Os pagadores de promessas e os transportadores dos andores
Momentos de forte intensidade religiosa e de grandes manifestações de fé
A procissão em honra de Nossa Senhora de Guadalupe e de Nossa Senhora da Oliveira, é um dos momentos mais esperados pelas gentes de Samora Correia e pelos visitantes. Para além do acompanhamento musical da banda de música há a particularidade dos pagadores de promessas, pessoas que acreditam que a fé move montanhas e que ali vão com toda a devoção. São pessoas de todas as idades. Levam velas, ramos de flores, fotografias de entes queridos e alguns objectos pessoais. Alguns optam por fazer o percurso descalços ou de joelhos. A alma está ao alto e pedem ajuda ao divino para lhes dar força para enfrentar os problemas da vida.
“O meu marido está muito mal e os médicos não acreditam que vá conseguir viver mais tempo”; “A minha vida estava um caos e a fé salvou-me. Todas as pessoas deviam experimentar rezar. Não me importa o que as pessoas pensem, desde que eu esteja em sintonia com Nossa Senhora”; “Vim pedir a Nossa Senhora que me ajude, porque estou desempregada, tenho dois filhos e a vida não está nada fácil” são algumas explicações que se ouvem. Os pedidos variam, as histórias variam e a emoção cresce a cada passo. Na recta final da procissão os populares batem palmas e os pagadores de promessas despedem-se da sua santa. “Por favor, não me ignores!”, é uma das frases que mais se ouve dirigida à santa da devoção de quem a diz.
Cada um dos participantes manifesta a sua fé da maneira que considera ser apropriada. Ajudar a transportar um andor na denominada é uma tarefa da predilecção de muitos devotos. Algumas pessoas têm uma longa história de ajudar a levar os andores com as imagens sagradas. Há andores que pesam mais de cem quilos como acontece com os de Nossa Senhora da Oliveira e de Nossa Senhora de Guadalupe. Há histórias antigas que se contam como a daquela senhora que seguia de joelhos por baixo do andor da santa da sua devoção e que, por estar a atrasar o cortejo teve que ser convidada a sair, com grande diplomacia e a máxima compreensão pelo seu sacrifício e pela sua inabalável fé.
O MIRANTE já acompanhou várias procissões ao longo de vários anos. Tradicionalmente, na Quinta-feira são levadas para a Igreja Matriz as imagens de Nossa Senhora de Guadalupe que vem do Porto Alto, do Senhor dos Passos que vem da Igreja da Misericórdia e de S. João Baptista que é trazida da Capela dos Arados. No Domingo, antes da procissão de todas as imagens, entra na Igreja, vinda da ermida situada na Lezíria, a padroeira dos campinos, Nossa Senhora de Alcamé. O andor mais disputado é o da padroeira. Todos o querem transportar. Mas nunca há falta de voluntários para pegar aos outros andores. Normalmente os lugares para pegar nos andores são atribuídos com um ano de antecedência. A procissão de domingo, ponto alto das cerimónias religiosas, Integra 16 andores. O percurso é difícil e moroso. Sai da igreja matriz, segue pela rua principal, passa pelo largo do Calvário - onde a dificuldade se acentua pela areia colocada para as picarias - pelo jardim do coreto e volta à igreja. No último dia das festas as imagens que vieram de outras igrejas e capelas para a grande procissão voltam aos seus locais habituais.