Um jovem adepto das novas tecnologias que decidiu entregar-se a Deus
Nunca acreditou no Pai Natal porque em casa dos seus pais quem dava as prendas era o Menino Jesus, figura central da sua vida e a quem agradece por o ter escolhido para a vida religiosa. Aos 27 anos, Cláudio Rodrigues, natural de Torres Novas, é o mais jovem padre da Diocese de Santarém. Ordenado sacerdote há apenas duas semanas, vai estrear-se a celebrar a Missa do Galo em São João da Ribeira.
O dia do baptismo de Cláudio Rodrigues foi determinante para o seu percurso de vida. Foi nesse dia, com quase seis anos de idade, que lidou pela primeira vez de perto com o padre António Dias de Matos (já falecido). A figura do padre idoso atraiu-o como modelo, inspirou-o a ser como ele, e aos 27 anos o seu projecto de vida que começou a esboçar-se na infância tornou-se realidade com a ordenação sacerdotal, no dia 8 de Dezembro, na Sé de Santarém. Nesta noite de Natal vai celebrar a sua primeira Missa do Galo na Igreja de São João da Ribeira, no concelho de Rio Maior para onde foi destacado pela Diocese de Santarém.
Cláudio Rodrigues nasceu a 12 de Maio de 1989. É natural de Torres Novas, foi baptizado na Meia Via e cumpriu a carreira escolar em Casais Castelos, Riachos e na Escola Profissional Gustave Eiffel, no Entroncamento, onde tirou o curso de Informática de Manutenção. É um adepto das novas tecnologias, que considera uma mais valia e uma boa ferramenta de evangelização. “Temos de as utilizar para estarmos actualizados, para sabermos o que vai no mundo”.
O jovem padre é oriundo de uma família católica como tantas outras e garante que não recebeu qualquer influência no sentido da opção que tomou. Os pais e o irmão, mais novo cinco anos, reagiram bem. Se era aquilo que queria, podia contar com o seu total apoio. “Eu saí mais praticante, mais ligado à igreja, pela escolha de Deus. A minha mãe, num testemunho que deu numa vigília de oração, disse que desde pequeno eu sempre queria ir para a igreja e só lá me sentia bem”, diz.
A vocação foi-se consolidando com o andar dos anos, até se confirmar em pleno no seminário, para onde entrou aos 18 anos e saiu com o mestrado integrado em teologia. A sua adolescência foi pacata e dedicada em boa parte aos estudos e à igreja. Mas confessa que ao longo do caminho foi tendo dúvidas acerca da opção assumida.
“As exigências que impomos a nós mesmos levantam sempre dúvidas. Como qualquer jovem com 18 anos interroguei-me se seria capaz. Qualquer um tem tendência para constituir uma família, porque é no ambiente familiar que nós vivemos. Mas eu acredito sempre que Deus escolhe uns para uma vocação e outros para outra. A mim escolheu para dar este grande dom, que é a adesão total a Ele”.
Da vida mundana ficaram os amigos de infância e juventude com quem ainda vai convivendo, alguns deles já com filhos. O que nos leva a perguntar-lhe se o fim do celibato dos padres seria uma forma de combater a crise de vocações com que a Igreja Católica portuguesa se debate. Cláudio segue a posição do Papa Francisco e considera que não. Quem escolhe essa vida tem que estar totalmente disponível para a Igreja e já conhece as exigências que esse caminho incorpora.
Uma das suas incumbências é dirigir o jornal diocesano Portas do Sol e integra também a Pastoral das Comunicações Sociais da Diocese. “O único tempo livre que tenho agora é dedicado à oração”, conta. Não só porque esta é uma época de muita actividade religiosa mas também por estar ainda a ambientar-se à paróquia de Rio Maior, cidade que já conhecia dos tempos de seminarista e pré-seminarista graças aos convites do anterior pároco, padre Diogo, para participar em algumas actividades.
