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O artesão das harpas e dos furos artesianos

O artesão das harpas e dos furos artesianos

Desemprego levou-o a dedicar-se ao artesanato. Aos 52 anos José Sequeira conseguiu ter a sua primeira exposição na terra onde nasceu. Natural de Aveiras de Cima, concelho de Azambuja, o artesão ocupa os seus tempos livres a moldar novas criações mas são as harpas que mais o distinguem.

Está desempregado e dedica os seus tempos livres ao artesanato. José Sequeira é natural de Aveiras de Cima, concelho de Azambuja, e até 19 de Novembro tem uma exposição na terra que o viu nascer onde é possível ver quatro harpas, um jogo do sapo, uma mesa em pedra para jogar xadrez e outros objectos, como suportes para livros em pedra ou uma flauta de pã.
“A minha cabeça tem de estar ocupada a fazer coisas diferentes”, afirma José. “Qualquer coisa que veja e que me desperte a atenção tenho de a tentar fazer. Tenho uma pequena oficina em casa e a curiosidade levou-me até aqui. Tinha acesso às sobras das madeiras na antiga empresa onde trabalhava e comecei a brincar”, acrescenta.
Aos 15 anos começou a trabalhar como servente numa empresa de construção civil, tendo subido de posto com o passar dos anos. Foi pedreiro até chegar a encarregado geral de obras, cargo que exerceu até 2010, altura em que a empresa onde estava faliu. Há dois anos voltou a exercer essas funções mas a experiência de ano e meio não correu como desejado. “Vou fazendo biscates na construção civil, mas neste momento estou a pensar no que fazer na vida”, desabafa.
Quando era criança, latas de sardinha, arames e cortiça ou pedaços de madeira bastavam para fazer carrinhos, mas só por volta dos 30 anos é que José voltou a ter tempo para novas criações. “Há alguns anos que tinha a ideia de fazer um instrumento, ainda tentei fazer uma viola mas não consegui. Um dia vi uma harpa, penso que na televisão, e aquilo despertou-me muito a atenção e tive de a fazer”, conta.
Admite não saber ler música nem tocar nenhum instrumento mas mesmo assim aventurou-se, apesar de no início as coisas não terem corrido como desejado. Na altura, sem saber navegar pela Internet, conseguiu de um amigo uma foto de uma harpa e tentou de novo. A primeira harpa nasceu em 2006, feita “a olho”. “Vi uma pessoa ao lado do instrumento, tirei as medidas na minha cabeça e durante o processo só tive de antecipar as duas peças seguintes para não ter que destruir a que estava a fazer nesse momento”, revela. No final, só o som não ficou como pretendido, “mas já dava para expor em casa”, diz entre risos.
O desejo não esmoreceu e nos três anos seguintes José criou mais três harpas, dedicando grande parte dos fins-de-semana à sua construção. Com estas três conseguiu um som melhor mas a motivação perdeu-se, uma vez que ainda não testou os instrumentos com quem os saiba tocar. “Cheguei a fazer um xilofone para um professor de música que gostou bastante e isso foi um alento enorme”, acrescenta.

Só falta que alguém toque as harpas
Desde 2009 que o artesão não tem feito harpas mas não deixou de criar outros objectos, como uma flauta de pã ou mesas em pedra que ofereceu a amigos e uma à Junta de Freguesia de Aveiras de Cima.
“Se alguém me perguntar se sou capaz de fazer isto ou aquilo peço uma fotografia e tento”, afirma o autodidacta. Nos últimos tempos José tem-se dedicado ao restauro de moinhos de vento de ferro que bombeiam água. “Preciso de ir alimentando a minha cabeça. Faço tudo por gosto e nunca pensei em mostrar o meu trabalho”, admite.
Entre as coisas mais estranhas que fez está uma máquina de furos artesianos para captação de água. “Tenho um poço com 14 metros e quando pensei que podia ficar sem água tentei fazer a máquina”. Com essa máquina já fez quatro furos até cerca de 20 metros.

Exposição até 19 de Novembro

Até dia 19 de Novembro algumas das peças podem ser vistas no Centro Cultural Grandella, em Aveiras de Cima. A primeira exposição de José Sequeira está de pé graças à sua mulher. As expectativas são poucas: “Pode ser que o presidente da junta, como disse na inauguração, consiga que alguém venha afinar as harpas e as toque - era o meu maior desejo. Assim teria um incentivo maior para continuar”.

O artesão das harpas e dos furos artesianos

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