Cresceu na Galega mas foi Carvoeiro a terra que escolheu para viver, uma freguesia do concelho de Mação, apesar do salto de seis anos que a certa altura deu até Lisboa. Desde 2008 que António Pereira, 46 anos, assume funções no Centro Social São João Baptista, primeiro como tesoureiro e agora como presidente de uma Instituição Particular de Solidariedade Social que “muita falta fazia à freguesia” do Carvoeiro.
Há duas décadas que trabalha por conta própria como canalizador, negócio que mantém em paralelo com a criação de gado caprino, mas já foi serralheiro, ofício que iniciou aos 13 anos quando percebeu que não queria ficar na aldeia. A ambição do pai passava por António ser agricultor, tirar resina dos pinheiros ou na serração. “Era uma vida muito dura” que o jovem não queria, confessa a O MIRANTE.
Sem ter os sonhos que os miúdos têm hoje, queria ser pedreiro, mas o destino traçou-lhe outros planos. “Andei cinco anos a trabalhar de manhã à noite e fazia todos os dias cinco quilómetros a pé” para aprender a ser serralheiro. Inscreveu-se em vários centros de formação, trabalhou ainda como soldador, foi mecânico e finalmente canalizador. “Com vinte e poucos anos fui para Lisboa”. Tirou o curso no CENFIC e por lá ficou. Naquela época não imaginava possuir “três ou quatro carros na garagem ou uma casa confortável com aquecimento central”, relembra sem renegar as origens humildes, dizendo que só estudou “até ao sexto ano”.
Da capital seguiu-se Castelo Branco e finalmente o regresso à terra, onde estabeleceu uma empresa de alumínios, com serviços de serralharia e canalização. A sua exploração, com 50 cabeças de gado caprino, obriga António Pereira a acordar todos os dias às 6h00 e nela trabalhar até às 9h00 - um negócio “rentável mas que exige muita dedicação”.
Para ajudar, socorre-se de uma associação que faz a recolha e comercialização do leite junto de futuros compradores. Depois dos animais vai para as obras, mais tarde para o Centro Social ao qual se dedica “a 100%, 24 horas por dia, nem que seja ao telefone”. O trabalho na construção civil “já deu o que tinha a dar”, embora o balanço como canalizador seja positivo. Em tempos teve funcionários, agora “é impossível”.
O seu último empregado acabou por ficar como motorista do Centro Social, onde trabalham 32 pessoas. “Gosto de fazer qualquer coisa ligada à minha profissão desde que seja sustentável” diz, acrescentando que retira prazer do trabalho no Centro Social “mesmo sem ser remunerado e com as dificuldades de gestão que se apresentam diariamente”. Ainda tem o sonho de conseguir fazer no Centro Social um ginásio para os idosos.
Como católico, António Pereira ajuda quem mais precisa e diz que “nem só de pão vive o homem. Temos de dar-nos aos outros”. Um princípio que o fez chegar ao Centro Social, projecto do qual sente “muito orgulho”.
Além disso, é presidente de uma cooperativa de olivicultores, o que lhe deixa pouco tempo livre. O domingo é o único dia de descanso, com a tarde dedicada à família e à “sagrada” ida à missa. Gosta de ver futebol e ir ao café à noite ler o jornal. Com três filhos, e promessas de uma visita ao Jardim Zoológico, os anos passam sem tempo para tal viagem. E os rapazes crescem, “o mais velho tem 17 anos, o do meio tem 13 e o mais novo tem 11”. António afirma-se um pai presente embora, nem sempre, tenha conseguido chegar a casa a horas de ver os filhos acordados. Contudo sente na família o apoio necessário para o acumular de funções. O segredo do seu sucesso? “Ser humilde, sério e muito trabalho”.