O Teatro Salvador Marques, em Alhandra, terra onde vivi e não esqueço, foi construído em 1905, por subscrição pública, como aliás tudo aquilo que existe na vila. Teatro com camarotes, foi palco de boas peças de teatro. Recordo nos fins dos anos cinquenta a presença da actriz Mirita Casimiro e a passagem do programa Os Companheiros da Alegria, animado por Igrejas Caeiro. O cinema deve ter tido o seu início ainda nos anos cinquenta. Foi lá estreado o filme “O Noivo das Caldas” e lá foram exibidos os grandes filmes do cinema mundial.
Situado numa zona que dá para o Tejo, tem a sua zona fronteiriça. Na parte de trás está a Rua Passos Manuel. Existe um espaço entre o edifício do Teatro e o prédio - nº 74, uma passagem, diria antes um beco, fechado de ambos os lados. O meu quarto dava para esse beco que ouvi dos mais velhos, tratar-se da Travessa ou Beco Rainha Dona Amélia em homenagem a Sua Majestade por ser onde passava para assistir às touradas.
É pena o Teatro Salvador Marques ser agora palco de ratos e aranhas: os animais domésticos do futuro. Não nasci nesta linda terra, que Almeida Garrett, no livro Viagens na Nossa Terra, chama a “Alhandra, a Toureira”, mas foi lá que cresci e nadei no Tejo entre golfinhos, amigos e irmãos. O Teatro Salvador Marques bem merece atenção camarária.
Mário Vitorino Gaspar

Nota da Redacção: O Teatro Salvador Marques encerrou em 1984. Foi comprado à Misericórdia de Alhandra pela Câmara Municipal de Vila Franca de Xira em 2001. Cinco anos mais tarde esteve para ser demolido mas a demolição foi travada pela população. A autarquia, que retirou do Teatro o património de maior valor e mandou restaurar algum, tem manifestado a intenção de recuperar a sala de espectáculos com apoio comunitário.