Mação homenageia quem saiu para outros países com a terra no coração
Vasco Estrela quer manter encontro de emigrantes para que não sejam esquecidos
José Pedro Silva de 86 anos não conseguia conter as lágrimas durante mais uma homenagem que o Município de Mação fez aos que tiveram de deixar a sua terra para procurarem melhores condições de vida em outros países. “Às lágrimas da saudade, à terra do coração, às raízes, à coragem, ao que nos une, Mação”, são as palavras que se podem ler na placa descerrada pelo presidente da Câmara de Mação, Vasco Estrela, no Jardim do Município, no dia 15 de Agosto.
Mação organizou pelo terceiro ano o Encontro de Emigrantes, uma iniciava que, apesar da fraca adesão dos destinatários, o autarca de Mação faz questão de manter. Os poucos que apareceram viram a homenagem com muita emoção e alguns não contiveram as lágrimas. Como José Pedro Silva que esteve emigrado em França com a esposa durante 35 anos. A esposa, Maria Silva, ainda ficou durante mais cinco até voltar para a sua terra. Falar sobre esses anos é difícil mas ainda assim considera: “foram difíceis mas bons depois”, conta.
A adaptação a um país diferente não foi fácil. Sempre que tinham férias voltavam mas confessam que no final já custou abandonar a terra que os acolheu. Para os dois, ver esta homenagem da sua terra é “uma alegria enorme”, refere Maria Silva.
João Forte com 59 anos esteve emigrado 20 anos. Regressou a França para trabalhar quando ficou desempregado em Portugal. No final do ano pensa em regressar de vez: “Já estou com uma certa idade e aquilo é bom para a malta nova”, conta. Estando lá fora sente com mais força as saudades da terra e refere estar muito orgulhoso de Mação por esta homenagem.
Agora já reformado, Arlindo Valente traz-nos histórias do Médio Oriente. Este emigrante passou pela Arábia Saudita, pelo Iraque ainda governado por Saddam Hussein ou a Líbia de Khadafi, terminando na Alemanha onde esteve durante 15 anos. Em 1979, quando emigrou, as dificuldades em Portugal eram muito difíceis e ainda mais numa terra do interior profundo como Mação. Trabalhou na construção civil. Na Arábia Saudita pensava que só ia encontrar um deserto onde não ia ouvir falar português mas encontrou cinco naturais de Mação.
Arlindo não podia beber álcool nem tocar, com um dedo sequer, nas mulheres. Teve de ver para crer as consequências desses actos. Assistiu a uma execução em praça pública, e quando viu que não estavam a brincar seguiu as regras à risca. Quando vinha a Portugal de férias era um grande alívio.
Mação não esquecerá quem emigrou
O encontro de Mação pretende reforçar as ligações dos emigrantes à sua terra e reconhecer o seu esforço: “que as pessoas tenham orgulho na sua terra. Pensamos que estes encontros possam ajudar a fortalecer esta ligação e, mais do que isso, ajudar a reconhecer o esforço e o sacrifício, que muitos maçaenses tiveram para singrar na vida. O concelho de Mação não os esqueceu e nunca os esquecerá”, disse Vasco Estrela, em declarações a O MIRANTE. Depois do descerrar da placa o fim de tarde foi animado com as tradicionais músicas do grupo musical Amendoense seguido por um lanche convívio com prova de produtos locais.