Árvores vão causar danos na igreja de Samora Correia mas população não as deixa tirar
Azulejos que vão ser recuperados podem daqui por uns anos ser afectados pelo crescimento das raízes
Os azulejos da Igreja de Nossa Senhora da Oliveira, em Samora Correia, vão ser recuperados, numa intervenção que vai custar 366 mil euros, mas nada garante que daqui por uns tempos não seja necessária nova intervenção, por causa das raízes das duas árvores que nasceram espontaneamente na fachada. A oliveira e a figueira foram mantidas nas obras de beneficiação da igreja em 2015 porque a população, que atribuiu o seu aparecimento à intervenção divina, opõem-se à sua retirada. A manutenção das árvores no topo do edifício é uma preocupação, já que as raízes vão percorrendo o interior da parede e, apesar de não terem capacidade para deitarem a fachada abaixo, podem causar danos.
O arquitecto responsável pelas obras em 2015, Estevão Calado, explica a O MIRANTE
que aquela intervenção foi planeada no sentido de preservar a permanência das árvores. Mas adverte que as paredes são à base de elementos porosos, o que leva à expansão das raízes. “Com a chuva e a humidade as raízes radiculares vão continuar o seu desenvolvimento e isso irá influenciar negativamente a estrutura do edifício”, sublinha o arquitecto, que no entanto garante não estar em causa a segurança das pessoas mas apenas a saúde do edifício, “pois estamos a falar de dois elementos vivos que vão continuar a crescer”.
O pároco local, Heliodoro Nuno, também está preocupado com a situação, salientando que “as raízes percorrem a parede desde o topo até à parte inferior da igreja”. O padre esclarece que os técnicos foram da opinião que era possível manter as árvores na sequência da intervenção de recuperação do templo, atendendo “à vontade das pessoas”, mas com a consciência que “bem à estrutura as raízes não fazem”. Posição coincidente com a do arquitecto: “Não podemos afirmar que daqui a uns anos, a nível interior, ou mesmo na fachada, não possam surgir problemas derivados da permanência das árvores”.
O presidente da Câmara de Benavente, que financia a recuperação dos azulejos que está para se iniciar, em princípio este mês, é mais contido e para já não vê problemas na permanência das árvores na igreja. “As obras já realizadas foram efectuadas tendo por base a estabilidade da construção, para que as árvores possam coexistir com a estrutura do edifício”. Carlos Coutinho reforça que “as duas árvores são um símbolo com que as pessoas se identificam e é importante manter esse simbolismo vivo”.
A recuperação dos painéis de azulejos vai custar cerca de 366 mil euros e vai ser feita pela empresa “Nova Construção-Restauro e Conservação do Património”. As obras são financiadas a 75% pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER) e os restantes 25% são suportados pela Câmara de Benavente e pela paróquia. A actual Igreja Matriz de Samora Correia foi inaugurada e benzida em 1721 e ninguém sabe indicar com precisão quando surgiram as duas árvores. Para Maria Efigénia, de 78 anos, a explicação é muito simples: “Assim como Deus criou as plantas e animais, também o fez com estas árvores. Até já cegonhas estiveram nesta torre. É tudo obra de Deus criador”.