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Vigilante Manuel Serra d’Aire

Não sei de onde germinou a ideia de que os portugueses são um povo de brandos costumes. É daquelas ideias feitas do tipo “quem não é do Benfica não é bom chefe de família” que me parecem saídas da propaganda do Estado Novo. Basta navegar um pouco pelas redes sociais ou frequentar as caixas de comentários dos sites de notícias na Internet para rapidamente se dissolver esse conceito romântico. Aliás, basta lembrar a Santa Inquisição, a guerra civil entre liberais e miguelistas ou o PREC para ficarmos conversados quanto a isso.
O português tem bem medidas as suas doses de trauliteiro, velhaco, ressabiado e invejoso. E um país que nasce de um caso de violência doméstica entre mãe e filho dificilmente poderia fugir ao seu destino. O que está quase sempre em causa é o poder - a sua manutenção, a falta dele e a aspiração a tê-lo ou reavê-lo. Neste país todos temos a nossa capelinha e ai de quem se meter com ela. Lembras-te do outro que dizia “quem se mete com o PS leva”? Ah pois é!! Mas não é só com o PS. É com todos. Sejam partidos, clubes de futebol, agremiações, corporações ou famílias das mais diversas índoles.
É por isso que quem está habituado a determinado poder raramente gosta de o perder ou opta por, voluntariamente, o abandonar. Basta ver o ressentimento que muitos antigos presidentes de câmara manifestaram quando, há 4 anos, foram obrigados a afastar-se do cargo por a lei não permitir que se recandidatassem. E basta ver agora como alguns deles, quais dons sebastiões, vão preparando o regresso ou ameaçando fazê-lo, porque o (seu) mundo nunca mais foi o mesmo desde que lhes retiraram poder de decisão. E como é bom mandar, ver as coisas rolar com uma simples assinatura…
Talvez por estar farto de uma vida trivial e anónima que os predestinados como ele não merecem, o digníssimo senhor engenheiro Rui Barreiro, ilustre inspector do Ministério da Agricultura (daqui para a frente tratado apenas por senhor inspector para abreviar) e proeminente ex-futuro presidente do Sporting lá se confirmou como candidato do PS à Câmara de Santarém, regressando às lides autárquicas não numa manhã de nevoeiro, mas sim numa tarde soalheira e fria de Janeiro.
Do fundo do coração saúdo este regresso, porque personagens como a do senhor inspector fazem falta a gente como nós, caro Manel. A nós e a muita gente que necessita de se rir, de reagir, de vociferar e praguejar. Esta política autárquica perdeu colorido e gás nos últimos anos com o exílio ou a partida de figuras que nos proporcionaram muitos caracteres de admiração e regozijo pela inspiração que proporcionavam.
Lembro-me assim de repente de um Paulo Caldas, de um Moita Flores, de um António Rodrigues, de um Miguel Relvas ou até de um Luís Ferreira, ultimamente tão apagado e previsível. Este mundo não pode ser feito só de gente insossa como o discreto Miguel Pombeiro. E a esse propósito é bom lembrar que o senhor inspector, nos seus gloriosos tempos de secretário de Estado num Governo de José Sócrates, declarou guerra aos melros, naquela que é reconhecida como a mais notória posição de força assumida por um Governo de Portugal neste século XXI. Prometo pois que ficarei atento ao seu desempenho. Porque o senhor inspector merece.

Um bacalhau congelado do
Serafim das Neves

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