“Emigrar nunca é fácil quando o coração fala mais alto”
Joaquim e Maria, um casal de Alcanena, emigrou para o Canadá há trinta anos e está perfeitamente integrado. Tanto que já não pensa regressar a Portugal. A adaptação não foi fácil, porque a separação das raízes doeu muito, mas o objectivo de ter uma vida melhor foi cumprido.
Joaquim Teteto e Maria Cândida deixaram Alcanena em 1987 rumo a Montreal, no Canadá. Tinham casado há pouco e procuravam um futuro melhor, longe dos salários baixos que mal davam para as despesas quanto mais para grandes sonhos. Ele era metalúrgico numa empresa de Alcanena e ela operária têxtil em Minde. Montreal foi o destino porque era lá que Joaquim tinha um amigo já radicado que o aliciou a ir porque havia por lá muito trabalho.
“Não foi fácil deixar a família, os amigos, as raízes no nosso Portugal, que amávamos e amamos”, contam. “Emigrar nunca é fácil quando o coração fala mais alto”, desabafa Joaquim. As promessas de trabalho afinal não se concretizaram e ficou três meses sem emprego. “Desanimei e pensei em regressar a Portugal, valeu a coragem e determinação da minha esposa que me fizeram continuar, até hoje, já lá vão trinta anos”, diz.
Maria Cândida teve mais sorte e começou a trabalhar numa fábrica de confecção de vestidos de senhora uma semana depois de ter chegado a Montreal, onde não teve dificuldade de adaptação, porque a maioria das trabalhadoras eram de origem portuguesa.
Aprender a língua francesa era uma imposição e uma necessidade por isso Joaquim e Cândida começaram a frequentar aulas nocturnas gratuitas. Joaquim, entretanto, conseguiu emprego numa metalúrgica e as muitas horas de trabalho condicionaram a ida às aulas, acabando por desistir. Maria Cândida continuou a estudar e hoje fala fluentemente o francês e um pouco de inglês.
O facto de conhecer a língua foi fundamental para Cândida mudar de profissão. Deixou a confecção de vestidos e foi contratada como governanta para gerir a casa de algumas famílias abastadas. Advogados, juízes, médicos, contam com os serviços de Cândida que se sente realizada profissional e financeiramente.
Saudades mitigadas via skype
As saudades da família e amigos eram mitigadas através do telefone e por carta. Agora é mais fácil contactar com os familiares via skype. É assim que se vão mantendo ao corrente do que se passa nas suas terras e na região. Passavam férias em Portugal de três em três anos, quando os pais e sogros de Joaquim eram vivos. Depois da morte destes a opção de férias passou para outros países, como Cuba, onde as praias e o custo de vida é muito aliciante.
O nascimento do único filho, Michael, agora com vinte e oito anos, aconteceu dois anos depois de terem chegado a Montreal. Foi um desejo tornado realidade. Criar o filho num país como o Canadá foi gratificante porque as escolas são óptimas e as condições de acompanhamento das crianças facilita muito a vida dos pais que trabalham.
Agora esperam vir de férias a Portugal mostrar o país à namorada do filho e revisitar a família e amigos e os lugares que nunca esqueceram, como os Olhos de Água, um lugar de boas recordações.
Depois de passar por algumas dificuldades laborais, Joaquim conseguiu finalmente o trabalho que desejava na empresa Apollo Microwve, Lte, onde é responsável pelo departamento de soldadura, que conta com seis soldadores. Está há vinte e três anos na empresa, graças ao bom trabalho que desempenha.
Joaquim e Cândida viveram dezassete anos na vila Lasalle, a meia dúzia de quilómetros de Montreal, numa casa onde pagavam renda. Um dos sonhos do casal era construir uma casa própria com todas as comodidades desejadas e isso aconteceu há nove anos. Mandaram construir uma vivenda na vila de Mercier, a cerca de doze quilómetros de Montreal.
Regresso a Portugal posto de parte
O casal não pensa voltar para Portugal porque já firmou raízes no Canadá. A cultura dos dois países é muito diferente. Joaquim e Cândida dizem que nunca se sentiram discriminados por serem portugueses. Reconhecem que uma mudança de país nunca é fácil, pelas saudades de quem fica, mas a integração num país como o Canadá pode ser um desafio muito promissor. “Ir ao banco ou a uma repartição pública com a roupa de trabalho é visto com muito bons olhos e pode significar ter prioridade no atendimento”, refere Joaquim, que lembra que em Portugal se passa exactamente o contrário.
Joaquim e Cândida acreditam que fizeram a melhor opção de vida: “Se tivessemos continuado em Portugal, mesmo a trabalhar imenso, nunca teríamos conseguido ganhar o que ganhamos aqui”. Sentem a falta da comida tradicional portuguesa e das festas populares, que procuram compensar com os encontros nas associações de portugueses radicados em Montreal, onde se promovem festas com a gastronomia portuguesa sempre presente.