Atleta olímpico da marcha não esquece Azambuja
Pedro Isidro tinha problemas de concentração em adolescente que superou com o desporto
Pedro Isidro é um dos 93 atletas portugueses a participar nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. O ribatejano compete nos 50 quilómetros de marcha. Em conversa com O MIRANTE o atleta afirma manter uma ligação muito forte à Azambuja, apesar de ter deixado a terra aos 12 anos, quando foi viver para Lisboa.
“A minha infância teve momentos muito bons. Tenho boas recordações de Aveiras de Baixo, onde ainda mantenho muito contacto. Ainda estes dias o presidente da junta, Carlos Miguel Valada, fez questão de vir a minha casa para me desejar boa sorte”, conta o atleta, de 31 anos, que admite que nos últimos anos as visitas ao concelho de Azambuja têm sido mais esporádicas, sobretudo no Natal, para estar com a família, e durante a Feira da Azambuja.
A infância de Pedro Isidro nem sempre foi fácil, na escola teve graves problemas de aprendizagem, não se conseguia concentrar nos estudos e uma psicóloga identificou a situação como deficiência intelectual. Condição que o designa até hoje, apesar de já ter ultrapassado todas essas dificuldades. “Eu digo que deficientes somos todos, uns mais que outros. Mas o desporto ajudou-me muito. Incutiu-me uma disciplina que me proporcionou ultrapassar essa dificuldade em concentrar-me”, indica.
Pedro Isidro largou o Ribatejo quando o pai, guarda prisional em Alcoentre, foi chamado para prestar serviço em Caxias. Foi também nessa altura que começou a olhar para o desporto de outra forma. No Centro de Treinos do Jamor começou a ter melhores resultados desportivos. O Benfica abriu a bolsa a subsídios que têm sido a fonte de rendimento do atleta, além de apoios da federação, que variam dependendo do ano de competição.
O atleta benfiquista está neste momento focado apenas no atletismo. No entanto, Pedro Isidro faz, de vez em quando, pequenos ‘trabalhos na área da serralharia. “Tirei um curso técnico de serralharia. Na altura fiz as férias de um colega que estava em estágio numa empresa em Odivelas. O patrão achou que tinha habilidade e contratou-me. Na altura da crise (2008) a empresa abriu falência mas continuei a fazer alguns trabalhos”, refere.
Atleta consegue viver do desporto
Apesar dos trabalhos de serralharia, Pedro Isidro consegue viver do atletismo. Ainda assim o marchador diz que estes subsídios dependem sempre da prestação. “É possível viver com um salário desportivo mas também é necessário que o atleta tenha qualidade. O atletismo é um emprego quase provisório. Hoje tens, amanhã já não. Quando se começa a perder rendimento ou a entrar na pré-reforma os subsídios acabam”, afirma.
Isidro estaria na pré-reforma se fosse futebolista. No caso do atletismo a meta para Pedro passa pelos 40 anos, pelo menos, no que toca à alta-competição. “O João Vieira (marchador residente em Rio Maior) tem 40 anos e ainda continua em competição. Depois da marcha não sei o que fazer mas vejo-me a trabalhar com uma marca desportiva”, indica.
Pedro Isidro compete pela segunda vez nos Jogos Olímpicos. Em Londres (2012) ficou-se pelo quadragésimo lugar. Este ano aponta ficar nos 20 primeiros. Uma confiança que parte do “trabalho realizado nos últimos quatro anos”. Pedro afirma que o pódio é impossível de alcançar pois os melhores atletas “conseguem tempos com menos quinze minutos que o recorde pessoal de Isidro (três horas e 58 minutos) “.
Na comitiva portuguesa para os jogos do Rio há vários atletas que seguem rituais. Gustavo Lima (vela) não faz a barba durante a competição e Sara Moreira (Maratona) usa os mesmos elásticos de cabelo. Já Pedro afirma que não tem nenhum ritual. “Não me lembro de nenhum complexo. Sei que durante a prova evito olhar para o relógio e concentro-me em seguir em frente.