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“Gosto de intervir e de pôr as pessoas a pensar”

“Gosto de intervir e de pôr as pessoas a pensar”

Rui Germano é um homem multifacetado que vive num turbilhão de actividades e interesses. Em Rio Maior exerce advocacia, pinta, escreve e tenta despertar a comunidade para o teatro. Também já passou pela política mas não ficou cliente.

Rui Germano, 45 anos, tem três amores que em nada são iguais e, tal como o popular cantor que há umas décadas trauteava letra semelhante, também ele não sabe bem do qual gosta mais. A advocacia, a pintura e o teatro são três frentes de actividade onde se desdobra no seu dia a dia, dividido entre Rio Maior, onde vive desde pequeno e Lisboa, onde se formou, estudou artes e também tem casa.
Neste mês de Fevereiro os resultados da sua veia criativa podem ser apreciados em Lisboa e em Rio Maior. Na capital inaugura este sábado, 4 de Fevereiro, uma exposição de pintura nas instalações do Movimento de Arte Contemporânea, a ver até 24 de Fevereiro. “Ask the animal and they will teach you” apresenta como personagem principal a vida animal e o seu conflito com o progresso humano.
Em Rio Maior, Rui Germano vai ter em cena, no Cineteatro Casa da Cultura, nos sábados 11 e 18 de Fevereiro (21h30), a peça de teatro “Ninguém nasceu para ficar sozinho”, escrita e encenada por si e que conta com um elenco de actores amadores, na sua maioria da zona, que ele próprio ajudou a formar. A peça pretende chamar a atenção para o amor entre pessoas deficientes.
Essa não foi a primeira peça que encenou sobre temáticas sensíveis. Com o grupo Quem Não Tem Cão - que fundou em Rio Maior há 10 anos e de que entretanto se desvinculou - levou à cena a peça “Rosa Esperança” sobre o cancro da mama, com um elenco constituído por mulheres que tinham vivido essa doença. Mais tarde, abordou a violência doméstica com “Amor Mau”, outro projecto de teatro comunitário igualmente com a chancela do Quem Não Tem Cão.
Hoje, Rui Germano dinamiza o RG - Projecto Teatro Comunitário, que já encenou duas peças, mas tudo começou há cerca de 10 anos, quando ainda nem cineteatro havia em Rio Maior. Começou a dar formação na área do teatro, workshops, destinados a pessoas comuns que, de alguma forma, se interessavam por teatro. Os resultados eram depois mostrados ao público. Assim nasceu o Quem Não Tem Cão, porque Rui teve mesmo que caçar com gato. Ou seja, com os parcos recursos que tinha à disposição e a sua vontade de lutar contra o marasmo. E o público tem aderido ao esforço desse colectivo literalmente amador, porque ama o que faz. Embora não seja fácil recrutar gente interessada em fazer teatro, sobretudo jovens.

À vontade nos três palcos
O entusiasmo de Rui Germano pelas artes vem desde criança. Desde muito cedo mostrou gosto pelo desenho e pela pintura. E quando foi estudar Direito para Lisboa juntou o útil ao agradável. Enquanto estudava para ser advogado, aprendia pintura e teatro. Mais tarde fez também formação numa escola de teatro em São Paulo (Brasil). Depois de se licenciar em Direito teve de suspender a sua faceta artística durante uns tempos para se dedicar à profissão a tempo inteiro. “Não era fácil conciliar”, diz.
O advogado e artista garante que se sente à vontade em qualquer dessas peles e não as deixa confundirem-se no dia a dia. “São compartimentos estanques. Concentro-me naquilo que estou a fazer na altura”. Sente-se tão à vontade na barra do tribunal como a criar textos, a encenar peças ou a pintar telas. Basicamente, com a sua arte gosta de provocar as pessoas, de as pôr a pensar, de intervir e contribuir, na sua medida, para a mudança e transformação das coisas.
Tem casa e escritório de advogado em Rio Maior, mas também passa algum tempo em Lisboa. Diz que essa divisão entre o bulício da capital e a pacatez de Rio Maior faz com que não se farte de nenhuma delas. “Acho que tenho o melhor de dois mundos. Quando estou fora tenho sempre vontade de regressar a Rio Maior”.

A experiência na política
Rui Germano gosta de intervir na comunidade e há uns anos teve também uma experiência na política. Foi vereador na Câmara de Rio Maior no mandato 2005-2009, eleito pelo PSD, então na oposição. Gostou da experiência, deu para aprender alguma coisa, mas não ficou cliente. “Quem anda na política tem de ter muitas características que eu acho que não tenho”. Hoje diz ser um cidadão atento, com algum sentido crítico. “Acho que por aqui as coisas estão calmas”, considera.

Falar de touradas “é complicado”

Rui Germano, solteiro e sem filhos, nasceu a 7 de Agosto de 1971 em Lisboa mas reside em Rio Maior desde criança. Viveu numa quinta e aprendeu a montar a cavalo aos 5 anos com um campino de uma quinta vizinha. Na adolescência praticou equitação em Vila Franca de Xira “para corrigir a postura”. Falar de touradas para ele “é complicado”. Por um lado considera-as “uma barbárie” devido ao sofrimento causado ao toiro, por outro é sensível às tradições ribatejanas. “O ideal seria arranjar aqui um equilíbrio”, diz.

A justiça está cara e afasta as pessoas

“A justiça mudou muito ao longo destes últimos 20 anos”, diz o advogado Rui Germano, considerando que as reformas têm sido feitas mais por razões economicistas do que propriamente para melhorar o sistema judicial. Acha que as taxas de justiça são caras e que isso inibe as pessoas de recorrerem aos tribunais. “Os clientes hoje, antes de porem uma acção, pedem orçamentos - que são difíceis de dar com exactidão, tendo em conta que nunca se sabe antecipadamente os desenvolvimentos de um processo - começam a fazer contas e vêem que não vale a pena”, explica.

“Gosto de intervir e de pôr as pessoas a pensar”

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