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“Uso mais vezes saia no Dubai do que em Portugal porque aqui não há piropos”
dedicação. Ana Luísa Santos diz que há grandes diferenças entre Portugal e Dubai

“Uso mais vezes saia no Dubai do que em Portugal porque aqui não há piropos”

Casal de Santarém deixou a vida profissional estável que tinha em Portugal e decidiu responder positivamente ao desafio de trabalhar nos Emirados Árabes Unidos. Ana Luísa Santos é médica dentista. O marido é gestor numa multinacional. A família foi-se adaptando às grandes diferenças culturais entre um país pequeno e pobre e um emirado rico, onde é tudo à grande.

Ana Luísa Santos tinha um emprego estável como médica dentista em várias clínicas da região, tal como o seu marido, Luís Valente, numa multinacional em Lisboa, até que, um dia, surgiu uma proposta para o marido ir trabalhar para o Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. “E porque não?”, questionou logo Ana Luísa. O marido foi o primeiro a fazer as malas e a partir, em Janeiro em 2015. Passados sete meses, foi a vez da médica dentista de Santarém, juntamente com os dois filhos, na altura com nove e cinco anos, embarcarem na aventura.
“Fui completamente à descoberta. O que me valeu foi o meu marido já estar lá e os emigrantes portugueses que lá residem que me ajudaram bastante”, admite a dentista de 39 anos, dizendo que a primeira acção que fez foi inscrever-se para fazer um exame que a habilitava a exercer funções como médica dentária nesse país do Golfo Pérsico e colocar os filhos num colégio internacional.
“Foram os seis meses mais difíceis que passei aqui”, confessa, explicando que deixou de ser uma mulher que trabalhava das 9h00 às 20h00 em Portugal para ficar, de repente, em casa a tomar conta dos filhos e a estudar. Mas, houve outras dificuldades que surgiram, nomeadamente a língua. “O meu inglês já estava um pouco enferrujado”, ri-se. Quanto à condução naquele país, considera que não foi tão difícil como pensava mas, ao início, confessa que não deixou de usar o GPS.

Os pratos que matam as saudades
E se a língua e a orientação na cidade foram as partes mais difíceis, já na alimentação não teve tantos problemas. “Aqui há quase tudo nos supermercados e não nos temos de preocupar. É preciso é ter dinheiro”, adianta. O que falta só, diz, “é o bacalhau, porque não costumam consumir, e os enchidos, porque não comem carne de porco”. Ainda assim, não deixa de cozinhar os pratos típicos como o bacalhau à brás ou a sopa da pedra que ajuda a matar as saudades do país. “Quando vou a Portugal no Natal trago sempre esses produtos na minha bagagem”, revela.
Ana Luísa Santos explica que existem grandes diferenças entre Portugal e o Dubai. Começa logo pelo tamanho dos edifícios e a largura das avenidas. “Aqui é tudo à grande”, admite. Depois, existe muita oferta de entretenimento. Normalmente, à sexta-feira, único dia de folga da médica dentista, é quando se diverte em família. Costuma ir à praia, ir à piscina de algum hotel, ao cinema, aos grandes parques de diversão, fazer escalada ou esquiar dentro dos centros comerciais. “Eles têm de tudo, é impressionante”, admite.
Mas não é tanto este aspecto que mais lhe agrada na cidade. O que mais aprecia é, sem dúvida, a segurança. “Aceitei emigrar para esta cidade precisamente por causa disso. Se fosse para Luanda (Angola) ou Rio de Janeiro (Brasil) já não ia”, considera. Uma diferença grande que encontra é também a temperatura. Num local de deserto, frio é o que não existe. Além disso, por ser uma cidade com fortes costumes muçulmanos, há bastantes regras mas, por mais curioso que seja, “uso mais saia no Dubai do que em Portugal porque aqui não há piropos”.

“Aqui a artificialidade até se vê nos dentes”
A trabalhar numa pequena clínica, Ana Luísa Santos conta que já lhe passou de tudo pelas mãos mas, na sua maioria, os clientes são mulheres e crianças. “Normalmente, as mulheres costumam pedir ao meu patrão iraquiano para que seja eu a vê-las”, conta, dizendo que nessa altura costuma avisar que está com uma mulher e aí elas depois poderem tirar a sua ‘shayla’ – o lenço que lhes cobre o cabelo.
E se com as mulheres há regras, quando os clientes são homens Ana Luísa Santos também tem cuidados redobrados. “Normalmente costumo olhar para ele. Se ele der confiança ainda sorrio e aperto a mão, senão só digo ou bom dia ou boa tarde”. A escalabitana admite que algo que encontrou em comum entre os muçulmanos e os portugueses é o medo em ir ao dentista. A diferença, refere, é que “os portugueses depois andam desdentados e aqui metem logo implantes e coroas também porque têm dinheiro para isso. “Aqui a arficialidade até se vê nos dentes”, diz.
Olhando para o futuro, Ana Luísa Santos admite que, para já, irá manter-se no Dubai com a sua família mas confessa que não se vê a passar a sua velhice nesse país. O mesmo se aplica aos filhos. “Gostava que eles tirassem o curso superior deles em Portugal, pois temos um ensino universitário muito melhor que aqui. Vamos ver o que o futuro nos reserva”, acredita.

Uma filipina a tratar da cozinha

Com uma vida muito agitada, Ana Luísa Santos, como muitos emigrantes que residem no Dubai, confessa que não tem tempo para as lides domésticas e para acompanhar 24 horas os filhos. É por isso que tem uma empregada que lhe trata de tudo. “Ela é filipina, por isso tive de lhe dar um curso intensivo de cozinha portuguesa. Agora ela faz quase tudo, até pão com chouriço”, ri-se.

“Uso mais vezes saia no Dubai do que em Portugal porque aqui não há piropos”

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