Gémeas camionistas de Ulme partilham a profissão com o pai e os companheiros
Dora e Sofia ganham a vida a conduzir camiões e adoram o que fazem. O destino começou a ficar definido quando eram crianças e acompanhavam o pai nas viagens de longo curso.
Dora e Sofia Silva têm 24 anos, são gémeas e partilham os mesmos gostos. Desde crianças que sonhavam ser camionistas de pesados como o seu pai, João Neves, que tem essa profissão há mais de três décadas. Além disso, também o marido de Sofia, Carlos Belas, e o marido de Dora, Tiago Passarinho, partilham a mesma profissão. Uma família de camionistas que vive em Ulme, concelho da Chamusca. A paixão pelos camiões começou quando, durante as férias escolares, sobretudo no Verão, João levava as filhas, e a esposa também ia de vez em quando, nas suas viagens de trabalho.
“Passávamos a semana inteira no camião com os nossos pais. Eram as nossas férias e adorávamos. Naquela altura já dizíamos que queríamos ser camionistas mas as pessoas riam-se e achavam que era uma tonteira que nos passaria com a idade. A verdade é que não passou e assim que pudemos tirámos a carta de pesados”, conta Dora Silva.
O percurso de vida das gémeas tem sido semelhante. Ambas estudaram até ao 12º ano e decidiram ir trabalhar. Sofia começou numa caixa de supermercado durante cerca de dois anos e depois passou pela Resitejo. Dora fez o percurso contrário. Começou a trabalhar na Resitejo e esteve três meses a trabalhar num supermercado.
Assim que fizeram 21 anos foram tirar a tão ambicionada carta de pesados de mercadorias. “A primeira coisa que fizemos quando completamos a idade mínima obrigatória para tirar a carta de pesados foi meter os papéis na escola de condução. Foi um dia muito esperado e feliz”, confessa Sofia Silva. Sofia esteve cerca de ano e meio a trabalhar na empresa de transportes onde o pai trabalha e depois mudou-se para a empresa onde trabalha actualmente. Dora conseguiu o tão ambicionado trabalho três meses depois de tirar a carta.
Trabalho nocturno e horários desencontrados
As irmãs trabalham sobretudo de noite. Ao contrário dos companheiros, que trabalham de dia. Tiago Passarinho, 29 anos, é natural da Carregueira (concelho da Chamusca) e é motorista da Rodoviária do Tejo. Carlos Belas tem 31 anos, é natural de Foros de Salvaterra (concelho de Salvaterra de Magos) e é motorista de camiões há mais de dez anos.
O dia-a-dia de Dora e Sofia é carregarem o camião durante a noite e abastecerem algumas das grandes superfícies comerciais da zona. Admitem que a única desvantagem são os horários desencontrados com os companheiros mas garantem que têm tempo para tudo.
“Jantamos todos os dias juntos. Eu durmo durante o dia e vou dormindo aos bocadinhos, enquanto o Tiago dorme normalmente de noite. É tudo uma questão de hábito e aos fins-de-semana estamos sempre juntos”, explica Dora Silva.
Sofia conta O MIRANTE que quando conheceu Carlos avisou-o logo de que queria ser camionista e que nada a ia impedir de concretizar o seu sonho. “Ele foi logo avisado e aceitou bem”, afirma a jovem entre risos. As jovens camionistas contam que ainda há quem estranhe ver uma mulher ao volante de um camião e garantem que não se sentem inseguras por trabalhar de noite. “Estamos sempre em contacto com outros colegas através de telemóvel ou rádio. Nunca tivemos problemas”, realçam, acrescentando que há cada vez mais mulheres camionistas.
As irmãs de Ulme não pensam mudar de profissão mas pretendem tirar a carta de pesados de passageiros para um dia poderem conduzir autocarros. “Um dia queremos ter filhos e nessa altura vamos ter que ter horários ditos normais. Por isso é que vamos optar por tirar a carta de pesados de passageiros”, referem.
O orgulho paterno
Atento à conversa, que decorre num pequeno jardim à entrada da vila, está o pai das gémeas, João Neves, de 53 anos. Parco em palavras, não esconde a emoção por as filhas terem seguido as suas pisadas. “Ao início, fiquei muito preocupado porque esta é uma profissão desgastante e muito masculina mas hoje estou orgulhoso porque elas fazem um bom trabalho”, confessa enquanto lhe correm lágrimas pelo rosto. Também ele garante que vai continuar nesta profissão “até morrer”.