As mulheres têm de se esforçar muito mais para conquistarem o mesmo que os homens
Célia Ramalho, vereadora na Câmara de Coruche, sente-se bem na política de proximidade. Célia Ramalho é vereadora na Câmara Municipal de Coruche há seis anos quando aceitou o convite para integrar as listas do PS às eleições autárquicas em 2009. Nesta segunda parte da entrevista a O MIRANTE confessa que faz o que gosta.
Prefere fazer política de proximidade e por isso não se imagina no papel de deputada na Assembleia da República. Não tem a ambição de um dia vir a ser presidente de câmara mas não sabe o dia de amanhã. “Há 20 anos também não me imaginava no papel de vereadora”. Considera que uma mulher nunca está em igualdade de circunstâncias com um homem e que as mulheres têm que se esforçar muito mais para conquistar o mesmo que os homens. Tem dois filhos e garante que é por eles que tem esperança todos os dias.
Como é que uma mulher se pode diferenciar na política? Tanto o homem como a mulher, em qualquer área, devem ser autênticos. Se formos nós próprios, os outros percebem. Quando fazemos as coisas de coração, quando somos autênticos, as pessoas percebem.
Nunca notou que, por ser mulher, teve que trabalhar mais para conseguir chegar onde chegou? Não é só na política que isso acontece. Enquanto mulheres temos que nos esforçar o dobro. Quando somos candidatas a alguma coisa nunca estamos em igualdade de circunstâncias. Alteramos algumas coisas na esfera pública e profissional mas na esfera doméstica há questões que continuam a ser muito difíceis para as mulheres que acabam por trabalhar muito mais horas, porque têm que conciliar o trabalho profissional com as tarefas domésticas. Mas isto também significa que a mulher tem uma grande capacidade para fazer e há um grande potencial de crescimento por parte das mulheres.
Já pensou ser deputada? Gosto mais do trabalho de campo, ir para a rua e trabalhar com as comunidades. Faço aquilo que gosto. O deputado trabalha muito com grupos de especialistas em determinadas áreas que tomam decisões, que depois não vivem com a consequência das decisões, olhando nos olhos as pessoas. Pessoalmente, prefiro esta política de proximidade que não é possível fazer sendo deputada.
Gostava de um dia ser presidente de câmara? Neste momento não me vejo nesse cargo mas não sei onde estarei no futuro porque há 20 anos também não pensava estar aqui como vereadora. Identifico-me com a política autárquica, gosto de fazer coisas que façam a diferença.
Entusiasma-me poder participar no desenvolvimento do concelho de Coruche
Como é que entrou na política? Fui convidada para integrar a lista do último mandato do presidente Dionísio Mendes, em 2009. Na altura, era coordenadora do Centro Local de Aprendizagem da Universidade Aberta, onde sempre existiu uma grande colaboração com a câmara municipal. Sempre segui de perto o projecto autárquico do Partido Socialista em Coruche. São pessoas com as quais me identifico desde sempre. Fui convidada para integrar a lista socialista e aceitei sem pestanejar.
A vida autárquica era uma ambição? Nunca me imaginei na vida autárquica da maneira como exerço hoje. No entanto, em pequena e na juventude já pensava que gostava de poder mudar coisas na minha terra e poder fazer alguma coisa pelo meu concelho. Tenho a possibilidade de estar inserida numa equipa e poder contribuir e decidir coisas estratégicas para o desenvolvimento da nossa terra. Esse é o grande desafio da vida autárquica.
Apaixonou-se por esta área? Apaixonei-me pela vida de autarca e pela gestão autarca. Não me custa trabalhar todos os dias porque gosto muito do que faço. A semana não custa a passar quando se faz o que se gosta. É por Coruche que sofro e por Coruche que trabalho todos os dias com a máxima dedicação.
O que é que mais a entusiasma no cargo de vereadora? Poder participar na mudança do nosso concelho. E participar com os restantes elementos do executivo na luta para trazermos alguma notoriedade ao concelho. E conseguirmos que percebam que há desenvolvimento naquilo que fazemos e que as acções que, em determinada altura, planeamos e conseguimos executar fazem a diferença na vida das pessoas, dos nossos conterrâneos.
O Sorraia é o seu ponto de equilíbrio”
Célia Ramalho nasceu a 10 de Maio de 1968 em Coruche. Trabalhou durante muitos anos na área do Planeamento e Controlo de Gestão numa empresa privada. Tirou a licenciatura em Gestão de Recursos Humanos quando já tinha um filho com dois anos. Foi trabalhadora/estudante e diz que com organização tudo se consegue. “Sai-nos do corpo. Muitas vezes estuda-se durante a noite e dorme-se pouco. Mas quando temos maturidade e somos nós a querer uma coisa, a gestão do tempo é muito importante e valorizamo-lo de outra maneira, gerimos melhor as coisas”, afirma a O MIRANTE. Tem dois filhos, um com 23 e outro com 13 anos. Diz que é por eles que faz tudo. “Tenho dois filhos únicos. É por eles que todos os dias tenho esperança. Lá em casa, muitas vezes sou eu que pareço a filha. Eles estão sossegados a fazer as coisas deles e eu vou para a cozinha e ponho a música alta. Eles começam logo a reclamar”, conta entre risos, confessando ser mais descontraída em casa.
Não dispensa as aulas de zumba para aliviar o stress do dia-a-dia ou as caminhadas ao domingo de manhã à volta do rio. “O Sorraia é o meu ponto de evasão e o meu equilíbrio. Se ao domingo de manhã não for caminhar à volta daquele rio azul, que por vezes se confunde com a cor do céu, a semana já não começa da melhor maneira”, garante. Também gosta de assistir a concertos mas sobretudo adora rir. “O mais importante na vida é estarmos bem connosco e rir muito”, considera.
É vereadora na Câmara de Coruche há seis anos depois de ter sido convidada a integrar a lista do último mandato de Dionísio Mendes, em 2009. Confessa que aceitou o convite “sem pestanejar”. Nasceu e cresceu em Coruche e os seus pais sempre tiveram negócios no concelho. Era uma figura conhecida quando chegou à câmara municipal. Confessa ser abordada pela população, que lhe pede ajuda para resolver os seus problemas. Algo que encara com naturalidade. “Essa é a grande diferença entre ser autarca num município pequeno e numa grande zona urbana. O nosso desafio passa também por conviver com a consequência das nossas decisões todos os dias, olhos nos olhos com as pessoas”, realça.
Nunca tira férias antes das Festas em Honra de Nossa Senhora do Castelo porque, admite, esta é uma altura de muita responsabilidade e tem que estar tudo pronto e nada pode falhar nestes dias.