Nada pára a tradição em Riachos
Faça chuva ou faça sol não há nada que afaste os riachenses do cortejo da Bênção do Gado. De quatro em quatro anos a comunidade exibe com orgulho as suas raízes e tradições ligadas ao campo e à agricultura.
A história voltou a repetir-se ao fim de quatro anos em Riachos com a realização do cortejo da Bênção do Gado, ponto alto de uma festa que durou 10 dias e que só regressa em 2020. Foram meia centena de representações que desfilaram pela rua principal da vila do concelho de Torres Novas, desde populares com trajes típicos, agricultores com os seus animais ou máquinas agrícolas e associações da terra.
O tempo estava quente, mas não sufocante como no fim-de-semana anterior. Uma pequena brisa ajudava a aliviar o calor a quem envergava os trajes típicos durante o percurso de cerca de 2 quilómetros. “É um bocado complicado e com este calor torna-se desagradável”, conta Pedro Pereira que ia no cortejo a representar o Rancho Folclórico Os Camponeses de Riachos.
Maria Emília Ferreira desvaloriza a questão das características da indumentária e da sua adequação a esta época do ano: “São muito quentes mas já estamos habituados, andamos toda a vida assim vestidos”. Esta riachense com 64 anos de idade trabalhou no campo dos 18 aos 35: “Ficávamos encharcados mas era normal, nós andávamos assim vestidos, não podíamos andar a regar milho de mangas curtas”. É com muita alegria que volta a participar no cortejo, depois de alguns anos ausente. “É um retrato da vida do campo e eu fui do campo toda a vida”, refere.
Mesmo assim há quem consiga vestir algo mais fresco, como Luís Gomes que não falha uma iniciativa destas e que vem representar o Casal dos Sobreiros. Riachense de gema diz com orgulho que o fato até é fresco, “mas temos de ir a molhar a goela todo o caminho”. Com ele trouxe o burro Sebastião e uma cabra no atrelado.
A temperatura ronda os 30 graus e pelo percurso há quem recorra à cerveja, à água ou à fruta fresca que vai sendo distribuída durante o percurso do cortejo e que ajuda a refrescar. A Rua Principal encheu-se de gente da terra e de fora para ver o cortejo. Foi o caso de Clotilde Sentieiro, que veio de Vila do Paço assistir ao cortejo. “Tudo o que seja tradição, usos e costumes a Clotilde está presente”, conta.
Pedro Pereira, de Riachos, resume porque é que naqueles dias um riachense que se preze não pode ficar em casa. “É uma festa e nós temos de aderir às festas”, diz o entusiasta confesso das tradições da terra.