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Europa

Há quase 35 anos (...) o mundo era substancialmente diferente e para tomar decisões de ordenamento era necessário ir ao campo, não bastavam um ecrã de computador e umas imagens de satélite.

No Europa comem-se as melhores conquilhas da Europa. É bem verdade, para o comprovar basta provar uma vez. Quase que se pode escrever que este é um dos segredos da Europa. De vez em quando Cabanas (Tavira) surge sempre como um perfeito plano B. Nunca deixa ficar mal. Para ser justo, Cabanas é uma das terras da minha vida. Há quase 35 anos, finalizada a formação em geologia, rumei com um grupo de colegas a Cabanas onde nos instalámos para concretizar um trabalho de campo que sustentava um plano de ordenamento que a nossa Faculdade de Ciências tinha em mãos. Por esta altura, o mundo era substancialmente diferente e para tomar decisões de ordenamento era necessário ir ao campo, não bastavam um ecrã de computador e umas imagens de satélite. Desconfio que, por essa época, o saber era mais acertado, o que não significa que se tomassem as melhores decisões; o Algarve é o melhor exemplo do que não se deve fazer nessa matéria. Curiosamente, Cabanas ainda hoje mantém algum bom senso territorial. Nessa altura tínhamos a vida facilitada por não estarmos permanentemente online; depois do dia de trabalho havia tempo para viver Cabanas. Acrescia ainda a vantagem de não ser verão, embora, sem comparação com a loucura do presente, já houvesse turismo que, como hoje, dividia os algarvios. Uns já diziam “olhe, desculpe, eu vivia aqui”, enquanto outros, como o Acácio, aproveitavam a oportunidade. Nesse tempo, o Europa era recente e o Acácio dava os primeiros passos na restauração. A memória já não o garante mas julgo que antes o Acácio andou no mar. Uma coisa é certa: no Europa come-se muito para além das melhores conquilhas da Europa. Desta vez, o Acácio serviu-me umas bicas; sem exagerar, digo-vos que já não me lembro de ter saboreado um peixe tão bom. Pudera, um homem de uma terra de pescadores a servir peixe há mais de 30 anos… Obviamente que, para nossa sorte, o Europa não surge nos guias e sugestões de quem percebe destas coisas da gastronomia; no Algarve pode haver quase tão bom, melhor não.
Mas Cabanas é mais que o Europa. Imaginem que na ainda justa e simpática Pedras da Rainha aceitam cães que os humanos deixam em paz. Temos praia a perder de vista e ria com um lodo não poluído onde pomos os pés terapeuticamente como se Deus ali estivesse. Cabanas tem tudo: quando chego, estaciono o carro e mais não lhe toco, corro num circuito com campo e mar como se não houvesse mais ninguém. Cabanas está diferente mas mantém o melhor que sempre teve e por isso merece muito mais que um plano B. Experimentem, confirmem mas não contem a muitos.
Carlos Cupeto
Universidade de Évora

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