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Civilizado Serafim das Neves

Ando pela Serra d’Aire a passear mas não consigo estar completamente descontraído. Volta, meia volta, ponho-me a pensar que um dia destes vai haver um movimento nas redes sociais a defender o alcatroamento dos trilhos pedonais para evitar que passeantes incautos, como eu, torçam os pés nas irregularidades destes carreiros. E a seguir pode haver outro movimento a pedir um revestimento especial do cimento para os coelhos não escorregarem quando passam naqueles locais a correr estouvadamente, como é próprio deles.

Tu podes pensar que eu estou a brincar mas não estou. Se alcatroar carreiros de montanha der votos há-de haver quem prepare candidaturas a fundos comunitários para a regeneração montanheira. Eu já vivi o suficiente para saber destas coisas.
O facto de ir sempre a olhar para o chão para não pisar nenhuma planta rara nem nenhum carreiro de formigas, actos que me transformariam num assassino da natureza, faz com que não veja com a devida atenção as paisagens mas para isso já arranjei solução, prendi uma mini câmara de filmar à cabeça e depois vejo o filme em casa. Este truque aprendi-o nos concertos onde por vezes sentia que era o único que não estava a filmar com o telemóvel para colocar no facebook ou no youtube.
Tenho aproveitado estas mini-férias para ir a alguns dos restaurantes recomendados por especialistas que escrevem em revistas e jornais. Infelizmente não tenho tido sorte. Uns já foram à falência e nem sequer esperaram por mim. Outros baixaram o nível para a febra com batatas fritas porque a culinária de autor foi só para o dia da publireportagem ou do publiprograma de televisão.
Se não sabes o que quer dizer publi eu explico. É o nick name (diminutivo) de publicidade. É a grande moda do momento agora que a reportagem foi declarada extinta. Há publireportagens em festivais de verão, em festivais de aldeia, em congressos e conferências, etc, etc, etc...e até nas guerras já há publireportagens patrocinadas pelo lado que tem orçamento próprio para um noticiário simpático e com aspecto credível ou por alguma empresa de fornecimento de armamento e de mão de obra.
Esta coisa da publireportagem apareceu quando certas organizações e protagonistas descobriram que deixar jornalistas à solta era como permitir a entrada de elefantes em armazéns da Vista Alegre.
Descobri um dia destes que o velho método de mandar foguetes para anunciar as festas está para durar . E não é só nas aldeias. É também nas cidades. E olha que não se trata de foguetes tecnologicamente avançados. São mesmo daqueles que rebentam com a mão de qualquer um que se distraia com aquilo. É cada bomba que até o meu cão uiva.
Espero que a moda do foguetório para assinalar grandes momentos não renasça em toda a sua plenitude para não ficarmos todos surdos lá para o fim do ano ou princípio do próximo quando começarem a ser anunciadas as obras que vão ser comparticipadas pelos fundos comunitários do Portugal 2020.
Digo isto porque, não tendo havido até agora grandes novidades, elas devem estar guardadas para coincidirem com as eleições autárquicas de 2017. Afinal, campanhas eleitorais sem anúncio de obras ou com obras a decorrer, não são campanhas eleitorais nem são nada.
E se ouvires dizer que este ano há menos dinheiro para projectos autárquicos não acredites. Trata-se apenas do choradinho habitual de quem sabe que “Quem não chora não mama!”. Um dia destes ainda vou ver as construções da areia com uma daquelas placas que dizem: “Obra comparticipada ao abrigo do QREN”...com estrelinhas e tudo.
Saudações imperiais
Manuel Serra d’Aire

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