Os clientes querem tudo para ontem e as mulheres são mais picuinhas
José Luís Justino é colaborador da Carpintaria Mário em Vale de Cavalos, Chamusca. Começou a trabalhar com a madeira aos 12 anos e disso fez vida, apesar de ainda ter concorrido para oficial de justiça.
Diz que as mulheres são mais exigentes como clientes e que os arquitectos é que fazem as modas. Adora o rio Tejo e ao domingo pega na canoa e vai com amigos almoçar pelas ilhas do rio.
Aos 12 anos começou a aprender a arte de trabalhar a madeira com o seu primo que era dono da Carpintaria Mário em Vale de Cavalos, concelho da Chamusca. Enquanto os outros iam para a vindima ou apanhar tomate à caixa, José Luís Justino ia para a oficina que ficava mesmo ao lado da sua casa.
Concluiu o 12º ano em Almeirim e decidiu que não queria estudar mais. A partir desse momento decidiu dedicar-se em exclusivo à carpintaria “porque já tinha um bom ordenado”. Mas a mãe não gostava. Preferia que o filho tirasse um curso. Não o gostava de ver andar todo sujo e cheio de pó.
Houve uma altura que José Luís pensou melhor na sua vida e na vontade da sua mãe. Abriu um concurso para oficial de justiça em Santarém e concorreu. “Fui chamado logo para fazer o estágio mas o ordenado era muito inferior ao que já ganhava na altura e como casei nesse ano e a minha mulher já estava grávida, pensei nos compromissos financeiros que já tinha assumido e decidi-me pela carpintaria”.
Foi o único momento em que José Luís pensou duas vezes. “Eu gosto é disto apesar de andar todo sujo e ao sol. Dá-me um enorme orgulho olhar para os trabalhos e pensar que fui eu a fazê-los”. Hoje em dia as preocupações da mãe já são outras. “Ó filho não trabalhes tanto”, conta o carpinteiro a sorrir, citando a mãe.
A Carpintaria Mário trabalha com vários clientes. Com empreiteiros, com arquitectos e com clientes particulares, mas estes são cada vez em menor número. “Antigamente uma pessoa que precisasse de uma simples prateleira vinha ao carpinteiro, hoje basta ir a uma grande superfície”. Diz que há diferenças entre os clientes homens e mulheres. “As mulheres são mais picuinhas. Aos homens consegue-se explicar e eles compreendem. As mulheres são mais exigentes e vão mesmo ao pormenor”, conta.
Há grandes diferenças entre carpintaria antiga e a de agora. Hoje o problema são os prazos. “As pessoas querem tudo para ontem. Hoje em dia tem que se fazer rápido e bem. Antigamente havia mais tempo para tudo. Se não fosse naquela semana era na outra, não havia tanta pressão como a que existe hoje”.
Mas actualmente também existe maquinaria que ajuda a executar o trabalho mais rapidamente. Existem também materiais novos para trabalhar. “Antigamente era mesmo madeira, hoje já existem materiais derivados da madeira e com muita qualidade e maior durabilidade. São os arquitectos que fazem as modas e os materiais a ser utilizados e as pessoas vão atrás”. José Luís Justino vai-se actualizando e tirando formações e indo a feiras do ramo. “A maior e mais importante feira do país é a Concreta, que se realiza em Matosinhos na Exponor”.
Outro mercado que baixou bastante foi a construção civil. “Hoje já não se constrói nada de novo, recuperam-se casas antigas para depois colocar no mercado imobiliário. A maior obra que fizemos foi para a Sonae. Fizemos as lojas Modalfa todas de norte a sul do país. Fizemos também as lojas Worten”. Os meses de maior trabalho são entre Março e Outubro. Os meses de Inverno são mais parados tirando o Natal. Há dias em que José Luís entra na carpintaria às 6h45 e sai perto das 22h00. “A minha mulher de vez em quando chateia-me porque estou a perder o crescimento das minhas duas filhas”.
Os tempos livres são poucos. “Gosto de pegar na canoa e dar uma voltinha pelo Tejo ao domingo com uns amigos. Só se ouve os passarinhos”. Por vezes leva farnel e almoça nas ilhas do rio, noutras ocasiões vai almoçar às Caneiras. “Nem telemóvel levo”, conta.
José Luís diz que a margem sul do Tejo está mal aproveitada e considera que as localidades da margem norte tiram mais partido do rio. “As pessoas deste lado preferem ir para outros sítios e nem conhecem o nosso rio Tejo”. O carpinteiro considera que ano passado o rio estava pior em termos de poluição e diminuição do caudal. “Havia zonas que tínhamos de levar a canoa à mão porque não havia água”, conta.