Amantes de pássaros gastam muito tempo e dinheiro para alimentar a “paixão”
Mais do que um passatempo, é uma verdadeira loucura. Há quem crie aves por amor, passe meses a fazer papas especiais para as crias e tenha uma quinta só para acolher a passarada.
Um euro de entrada para ver de perto cerca de 19 mil aves em Vila Franca de Xira. A Avixira, cujo VI Campeonato Ornitológico COM, organizado pela câmara municipal e pelo Clube Ornitológico de Vialonga (COV), decorreu entre 4 e 6 de Novembro e recebeu mais de 5 mil visitantes, de acordo com Luís Delgado, presidente da Federação Ornitológica Portuguesa e fundador do COV. Meia centena de expositores exibiram pássaros de todas as formas e feitios. Pintassilgos e verdelhões e outras aves exóticas, com nomes tão complicados como a míriade de cores que ostentam.
E se a maior parte dos que ali estavam eram negociantes de aves - houve até quem aproveitasse para vender peixes de aquário - os verdadeiros amantes de aves estavam eufóricos com os prémios conquistados. Afinal, investem tempo e (muito) dinheiro na criação dos seus pássaros e nunca têm menos de uma centena, como é o caso dos amigos Pedro Fonseca, 45 anos, e Paulo Nunes, 54. Ambos de Alverca, são apaixonados por aves e estavam ali também a fazer negócio, mas sobretudo para mostrar os seus pássaros, que conquistaram vários prémios.
“Desde miúdo que gosto de pássaros. O meu pai era vendedor de aves e eu ficava horas a olhar para as aves dentro das gaiolas. Fascinava-me”, recordou a O MIRANTE
Pedro Fonseca, fiel de armazém. “Os pássaros que tenho são da espécie Agapornis e são especiais dependendo da mutação da cor”, explicou. Mas foi com os seus Red Rumped, oriundos da Austrália e que pertencem à família dos periquitos, que alcançou sete primeiros prémios no campeonato de VFX. Vive em Alverca, mas tem uma quinta na Aguda, onde estão as suas 200 aves. “Gasto cerca de 300 euros por mês em alimentação e na altura da criação [de Janeiro a Maio] faço uma papa especial e dou-lhes com uma seringa”, conta. Diariamente, gasta cerca de três horas a cuidar das aves e aos fins-de-semana pelo menos um dos dias é inteiramente dedicado a esta “paixão”.
A culpa foi de um avô passarinheiro
O amigo Paulo Nunes partilha o mesmo sentimento, mas, no seu caso, herdou o gosto pelos pássaros por causa do avô: “Era passarinheiro. Apanhava pássaros e depois vendia-os às senhoras de Lisboa para os terem em casa”, recorda. Eram outros tempos, mas o gosto pelas aves ficou-lhe para sempre, com interregnos. Há cinco anos voltou a dedicar-se a esse amor antigo, apesar de ser empresário, noutra área. Tem 150 casais a criar, desde Riug Nek, a Agapornis, Red Rumped e caturras. “Gasto 300 euros mensais com as minhas aves e dedico-lhes duas ou três horas por dia. Isto é o meu álcool e o meu tabaco. Não fumo nem bebo, tenho este vício”, confessou, sorridente.
Exactamente como Pedro Sousa, 44 anos, natural do Cartaxo. Não sabe de onde lhe nasceu o gosto pelas aves, mas o certo é que, na Avixira, um dos corredores com as gaiolas onde estavam os pássaros premiados era inteiramente seu. O marmorista levou 22 aves a concurso e conquistou 15 prémios: onze deles primeiros lugares e uma Pena de Ouro pelo 2º lugar no grupo dos Psitacídeos (grupo onde se incluem araras, papagaios e Agapornis, por exemplo).
O primeiro pássaro do Henrique
Foi no expositor de Pedro Fonseca e Paulo Nunes que o pequeno Henrique, 5 anos, comprou o seu primeiro pássaro. Fascinado, olhava para todas as aves e o pai, Henrique Gargalo, acredita que ali pode estar já a semente de um futuro amante de aves, tal como aqueles que conheceram na Avixira. Foi um Agapornis Fisher o escolhido, um pássaro pequeno e muito colorido, que é uma pequena espécie de papagaio e que passará a viver em Vila Franca de Xira, onde reside a família. Pássaro e gaiola custaram 25 euros. “Tem de ser uma gaiola quadrada. Nas redondas, as aves ficam loucas”, aconselha Pedro.