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“Não suporto políticos que se servem dos cargos para subir na vida”

“Não suporto políticos que se servem dos cargos para subir na vida”

António Rodrigues Torrão, 56 anos, presidente da Junta de Freguesia de Aveiras de Cima, Azambuja. Nasceu e ainda vive em Aveiras de Cima. Não se considera político mas antes um autarca de proximidade, que continua a frequentar os mesmos locais que frequentava antes de ser presidente da junta. Diz que nasceu pobre e assim espera morrer, apesar de se considerar rico em espírito. No Verão gosta de estar na esplanada e provar uns petiscos. Homem sem tempo para ver televisão, diz que um dia gostava de visitar Cuba.

Nasci pobre, continuo pobre e espero manter-me pobre, mas rico de espírito. Não me considero um político, considero-me um autarca de proximidade, não penso noutros voos. Há autarcas que vêm para se servir dos lugares e subir na vida e há aqueles que vêm para servir as pessoas. Sou totalmente contra as pessoas que vêm para a política para se servir dos cargos que ocupam. Considero-me um simples cidadão, sou o Torrão munícipe e presidente. Não deixei de fazer a minha vida de sempre na terra onde moro por ser presidente.
Guardo boas memórias da minha infância em Aveiras de Cima. Crescer aqui naquele tempo não foi fácil. Aveiras hoje não tem nada a ver com aquela época. Foi um sítio saudável, brincávamos na rua e todos se conheciam. Vou defender sempre a minha freguesia enquanto puder. Quando vou ao supermercado costumo dizer que despacho também quatro ou cinco consultas a pessoas que me abordam e alertam para problemas que estão por resolver. Eu ouço sempre tudo com atenção mas às vezes é tanta coisa que não me consigo lembrar de tudo. Costumo pedir às pessoas para passarem na junta e podermos apontar.
Não sou daqueles políticos que só vão a funerais em ano de eleições. Eu vou sempre. Mas não quero que muita gente vá ao meu funeral, não quero ser cremado nem quero que espalhem as cinzas sobre Aveiras para infernizar a vida a algumas pessoas (risos). Não sou político de ocasião. Estou a meio tempo na junta e não consigo viver só disto. Sempre estive ligado à construção civil, já tive duas empresas e é lá que continuo a trabalhar.
Não esperava uma votação tão maciça nas últimas eleições. Tivemos uma votação de mais de 70 por cento. Ficámos com uma responsabilidade maior também. Temos de fazer mais. Se as pessoas acreditaram temos de mostrar mais serviço. Não nos deitamos à sombra da bananeira. Enquanto não terminar o mandato nada está ganho. Não fiz ainda tudo o que queria. Não por não termos ideias, mas sim pelo factor económico. As juntas têm cada vez menos dinheiro. Se houvesse mais descentralização de meios financeiros para as juntas, em vez de serem colocados nas câmaras, conseguiríamos fazer mais obra. Nem sempre o município faz de nós uma prioridade política.
Não vejo Aveiras de Cima novamente como concelho. Acho que a sede de concelho está bem em Azambuja. Mas gostava de ter mais apoio do município enquanto segunda maior freguesia do concelho. Devíamos ter mais investimento, face ao que a nossa freguesia dá ao concelho. Recebemos 1 por cento do IMI da freguesia, o que dá 8 mil euros por ano, em mais de 800 mil que pagamos.
Não tenho muitos tempos livres mas gosto de estar na esplanada no Verão a comer uns caracóis. Não tenho dinheiro para camarão (risos). Gosto muito de petiscos. Vejo pouca televisão e não ajudo mais a mulher na cozinha porque não tenho mesmo tempo para isso. Fui árbitro de futebol durante 13 anos e tinha actividade regular de desporto, fiz atletismo muitos anos. Mas hoje em dia ando pouco a pé. Sou uma pessoa que não tem um passatempo que diga que me dá gosto fazer.
Conversar com os outros é algo que me dá prazer. Costumo ir ao café depois de jantar e vou a qualquer café, tanto vou ao café dos novos, ao dos velhos ou à taberna. O melhor que levamos da vida é falarmos e conversarmos uns com os outros. Aprendemos sempre alguma coisa quando falamos e nunca ninguém sabe tudo. Quando menos esperamos alguém nos diz algo inesperado. É nas vivências de vida dos outros que vamos buscar alguma coisa. De há 20 anos para cá que as pessoas deixaram de falar umas com as outras, fecharam-se em casa. É um engano tremendo, temos necessidade de falar uns com os outros.
Antes de morrer gostava de visitar Cuba. Acho-os muito parecidos connosco e sempre tive um fascínio pela maneira de ser dos cubanos. Não ligo a bens materiais nem tenho um Mercedes à porta. Moro na mesma casinha onde criei os filhos, que hoje já são adultos. O tempo que vamos cá passar vivos é tão curto que não vale a pena criar grandes ilusões. Quando morremos vamos deitados e num carro com bandeirinhas à frente. Esta ideia de grandeza, estar por cima dos outros, é um erro. O ideal é viver o dia a dia e as coisas simples.

“Não suporto políticos que se servem dos cargos para subir na vida”

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