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Ortiga despediu-se do último calafate e o féretro parou no local do antigo estaleiro

No dia 23 de Janeiro de 2017 a comunidade ortiguense cumpriu o doloroso dever de acompanhar à última morada um dos seus mais carismáticos elementos. Falamos de Manuel Pires Fontes, verdadeiro Mestre na arte da construção naval, dotado de um saber de experiência feito que aplicava, qual artista, na construção dos típicos barcos “picaretos”.
Filho de Joaquim Fontes e de Maria Teodora Pires, nasceu em Ortiga, no dia 23 de Fevereiro de 1926. De seu pai, Joaquim Fontes, aprendeu a arte de carpinteiro e de calafate. Desde os quinze anos, idade em que se iniciou na profissão, construiu cerca de trezentos barcos “picaretos”, para lá dos trabalhos de recuperação e reparação de muitas, muitas dezenas.
Com a sua perspicácia e elevado sentido criativo foi, ao longo dos anos, introduzindo na construção dos referidos barcos “picaretos” as alterações técnicas que lhe iam surgindo como mais eficazes e que muito foram contribuindo para a qualidade final do barco, tal como hoje o conhecemos.
A título de exemplo, com o pai aprendeu a executar a aresta (conjunto costado com o fundo) de maceira usada pelos calafates a montante do rio, tendo Ortiga por referência, Manuel Pires Fontes atento às exigências de maior resistência e qualidade, aprendeu e passou a aplicar a aresta de barco (usada nos varinos). Paralelamente ao exercício da profissão de carpinteiro e de calafate, sempre praticou a pesca profissional, com barco e redes.
Nos últimos anos, porque a avançada idade não lhe permitia grandes esforços, dedicava-se a construir miniaturas de barcos “picaretos”, trabalhos muito procurados pelos amantes do artesanato.
Significativo o facto das centenas de pessoas que o acompanharam na “última viagem” satisfazerem um dos seus últimos pedidos: Ao passar perto do seu estaleiro, o féretro parou e em plena via pública dispensou-se uma enorme ovação em honra e memória de tão grande ortiguense, artista e amante do Tejo, por muitas vezes este, no âmbito familiar, confidenciar ter sido naquele local - no estaleiro onde construía os barcos - que havia passado os momentos mais felizes da sua Vida.
João de Matos Filipe
(Natural de Ortiga, Mação.
Autor do livro “Cultura e Artes
de Pesca Tradicional no Rio Tejo em Ortiga – Mação” - editora O MIRANTE

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