Rui Dias Monteiro vence Bienal de Fotografia de Vila Franca de Xira
É o primeiro vencedor de uma nova era da bienal que divide opiniões. Há quem aprecie a maior qualidade dos trabalhos mas também quem sinta falta do velho modelo que privilegiava a variedade.
O fotógrafo Rui Dias Monteiro foi eleito o vencedor da Bienal de Fotografia de Vila Franca de Xira, na categoria de tema livre, e leva para casa um prémio de cinco mil euros, atribuído pela câmara municipal. Tem 29 anos, é de Castelo Branco e vive em Lisboa. Venceu com o trabalho “Terra Morta”, uma compilação de quase três dezenas de imagens recolhidas nos últimos 14 anos sobre a Beira Baixa, os seus avós, os amigos, família e a vida daquela região.
Rui já conhecia Vila Franca de Xira por vir assistir, ocasionalmente, a várias exposições no Museu do Neo-Realismo ou a sessões na Fábrica das Palavras. Mas nos últimos anos à Bienal, que existe desde 1989, nunca faltava. É fotógrafo profissional no dia-a-dia. “Fiquei muito surpreendido por ter ganho. Concorri por causa da qualidade que o concurso à partida já tem. Sabemos que o júri é bom e que é um desafio imenso construir um portfolio à altura de poder ser considerado dos melhores”, explica a O MIRANTE.
Este foi o primeiro prémio de fotografia que Rui Monteiro ganhou mas antes já conseguira ter bolsas da Gulbenkian e do Novo Banco para fotografar. No seu discurso notou que pela qualidade dos trabalhos o mais justo teria sido dividir o prémio pelos nove finalistas.
Rui Dias Monteiro foi o primeiro vencedor desta nova era da Bienal de Fotografia de Vila Franca de Xira, que o curador geral da iniciativa, David Santos, disse estar “cada vez mais viva e forte”. De um total de 93 candidaturas, foram seleccionados para finalistas os portefólios de 9 candidatos. A selecção foi realizada por um Conselho de Curadores constituído por Filipa Valladares, Emília Tavares, Sérgio B. Gomes e Pedro Alfacinha.
Os trabalhos relativos aos prémios “Concelho” e “Tauromaquia” serão apresentados a 4 de Fevereiro, no mesmo local. Além do prémio principal de cinco mil euros, haverá ainda mil euros para entregar aos vencedores das categorias “Concelho” e “Tauromaquia”.
Até 22 de Janeiro mantém-se patente a ambiciosa vertente curatorial da BF16 com intervenções de fotografia contemporânea de 30 artistas em 15 locais distintos da cidade ribeirinha de Vila Franca de Xira.
Modelo divide opiniões
A renovação da Bienal não agradou a todos, como constatou O MIRANTE falando com alguns visitantes. “Não gostei de terem separado a fotografia mais cultural da outra mais amadora. Perdeu-se a oportunidade de ver no mesmo espaço uma mescla das duas correntes”, defende Pedro Oliveira, morador na cidade. O colega, Artur Sousa, concorda. “Para mim o melhor da Bienal era a diversidade, as várias formas de fotografia, e isso perdeu-se. Antigamente havia também as selecções das melhores imagens das escolas e institutos de fotografia, isso agora acabou para privilegiar imagens que só dizem alguma coisa a uns quantos intelectuais de Lisboa”, critica.
No dia em que foi revelado o vencedor também se ouviram críticas misturadas com elogios. Ana Mendes Sousa, de Lisboa, considerou a Bienal “mais adulta” e “mais séria”, notando que nas restantes categorias a concurso há lugar para os fotógrafos mais amadores mostrarem os seus trabalhos. Fernando Pimenta, morador na cidade, é mais duro e considera que a Bienal “morreu” e confessou que a única mostra que o cativou foi precisamente a do vencedor. “Basta vir ver aqui o resto das fotos para perceber que isto não tem graça nenhuma, o que é uma pena. A compilação das fotos das mãos a fazer massagens não tem jeito algum”, lamentou.