Clínica Dr. Ruy Puga em Santarém Um compromisso com setenta anos
Entrevista aos oftalmologistas Clotilde Puga e Vítor Canunes Ferreira
Em muitas especialidades médicas fala-se frequentemente em prevenção e em consultas de rotina. Aplica-se o mesmo princípio à oftalmologia?
Drª Clotilde Puga (CP) – Uma criança deveria fazer consultas de prevenção a partir dos três anos e em casos particulares antes dessa idade. A orientação do Pediatra é muito importante. A justificação desta observação precoce deve-se ao facto de haver casos em que a reabilitação da visão já não é possível a partir dos 6/7 anos de idade.
Dr. Vítor Canunes Ferreira (VCF) – E nos adultos, por exemplo nos diabéticos, a observação deve ser anual, a não ser que o médico indique outra periodicidade.
Muitos cidadãos quando têm problemas de visão recorrem geralmente aos optometristas que trabalham nas lojas de óculos e, por vezes, até se limitam a comprar óculos graduados à venda em alguns super-mercados, na esperança de resolverem o problema. É um bom ponto de partida?
CP- É um ponto de partida incorrecto porque há muitas doenças que ficam por diagnosticar. A baixa da visão é uma manifestação e pode corresponder apenas a uma necessidade de correcção com óculos ou a uma doença e nesses casos não se faz um diagnóstico atempadamente.
VFC – A maior parte das doenças sistémicas pode ter manifestações oculares. Muitas vezes é o oftalmologista que levanta a suspeita para uma determinada doença, conduzindo ao seu diagnóstico.
Há doenças dos olhos que podem ser evitadas?
VCF – Há doenças cuja evolução natural pode ser contrariada, por exemplo o glaucoma. Esta patologia só pode ser diagnosticada por oftalmologistas porque durante muitos anos não dá queixas e o seu diagnóstico depende de exames oftalmológicos devidamente interpretados. Iniciando o tratamento adequado previne-se a cegueira . O glaucoma é a causa mais importante num mundo de cegueira irreversível.
O que podemos fazer no dia-a-dia para prevenir problemas dos olhos?
CP – Ter uma alimentação saudável e cuidar da saúde em geral, por exemplo, manter a tensão arterial controlada e cumprir as rotinas de exames complementares aconselhados pelo médico de clínica geral.
O único sinal de que algo não está bem é apenas a redução da acuidade visual?
CP – Não, pode por exemplo ser a perda do campo visual. Há casos em que a visão em frente é normal mas com perda de visão nos campos laterais, superior ou inferior.
No caso das crianças que chamadas de atenção podem ser feitas aos pais?
CP – Devem admitir a possibilidade de dificuldades visuais quando a criança se aproxima excessivamente, para ler, escrever ou para ver televisão e também no caso de desatenção e mau rendimento escolar.
As novas tecnologias fazem mal à visão?
VCF – Os computadores em si não causam doença ocular mas não é saudável, mesmo em momento de diversão, que se esteja a obrigar os olhos a uma focagem por longos períodos de tempo para a distância próxima.
“O meu pai ensinou-nos a exigência, o esforço, a perseverança e a fidelidade às pessoas e às causas”
A recuperação do edifício sede da clínica, para além da natural manutenção e adaptação, foi também um acto de cidadania. Deu-vos algum gosto particular a realização desta obra? Não teria sido mais fácil construir de raiz numa outra zona da cidade?
CP – Houve uma razão afectiva para aqui nos mantermos, este foi o local escolhido pelo meu pai e o da nossa vivência. Sair daqui seria um desenraizamento. Esta opção deu-nos muitas dores de cabeça mas também muita satisfação. Demorámos cerca de seis anos até conseguirmos laborar nas novas instalações mas tivemos a alegria de ver esta obra como finalista do Prémio Nacional de Reabilitação em 2014.
Para além do reconhecimento dos seus doentes, o Dr. Ruy Puga, fundador da clínica, recebeu distinções, entre as quais a medalha de ouro da cidade de Santarém. Mais que um oftalmologista reconhecido pelos seus pares, foi reconhecido enquanto cidadão. Que memória guarda do seu exemplo de cidadania?
CP – Esta pergunta tem a ver com a minha intimidade e tenho dificuldade em responder. Resumidamente direi que é para mim claro que o meu pai pôs muito empenho na sua missão, tanto afectivamente como na sua obrigação de formador. Ensinou-nos a exigência, o esforço, a perseverança e a fidelidade às pessoas e às causas. Como filha permanece em mim o sentimento de gratidão, a saudade da pessoa que me merece este reconhecimento e a responsabilidade.
O Dr. Ruy Puga teve oportunidade de acompanhar e de beneficiar, enquanto oftalmologista, de algumas inovações tecnológicas?
VCF – Sim e a mais importante foi a chamada Fotocoagulação retiniana de que ele foi um precursor. Importou o chamado fotocoagulador - Xenon, que controlava, por efeito fototermico as lesões da retinopatia diabética. Mais tarde adquiriu o fotocoagulador laser.
CP - O meu pai empenhou-se na solução cirúrgica do glaucoma, num tempo em que os fármacos eram de acção limitada e com pesadas acções secundárias.
A evolução da oftalmologia deveu-se maioritariamente ao avanço tecnológico e ao consequente surgimento de equipamentos mais sofisticados?
VCF - Sim e também à formação apropriada de quadros médicos. Hoje a nossa oftalmologia está na primeira linha a nível mundial.
Clínica Dr. Ruy Puga é uma referência na histótria recente da cidade
A Clínica Dr. Ruy Puga, em Santarém é uma referência na história recente da cidade.
Criada em 1947 pelo oftalmologista Ruy Puga, mantém o seu atendimento sob a direcção de Clotilde Puga e Vítor Canunes Ferreira.
Todos os serviços disponíveis figuram no site alojado em http://clinicaruypuga.net/wp/.