Morreu o primeiro presidente do Cartaxo após a revolução de Abril
Hélder Travado, o primeiro presidente da comissão administrativa que geriu o município do Cartaxo após a revolução de 25 de Abril de 1974, faleceu no dia 20 de Abril aos 87 anos, no Hospital de Santarém, vítima de doença prolongada. Foi também vereador na Câmara do Cartaxo, eleito pela CDU, na década de 80 do século passado.
O corpo do falecido esteve em câmara ardente no salão nobre dos paços do concelho. O funeral realizou-se no sábado, 22 de Abril, seguindo o corpo para o crematório da Póvoa de Santa Iria. Antes houve lugar a um momento solene de homenagem ao antigo autarca. O presidente da Câmara do Cartaxo decretou três dias de luto municipal, em memória do falecido. O PCP do Cartaxo também expressou as condolências: “O Cartaxo e todos nós ficamos mais pobres com a perda desta grande referência da Democracia e exemplo de cidadania”.
Hélder Francisco Ferreira Travado era natural do Cartaxo, onde nasceu a 20 de Setembro de 1929. Cumpriu o serviço militar em Mafra e em Lisboa. Em Maio de 1954 partiu para Moçambique como militar, adquirindo nos dois anos seguintes a formação de topógrafo. Regressou a Lisboa em 1968, licenciou-se em Geografia e abraçou a carreira de docente, que era o seu sonho. Deu aulas em Santarém, Alpiarça e Cartaxo.
Militante do Partido Comunista Português, entre 1974 e 1976, assumiu a presidência da Comissão Administrativa do Concelho do Cartaxo. Apesar de não ser politicamente activo, o seu nome foi escolhido para esse cargo. “Aceitei imediatamente. Foram tempos de brasa, complicados, que deram muito trabalho. A primeira coisa que fiz foi um novo recenseamento. Só estavam recenseadas cerca de 300, 400 pessoas quando o Cartaxo tinha 18 ou 19 mil habitantes”, recordou Hélder Travado em entrevista a O MIRANTE publicada na edição de 9 de Dezembro de 2015.
Depois de algumas incursões por terras de África, onde também leccionou, regressou à vida política como vereador da Câmara do Cartaxo, de 1989 e 1996. Depois dessa experiência desligou-se da política. Refugiou-se na sua pequena quintinha, onde plantou diversos tipos de árvores e vivia com a esposa e os seus animais.
“Criei as minhas raízes no Cartaxo e é aqui que quero morrer. Quando chegamos a uma certa altura da vida começamos a apreciar coisas que aos 30 e 40 anos não dávamos valor. Tenho uma paixão tremenda pela natureza e nesta casa tenho a oportunidade de viver intimamente com ela”, reflectia na mesma entrevista a O MIRANTE. Hélder Travado deixou três filhos.