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Começou a lidar com o gado bravo em criança e nunca mais parou

Começou a lidar com o gado bravo em criança e nunca mais parou

Joaquim Silva foi o campino homenageado na Festa da Amizade e da Sardinha Assada em Benavente. O campino, que hoje é também tractorista, destaca a ajuda dos seus pais e irmãos na aprendizagem da arte da campinagem. Filho do antigo ganadeiro José Manuel da Úrsula, já falecido, critica os adversários das touradas e apela à união na defesa da festa brava.

Foi com surpresa que o campino homenageado este ano na Festa da Amizade e da Sardinha Assada em Benavente recebeu o convite dos seus pares. Joaquim Silva tem 51 anos e não estava à espera da designação porque, diz, geralmente os campinos homenageados têm mais idade. “Mas estou muito grato para com os meus colegas e pela comissão”, confessa.
Nascido na herdade Monte da Formiga, em Samora Correia, onde os seus pais trabalhavam, Joaquim é o terceiro de quatro filhos. Após fazer a quarta classe em Santo Estêvão, Joaquim começou a lidar com os bezerros juntamente com os irmãos. Pelos 11 anos as responsabilidades aumentaram, pois os pais e os irmãos mais velhos eram solicitados para ajudar outras casas agrícolas. “Coube-me tomar conta das vacas, novilhos, bezerros e tudo o que havia: tinha de estar ao lado dos animais e quando estavam bem ia a correr para o monte adiantar trabalho, para quando eles chegassem à noite não ter mais para fazer”, refere.
A humildade e o “saber ouvir” foram as ferramentas de aprendizagem deste campino, que sublinha várias vezes a ajuda e os conselhos dados pelos pais e irmãos. Houve fases com muito trabalho, com várias corridas de toiros pelo país: “houve um ano em que fizemos quase 40 corridas com os cabrestos do meu pai e eu só chegava às três ou quatro da manhã a casa, o que fez com que estivesse pouco tempo com os meus filhos. A minha esposa (Fátima David) foi muito importante e não foi fácil para ela”, conta.

“O meu pai não queria ser ganadeiro”
A ganadaria Manuel José da Úrsula (seu pai), como revela o campino, nasceu por acaso. “O meu pai nunca quis ser ganadeiro, mas como gostava muito dos animais comprou seis vacas só para as ter. Na altura achou que eram poucas e passou a ter dez. Depois, um macho e às tantas estava com 60 vacas porque algumas casas sabiam que ele as tratava bem e ele não se recusava a comprá-las”, conta, destacando a ligação com outras casas, como a de David Ribeiro Telles.
Entre 1998 e 2005 a ganadaria Manuel José da Úrsula esteve também na Ota, concelho de Alenquer, na Herdade do Pombal, mas as dificuldades surgiram e a ganadaria terminou pouco depois quando regressaram ao concelho de Benavente. “Deixámos de ter condições para uma ganadaria, com rendas muito caras para manter as herdades, e tivemos que desistir. A campinagem e as corridas já não ofereciam as melhores condições financeiras”, desabafa.
Actualmente Joaquim e os seus irmãos, António, José e Gabriel, têm uma quinta em Santo Estêvão, Manuel Silva e Herdeiros, com cavalos que não toureiam e cabrestos, para além de continuarem a ajudar outras casas. E há quatro anos que Joaquim é tractorista na Companhia das Lezírias para poder sustentar a família.
Ao longo da vida no campo, os poucos sustos que apanhou serviram sempre de lição. No campo já teve que atirar uma saca de farinha contra um novilho para este não o colher e em picarias chegou a cair de uma égua em Salvaterra de Magos, mas sem grandes problemas. “Depois tem de se ter humildade para saber ouvir, ver e corrigir os erros”, reconhece.
Com o tema na agenda política, o campino dá dois exemplos de como os que são contra a tauromaquia desconhecem a realidade: “Não sabem como é um comportamento de um animal no campo e os que dizem que os animais deveriam ter mais espaço durante o transporte não percebem que quanto mais espaço mais eles se agridem. Mas claro que devem haver condições, atenção!”, ressalva.
“Mas eles não são contra as touradas, são contra todos os espectáculos com animais, circos e tudo. Se as pessoas não se unirem, isto acaba. As pessoas das touradas, dos circos e da caça têm de se juntar. Temos de nos unir e ver quais são as melhores maneiras de defender a festa e a cultura”, apela Joaquim. “Se isto acabar, pára muita coisa e muita gente vai para o desemprego”, conclui.

Hoje é mais difícil aprender a ser campino

Joaquim Silva é casado há 26 anos e tem três filhos: Francisco com 26 anos, Ana Maria com 24 e Madalena com 14. Elas não se interessam e o rapaz já entrou nesse mundo, apesar de estudar na Escola Superior Agrária de Santarém.
Durante a conversa com O MIRANTE,
o filho de Joaquim esteve presente e não deixou de sublinhar o trabalho que já fez ao lado do pai, nas praças de toiros, a fechar gado e nas recolhas e entradas de toiros nas largadas. No entanto, Francisco sublinhou que a ajuda tem sido esporádica e só quando o pai e os tios têm muito trabalho, porque por enquanto não tem o tempo necessário para se dedicar a essa actividade.
“Ele teve uma sorte que eu não tive: já trabalhou comigo e eu nunca cheguei a fazer uma corrida de toiros com o meu pai. Acho que o único que teve essa sorte foi o meu irmão mais velho, o António”, lamenta Joaquim Silva recordando Manuel José da Úrsula que faleceu em 2003.
“Hoje tornou-se mais difícil ser campino. Antes a escola não ocupava o tempo todo. Antigamente não havia vedações, tínhamos de estar perto dos animais e as deslocações entre herdades eram feitas a pé com os mais novos a acompanhar e a aprender. Hoje eles só têm os fins-de-semana e as feiras, não chegam a tomar aquele gosto e é difícil aprender a profissão mesmo que queiram. Requer muito tempo”, lamenta.

Começou a lidar com o gado bravo em criança e nunca mais parou

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