Defesa das tradições é ainda mais importante num mundo globalizado
Dora Coutinho é presidente da Associação que organiza as festas da cidade. A preservação da identidade de Samora Correia e das suas tradições, tanto no dia-a-dia como através da realização das festas e de outros eventos ganha uma relevância acrescida num tempo de uniformização global a todos os níveis.
As festas de Nossa Senhora de Guadalupe e de Nossa Senhora da Oliveira, que se iniciam quinta-feira, dia 18, são um espaço de convívio e partilha e uma manifestação cultural de extrema importância para a afirmação da identidade própria daquela cidade ribatejana. Durante os cinco dias realizam-se inúmeras actividades em que os cidadãos se revêem e que remetem para as suas raízes.
Dora Coutinho, presidente da comissão administrativa que está à frente da ARCAS (Associação Recreativa e Cultural Amigos de Samora), entidade organizadora das festas desde finais da década de 80, tem consciência que o que vai acontecer durante os cinco dias de inúmeras actividades, é uma forma eficaz de cimentar a comunidade e de preservar referências, principalmente para os mais novos.
“Nesta altura somos cidadãos do mundo mas o facto de sermos cidadãos do mundo não significa que não tenhamos as nossas próprias raízes. Em Samora Correia estão concentradas a maior parte das coudelarias do concelho. Somos uma cidade que não rejeita os novos tempos e que aceita a modernidade mas que sempre esteve e vai continuar a estar ligada à vida do campo”, refere.
Mas as festas e outras realizações populares em que Samora Correia é fértil não são impostas por nenhum poder. Elas resultam de um querer colectivo que se reforça de ano para ano à medida que a massificação cultural avança, impondo os mesmos gostos e actividades em latitudes diferentes, pondo em perigo costumes e tradições em nome de uma ilusória igualdade.
“É difícil arranjar dinheiro para pagar uma festa que custa cerca de 50 mil euros mas sabemos que vamos ultrapassar esse problema graças à nossa unidade e vontade. A população está mobilizada. Somos cerca de 150 voluntários a trabalhar por carolice. Há pessoas de várias gerações a trabalhar lado a lado. Apesar de a crise ter abalado o comércio, este sempre apoiou e continua a patrocinar a festa”, explica.
Como é normal numa festa de grande dimensão há sempre imprevistos e Dora recorda um episódio caricato que marcou uma das recentes edições. “Há cerca de três anos o campino homenageado (Maximiano de Jesus Moreira) foi ao refeitório almoçar com a organização da festa. Depois do almoço, quando chegou a altura da homenagem, o campino não aparecia. Quando fomos à sua procura ele estava no refeitório. Como saímos e ninguém lhe disse nada ele estava à nossa espera”, lembra Dora Coutinho.
Dora Coutinho fez-se sócia da ARCAS no ano da fundação da Associação, em 1986. Na altura eram as colectividades que davam movimento às terras e ela não quis perder uma oportunidade de conhecer outras pessoas e de fazer algo diferente e em prol da terra. Acabou por chegar à direcção. Agora aguarda pelas eleições que estão agendadas para Setembro. Apesar da satisfação que lhe deu presidir à colectividade, não se vai recandidatar ao próximo mandato porque os estatutos não o permitem. A dirigente frisa que o empenho das pessoas na preparação do evento e a alegria dos populares na festa lhe dão um imenso orgulho.
Casada com o presidente da Câmara Municipal de Benavente, Carlos Coutinho, tem três filhas. Trabalhou num escritório de arquitectura em Lisboa mas deixou o emprego para se focar na educação das crianças, uma decisão que não se arrepende de ter tomado. “Sinto-me muito realizada. As minhas filhas são o meu maior orgulho. Na altura eu e o meu marido julgámos que era a melhor decisão e hoje voltava a tomar a mesma opção”, afirma.