E o que podem os paroquianos de Rio Maior esperar dele? Diz que acima de tudo é um padre dedicado e que reza muito, “para ganhar intimidade com Jesus Cristo e pela comunidade que lhe está confiada”. E podem também esperar um sorriso no rosto, que é uma das suas imagens de marca. “Por vezes acho que tenho um problema, que também é um bem: não consigo dizer que não. Sempre que posso digo que sim, para estar próximo das pessoas”, diz.
Ler e ouvir música são actividades de que gosta e que pratica quando pode. Tanto lê livros de teologia como romances ou de humor. E no que toca à música também é eclético, embora goste da música clássica quando está a estudar ou trabalhar, pois ajuda à concentração. Bach e Mozart são os preferidos e no carro sintoniza a Rádio Renascença e a Antena 2. Também gosta de canto coral, embora confesse não ter grande voz, e de cinema.
“O que importa é o que somos e não o que temos”
O Natal está a tornar-se uma festa do consumo e a desviar-se do significado primordial? Tenho insistido muito que o que importa é o que somos ou queremos ser e não o que temos. Hoje ouvem-se tantas histórias de pessoas que tinham tanta coisa e depois perdem tudo por alguma infelicidade da vida... E o que sobra? Sobra o que elas são, o que construíram em si como pessoas. O resto é tudo passageiro.
Como vê esta vertigem consumista em torno do Natal? Penso que as pessoas querem dar prendas como símbolo de gratidão, de carinho, de afecto. Claro que nós, para as crianças, fazemos questão de dizer que é o Menino Jesus que dá e não o Pai Natal.
Embora o Pai Natal seja o grande protagonista da quadra. Nos últimos anos tem-se visto cada vez mais casas com pendões alusivos ao Menino Jesus. Há pequenos sinais que demonstram que estamos a voltar à centralidade do Natal, que é o Menino Jesus.
Até que idade acreditou no Pai Natal? Nunca acreditei porque a minha família disse-me sempre que quem me dava as prendas era o Menino Jesus.
Como vai passar a próxima noite de Natal, a sua primeira como padre? Vou jantar com a minha família e depois vou celebrar a Missa do Galo em São João da Ribeira, pois neste momento ainda não tem padre. São coisas que nos marcam para toda a vida.
O bacalhau não pode faltar na noite de consoada? Eu acho que não. Procuro sempre comer bacalhau nessa noite. Ainda esta semana houve uma senhora que veio dar-me uma garrafinha de azeite para pôr no bacalhau na noite de Natal. São gestos simples mas que me cativam muito. Acredito que Jesus está nestes gestos.
Há algum presente de Natal de que se recorde especialmente? Existem muitos. Lembro-me, e ainda hoje a minha mãe o guarda, de um boneco que me foi dado no Natal.
Que presente gostaria de receber este ano? As graças de Deus. Para mim é o que chega. Quanto mais vamos andando menos vamos ligando ao que queremos ter, mas sim ao que queremos ser. E graças a Deus sou o que sou.
Petição contra vinda do Papa a Fátima desvalorizada
O que pensa da petição contra a vinda do Papa a Fátima no centenário das aparições? A gente nem sabe bem o que pensar. Já o bispo de Leiria-Fátima disse que o essencial das coisas é vivermos o centenário das aparições e a vinda do Papa Francisco. Claro que há gente sempre a favor, como haverá sempre gente contra. O essencial é receber o Papa, que ainda por cima no dia de hoje (a entrevista foi realizada no dia 17 de Dezembro) faz 80 anos. Recebemos um homem aberto, com um pensamento muito jovem, que atrai, que cativa, que é pragmático e simples. É o exemplo de um bom líder da Igreja Católica. O essencial é recebê-lo.
O que representa Fátima para si? Tenho uma ligação espiritual muito grande a Fátima. Foi no Santuário de Fátima que fiz grande parte da minha conversa espiritual, que me levou a tomar a decisão de entrar no seminário, com um dos padres que me acompanhava aqui no pré-seminário, em Santarém, que era o padre Ricardo Madeira. Fátima representa a imagem de Nossa Senhora que apareceu aos três pastorinhos e que está constantemente presente na minha vida. E é por ela que chegamos a Jesus.