques em Salamanca.
Mário Oliveira faz também questão de ter a história da cidade exposta na tertúlia. Há várias fotografias da construção da ponte Marechal Carmona e da passagem dos toiros para as largadas através do rio. O jovem diz-se disponível para partilhar algum espólio com a câmara municipal, que prepara a construção de um museu de tauromaquia. “Ainda ninguém nos abordou nesse sentido, mas faz todo o sentido”, disse Mário Oliveira.
Na mesma rua está a tertúlia “O Mata-Cavalos”, criada em homenagem ao falecido campino vilafranquense António Manuel Caetano, que tinha essa alcunha devido à sua imponência física. Foi inaugurada pelos familiares de António Caetano há 10 anos, que acabaram por deixar o espaço. Agora é Leonel Morgado David, esposo da sobrinha do homenageado, que preside à associação. Aberta todo o ano, a tertúlia faz festas de carácter particular para sócios e amigos dos sócios, mas tal como nas restantes tertúlias, tem sempre a porta aberta a quem quiser visitar o espaço.
“Temos sempre os almoços mensais com os sócios e antes do Colete Encarnado, a festa maior no concelho, reunimo-nos para preparar a logística. Mas aqui o que realmente importa é o saber receber os visitantes”, refere Leonel, de 50 anos.
A preparar as festividades, Leonel está encarregado da logística e dos telefonemas. Consigo estão quatro pessoas a descascar batatas para o jantar do Colete Encarnado. Um deles é o amigo Mário Rui, natural de Vila Franca e emigrado em Inglaterra há 35 anos. Vem a Portugal sempre na altura do Colete Encarnado e da Feira de Outubro. Para as tertúlias o Colete acaba por ser mais marcante que a Feira. “Ainda que o evento de Outubro seja de maior duração (cinco dias), o Colete acaba por ter uma tradição mais taurina”, diz Leonel.

“Irmandade” jovem
Afastada do centro da cidade está a tertúlia “Irmandade”, situada no bairro do Padre e marcada pela juventude. Além de ter sido inaugurada em 2013, a maior parte dos membros tem idades entre os 25 e os 30 anos. A excepção é o presidente, Ramiro Valente, 57 anos. “A tertúlia nasceu de uma conjugação de interesses. Eu tinha decidido restaurar esta casa, onde nasci, e estes jovens, que conheço das ruas da cidade e alguns são colegas do meu filho, perguntaram-me se podiam partilhar isto para uma tertúlia, pois estavam cansados de se encontrarem em cafés”, explica Ramiro.
A tertúlia, apesar de decorada com capotes e forquilhas, tem como tema principal o futebol. Os membros, como já estão no mercado de trabalho, têm dificuldade em encontrar dias para se juntar, mas Ramiro revela que uma vez por mês a tertúlia reúne-se.
O sucesso da “Irmandade” acabou por trazer alguns problemas colaterais. Quando os cafés fechavam, a tertúlia era dos poucos locais ainda abertos na cidade. “Vinha muita gente aqui depois do comércio fechar e, claro, acabávamos por ter de aturar algumas chatices. De modos que agora chega a uma certa hora e deixamos de servir seja o que for, até para podermos desfrutar um pouco deste espaço e dos próprios eventos, como o Colete e a Feira de Outubro”, diz o presidente da tertúlia, Ramiro Valente.
O Colete Encarnado 2016 terminou e para uns foram dias de muito trabalho, a assar sardinhas e a receber visitantes. Apesar do outro grande evento da cidade só vir em Outubro, as portas das tertúlias estão sempre abertas, seja para consumir uma sardinha no pão ou para observar a decoração do espaço.

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