Nos primeiros dez anos de poder democrático, sem meios humanos nem técnicos e sem recursos financeiros mas com uma grande motivação e espírito de solidariedade, foram feitas infra-estruturas básicas, como o abastecimento de água, as redes viárias e, para alguns, o saneamento. Tempos únicos, com gente muito especial. O esforço e o dinamismo da população era partilhado pelos autarcas da altura, a gestão era rigorosa e havia sensibilidade para perceber o mundo rural.
Os apoios comunitários, o “el dorado”, transformaram comportamentos e atitudes. O poder manteve-se em mandatos consecutivos e a visão “iluminista” dos nossos representantes abrantinos cingiu-se a projectos megalómanos sem qualquer utilidade pública e a acordos “vitalícios”, com negócios de milhões, como o da Abrantáqua, empresa concessionária que, com a conivência da câmara municipal, cobra taxas elevadíssimas por um serviço que não é prestado, que é o serviço de saneamento básico na freguesia de Bemposta.
As aldeias foram caindo no esquecimento. E os presidentes de junta, dependentes da cor política, não contestaram, não reivindicaram não se impuseram. As escolas foram fechadas concentrando os alunos no Centro Escolar de Bemposta que custou milhões mas que revelou desde o início falhas que punham em risco a segurança das crianças e outras como a questão da ventilação que levou ao seu encerramento no ano passado devido ao calor insuportável dentro das salas. Sem qualquer visão estratégica e sofrendo de megalomania, os autarcas abrantinos das últimas décadas são os responsáveis pela perda contínua da população nas nossas aldeias.
Perspectivam-se novos desafios para o Poder Local. Esses desafios têm de ter uma visão mais abrangente. As populações e o património rural têm de fazer parte dos planos de acção, como uma mais valia para a nossa sociedade.
Maria Fernandes