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O envelhecimento como um período de enriquecimento

O envelhecimento como um período de enriquecimento

Margarida Neto é directora técnica do Centro de Solidariedade Social Nossa Senhora da Luz na Póvoa de Santarém (Santarém) e desde 2000 que lida de perto com os mais velhos. De início sofria muito com a perda, mas hoje entende o envelhecimento como um privilégio. Em criança teve na avó materna a inspiração para seguir a área.

Nasceu em Lisboa, foi registada em Beirã, concelho de Marvão, mas cresceu em Pinheiro Grande, concelho da Chamusca. Margarida Neto, 45 anos, tem a localidade do Alto Alentejo marcada no Cartão de Cidadão porque a irmã do seu pai era presidente da junta, mas esse não é o único erro no seu registo. “Até o dia está diferente porque no registo guiaram-se pelo calendário do ano anterior”, conta entre risos.
Com uma mãe professora foi viver para Santarém aos quatro anos, onde fez o percurso académico até ao 12.º ano. Seguiu para a Universidade Moderna em Lisboa onde tirou o curso de investigação social e o leque das oportunidades foi aberto - “era um curso giríssimo, dava para sondagens, inquéritos, informação e contra-informação, marketing e outras áreas”, diz a O MIRANTE. “Mas o destino é engraçado porque desde pequena que gosto de lidar com idosos. A minha avó materna viveu sempre connosco e como tenho dois irmãos eles ficavam no mesmo quarto, a minha mãe com o meu pai e eu ficava com a minha avó. Partilhámos a mesma cama até aos meus 12 anos e foi ela a minha grande companhia”, conta.
Na juventude recorda-se dos inquéritos que fazia a idosos nas férias de Verão: “Essa minha avó era de Alpalhão [Nisa] e nesses meses fazia inquéritos aos mais idosos com as minhas primas. Eram perguntas sobre o que faziam, o que comiam ou gostavam”. E sobre essa avó Margarida não tem dúvidas: “foi a pedra fundamental para seguir esta área”.
No ensino secundário gostava de desenho mas não enveredou pela área “um pouco” condicionada pelos pais, que não viram futuro nesse caminho, e é na universidade que tem os primeiros contactos com o trabalho. Fez promoções a collants, representou marcas em supermercados e em feiras industriais e fez ainda análises de pedidos de pagamentos de saldo na Segurança Social - tudo trabalhos de curta duração.
Com 26 anos veio a sua primeira grande experiência profissional. “Durante 1997 estive numa loja do Colombo a vender bonecos do Gil e bilhetes para a Expo 98 e depois estive no Pavilhão da Realidade Virtual onde fui assistente na sala VIP”, conta. “Era um caos porque era o pavilhão mais concorrido e só a três semanas do fim é que perceberam que podiam colocar senhas em vez de ter as filas enormes”, revela entre risos. Lá recebeu jogadores de futebol, apresentadores de televisão como Júlia Pinheiro ou o staff da cantora Whitney Houston.
Depois da Expo casou-se, teve o primeiro filho e em 2000 descobre uma vaga para directora técnica no Centro de Solidariedade Social Nossa Senhora da Luz, na Póvoa de Santarém. “Não queria ir para Lisboa porque tem muito movimento e foi óptimo ter entrado cá. A qualidade de vida não tem comparação”, sublinha.
Na instituição Margarida coordena tudo: registo de idosos, recursos humanos, escalas, férias, projectos, entre outras funções. No entanto, pouco tempo depois de entrar em funções tirou uma pós-graduação em gerontologia social no Instituto Superior de Ciências Sociais em Lisboa. “Era para me sentir mais à vontade com aquilo que estava a fazer” diz Margarida que ainda tirou outra em Mediação Familiar na Escola Superior de Educação em Santarém.
“Há que saber gerir a perda de um idoso. No início sofria imenso, ia aos funerais todos e fazia-me muita confusão, mas como tudo na vida ganha-se algum calo”, constata. “É preciso haver empatia, paciência, estrutura psicológica e amor neste trabalho. E com o tempo entendemos o envelhecimento como um período de enriquecimento da nossa vida. Envelhecer é um privilégio que nem todos têm”, sublinha.
O desejo Margarida é de ver a instituição crescer. “Queria que tivéssemos mais respostas sociais para a terceira idade como um lar, por exemplo. É um sonho antigo e já houve três projectos mas infelizmente não avançaram”, remata.

O envelhecimento como um período de enriquecimento

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