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Figueira da Índia é o novo filão agrícola de Azambuja

Figueira da Índia é o novo filão agrícola de Azambuja

Há quem tenha encontrado um filão no concelho: a terra, que parece má, é a ideal para cultivar figos da Índia. Chamam-lhe “os novos mirtilos”, porque começam a estar na moda e o investimento é uma migalha em comparação ao lucro. O município quer atrair mais agricultores que se dediquem à plantação de um fruto exótico que se esconde num cacto.

Gonçalo e Rodrigo Albuquerque são dois irmãos a quem a mãe, Rosarinho, ofereceu, um terreno de vários hectares em Azambuja. No lugar das antigas adegas de família – abandonadas há décadas, uma vez que a família viveu vários anos em África – acabaram por nascer dois projectos. E se um mudou a vida de Rodrigo, da mulher e dos filhos, que se mudaram de Lisboa para uma terra pequena (ver caixa), o outro apaixonou Gonçalo e contagiou toda a família.
“Nunca tinha ouvido falar em figos da Índia. Eu tinha muita terra aqui, sabia que não era de grande qualidade, e foi numa pesquisa na Internet que descobri que a figueira da Índia era uma solução óptima de cultivo”, contou o gestor de profissão e agricultor nos tempos livres.
E porque é que plantar figos da Índia era a melhor solução? “Não requerem um solo especial, aliás dão-se bem em terras semi-áridas; não exigem grandes cuidados [a Figueira da Índia cresce selvagem em muitos locais] e tudo, desde a palma até à flor, passando pelas grainhas e até pelos picos, é aproveitado”, explicou Gonçalo. Mas o melhor de tudo é que existia um financiamento da União Europeia para investir na plantação do fruto, considerado exótico, rico em fibras, vitamina A e ferro e que cresce no interior da Opuntia ficus-indica, nome científico da planta, da família dos cactos.
Gonçalo Albuquerque e a mulher, Luísa, que tem uma quinta em Alcochete – o filho foi contagiado pela paixão do padrasto e já plantou figos da Índia no terreno da mãe – concorreram ao programa com cinco hectares. “Continuamos à espera de aprovação. O pedido foi feito há dois anos”, desabafa o gestor. Não esmoreceram. Enquanto aguardam pela aprovação do projecto Gonçalo decidiu arriscar por sua conta e risco “para aprender”. Plantou um hectare de Figueira da Índia em frente ao portão da Quinta do Alfaro que pertence ao irmão Rodrigo.
Está sempre a pesquisar sobre a cultura que classifica de “especial e resistente” e que para ele foi “amor à primeira vista”: tinha pensado em plantar medronho, depois morangos e ficou-se por um fruto de que nunca ouvira falar e cujo sabor é semelhante ao do kiwi, por causa das grainhas, “mas é mais doce”, na opinião de Luísa.

Picos da planta também adormecem
Gonçalo é o segundo proprietário a apostar na cultura de figos da Índia em Azambuja mas é o que tem a parcela maior de terreno. Walter Santos tem uma micro plantação, também em Azambuja. O biólogo – trabalha em Lisboa e só tem tempo para cuidar dos figos aos finais de semana - é mais curioso do que agricultor. Ao contrário de Gonçalo, que sonha com o dia em que poderá viver da terra e do fruto misterioso, que os mais velhos se lembram de retirar de dentro da palma do cacto com a ajuda de um pau. É que a Figueira da Índia é cheia de segredos: a colheita deverá ser feita antes do sol raiar – porque os milhares de picos quase invisíveis só ficam agressivos com a luz do dia. “À noite ficam mais moles, essa é outra das particularidades”, conta Gonçalo.
Tal como este novo agricultor, também o presidente do município de Azambuja, Luís de Sousa, só há pouco tempo descobriu o figo da Índia. “Nunca tinha ouvido falar. Fiquei surpreendido”, confessou. O autarca costuma comprar os figos no hipermercado e leva-os para os colóquios sobre a figueira da Índia que são organizados com o apoio da câmara.
A ideia de transformar Azambuja num dos maiores centros produtores de figueira da Índia recebeu todo o apoio da autarquia. Ao longo do ano, a empresa que, em Portugal, dá consultadoria sobre a plantação de figos da Índia – promove colóquios para apresentar a cultura como uma boa alternativa de cultivo. Aos poucos, os interessados vão chegando. Gonçalo Albuquerque já recebeu o telefonema de um deles, que já decidiu avançar com uma plantação. E cresce a esperança de Luís de Sousa: “Toda a terra que está abandonada no concelho poderá voltar a ser cultivada”.

Turismo rural mudou a vida da família

Rodrigo Albuquerque e a mulher herdaram da mãe, Rosarinho, de 74 anos, a parte das antigas adegas. Transformaram-nas no Turismo Rural Quinta do Alfaro, que atrai famílias e homens de negócios. “Diziam que no Inverno não íamos receber ninguém. Estivemos sempre cheios. Muitos homens de negócios ficam aqui hospedados”, revelou Tatiana Albuquerque, que se mudou de Lisboa para Azambuja com os três filhos, há pouco mais de dois anos.
O marido ainda faz o trajecto até ao centro da capital – trabalha na Avenida da Liberdade – todos os dias. É Tatiana quem comanda a nova vida no campo. “Foi uma mudança radical. As crianças comentaram, espantadas, que as pessoas que encontravam à porta da escola eram as mesmas que estavam depois na mercearia ou no talho”, revela, sorridente. A sogra, Rosarinho, também não poderia estar mais satisfeita: “Vê-los pegar nesta quinta e criar tudo isto deixa-me muito feliz”, confessou a matriarca.

Dez mil euros garantem 30 toneladas de fruto

O investimento num hectare de terra custou a Gonçalo Albuquerque dez mil euros. A expectativa de lucro demora mas a partir do primeiro ano já é possível colher umas caixas de figos da Índia. “Ao fim de sete anos vou retirar daqui 30 toneladas de fruto”, contabiliza o proprietário. Além do fruto, que tem três variantes – verde, roxo e laranja [Gonçalo plantou as três] que pode ser comercializado em fresco ou desidratado, usado em sumos ou em xarope, a palma da planta pode ser transformada em ração para animais ou em pickles, só para citar algumas possibilidades, e as grainhas do figo têm uma procura que só por si é um filão: o óleo extraído é usado na indústria cosmética e até os picos se aproveitam. Podem ser prensados e transformados em pranchas de madeira.

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