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“Algumas pessoas não deviam estar no sector da justiça porque estragam tudo”

“Algumas pessoas não deviam estar no sector da justiça porque estragam tudo”

Carlos Arês, 52 anos, licenciado em direito e notário em Alcanena

Exerceu advocacia durante dez anos mas optou por mudar para o sector do notariado. Está a tirar o curso de filosofia para ampliar os seus conhecimentos. Costuma encadernar muitos dos livros que lê, nomeadamente os mais valiosos e esforça-se para ler os livros na língua original, nomeadamente os escritos em espanhol, francês e inglês. Com alguns amigos abriu um bar que ainda existe na sua terra natal, Gavião. Foi jogador de hóquei em patins e ainda acompanha a modalidade. Só costuma usufruir de três ou quatro dias de férias a sério por ano.

Estou a tirar o curso de filosofia na Universidade Católica nos tempos livres. Foi uma lacuna que senti ao longo do tempo. Serve-me principalmente para perceber toda a dimensão e o encadeamento lógico e argumentativo. E o curso dá essa bagagem, para além de uma panorâmica enriquecida de cultura geral.
Gosto muito de ler e de encadernar livros à antiga. Costumo recuperar livros meus mas é um trabalho muito demorado e prolongado que desaconselha que sejam encadernados livros de menor valor. Dá-me um certo de gozo trabalhá-los para além de os ler.
Gosto de ler sobre ciências, filosofia, história e história das ideias. Também gosto de romances. Faço um esforço para ler noutras línguas, nomeadamente em espanhol, francês e inglês. Em alemão é que já não consigo ler, é complicado, mas ainda sei falar. Há muitos livros que não estão traduzidos e há originais que são diferentes para melhor.
Profissionalmente comecei por ser advogado e exerci durante dez anos. Só depois é que decidi mudar e concorri para o notariado. Sou do Gavião, vivi em Abrantes e agora vivo em Torres Novas. Desde 2008 que me estabeleci como notário em Alcanena.
Sempre pensei trabalhar em actividades ligadas ao turismo mas optei por direito e nunca me arrependi. As pessoas pensam que estudamos só as leis mas é mais do que isso. Aprendemos a raciocinar juridicamente e a interpretá-las. As leis estão sempre a mudar e o que temos de saber é trabalhar com elas, hierarquizá-las e levá-las à prática.
Na fase final do liceu explorei um bar com amigos em Gavião. Foi uma brincadeira que era para durar uns meses mas ainda existe passados trinta anos. Neste momento só tenho uma ligação afectiva com o espaço mas está no ar uma ‘religação’. Aquele bar é a casa dos jovens na região.
Sou membro da Assembleia Municipal do Gavião mas é algo que encaro sempre como uma actividade secundária. Não voltarei a candidatar-me porque moralmente é o mais correcto. Em Alcanena nunca pensei em exercer funções políticas devido às funções que exerço. Na cabeça das pessoas isso poderia fazer confusão.
Prefiro o notariado à advocacia porque a advocacia tem a componente da justiça que deixa um pouco a desejar em Portugal. A Justiça não funciona bem porque há uma pequena percentagem de pessoas que não devia trabalhar no sector e que estraga tudo. Além disso a Justiça é uma área sensível e complicada e às vezes há decisões injustas.
Os meus pais foram super pais. A minha relação com eles sempre foi excelente. A minha mãe foi professora primária e o meu pai ajudante de notário em Gavião. Ele faleceu sem chegar a saber que ia ser notário.
Sou sportinguista mas não sou doente. Não fico chateado se o Sporting perder. Gosto de hóquei em patins e tento acompanhar outras modalidades por curiosidade. Em novo joguei um bocadinho de hóquei em Gavião. Achei sempre piada à modalidade e acompanhei os tempos célebres da selecção. O hóquei em patins continua a ser uma modalidade de referência em Portugal.
Não tiro férias há oito anos. Tirei apenas dois ou três dias no ano passado e quatro ou cinco dias há três anos. Gosto de fazer um bocadinho de praia mas não sou de estar na areia ao sol, embora o mar faça falta.
Gosto de ver monumentos e visitar outros países. Gosto muito de Lisboa, onde estudei e vivi vários anos, de Évora, Porto e Coimbra. Já o estrangeiro tem coisas fantásticas, principalmente na Europa. As viagens para destinos mais longínquos não me atraem muito. Gosto de conhecer coisas diferentes mas para além de ter em conta as questões da segurança, não tenho paciência para viagens muito longas. No entanto, quando tiver oportunidade vou tentar conhecer mais o Leste europeu, nomeadamente a Rússia, países do Báltico e a Escandinávia.

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