“Quero manter o Grémio de portas abertas e ao serviço da comunidade”
Jorge Feliciano é o presidente da colectividade da Póvoa de Santa Iria. Tem 46 anos e o trisavô foi um dos fundadores do Grémio Dramático Povoense, da Póvoa de Santa Iria. Jorge Feliciano é presidente da histórica colectividade há dois anos e quer recandidatar-se para outros dois. Diz que aceitou o desafio para poder dar algo de si à comunidade. A associação está financeiramente sólida e sem dívidas e com uma panóplia de actividades vasta, no ano em que completa 129 anos de existência.
Sem o Grémio Dramático Povoense a cidade da Póvoa de Santa Iria, concelho de Vila Franca de Xira, seria culturalmente mais pobre. A opinião é de Jorge Feliciano, 46 anos, presidente da colectividade. Desde sempre ligado ao Grémio – o trisavô foi um dos seus fundadores – Jorge Feliciano é presidente há dois anos, desde a saída de Rui Benavente, uma cara conhecida da cidade, e quer agora obter a aprovação dos sócios para mais dois anos a gerir a colectividade. Para já não tem listas concorrentes.
“Ofereci-me para ajudar o Rui Benavente porque emocionalmente estou ligado ao Grémio, quase como todas as pessoas da Póvoa velha. Desde pequenino que vinha às actividades. Achei que era altura de fazer alguma coisa pela comunidade, mesmo com o pouco tempo que tinha. Achei que devia colaborar. Gosto disto e quero contribuir”, conta a O MIRANTE.
Jorge, que é agente de seguros, garante que o associativismo é mais fácil quando é feito com gosto. “Quando o associativismo for pago é sinal que o mundo não é perfeito. O associativismo tem de ser pago apenas quando não se conseguir pessoas voluntariamente. Entendo que haja pessoas que não possam abdicar de umas horas delas ao associativismo quando poderiam estar a fazer actividade remunerada mas as coisas não são fáceis. Todos devíamos dar um pouco de nós para o mundo que nos rodeia”, explica.
Actualmente o Grémio beneficia de um edifício novo, o Espaço Cultural Fernando Augusto, construído pelo município há quatro anos e que tem permitido à associação desenvolver novas actividades que, só por si, pagam a despesa. “O Grémio hoje está financeiramente sólido e não temos dívidas. O mérito é do Rui Benavente, nós limitámo-nos a continuar o seu trabalho. Havia receio quando este espaço foi criado e cedido pela câmara para explorar que não tivéssemos capacidade para pagar as despesas, que são grandes. Mas felizmente conseguimos triplicar as actividades e ele paga-se a si próprio. Temos tido quase sempre salas esgotadas no teatro e muita gente nas actividades”, explica o dirigente, que elogia os apoios recebidos da Câmara de Vila Franca de Xira e que são “responsáveis por permitir grande dinamismo” ao Grémio.
Aposta na continuidade
A direcção de Jorge Feliciano aposta na continuidade e a ambição é manter o Grémio de portas abertas e ao serviço da comunidade. “Ganhámos o ano passado o orçamento participativo com um projecto para adaptar um largo ao lado da nossa sede para usufruto da população, com 120 metros quadrados, que nos foi cedido. Gostávamos de o poder inaugurar no nosso 130º aniversário”, confessa o dirigente. O projecto deverá custar entre 100 e 150 mil euros.
“O maior sonho é que aparecesse mais gente a querer colaborar e dar o seu trabalho voluntário ao Grémio. A equipa que tenho na direcção é formidável, somos poucos mas bons, sempre que é preciso estão presentes e ajudam. Estamos a passar por um bom momento. A nossa história é muito longa e bonita. Os anos 60 foram um grande período do Grémio, foi por aqui que toda a parte contestatária do regime passou, incluindo o Zeca Afonso e autores neo-realistas. Quando foi fundado acolheu comícios a favor da República. Isso mostra o papel que tivemos e ainda temos na sociedade”, conclui.
“Não podemos viver num casulo”
Um dos maiores desafios da direcção do Grémio é conseguir fazer com que os moradores da zona norte da cidade, uma zona mais dormitório, desçam à zona “velha” para assistir aos espectáculos. “Temos conseguido e apostado nas novas tecnologias para fazer passar a mensagem. As associações não podem viver em casulos, temos de aproveitar as novas oportunidades. A nível cultural a Póvoa sem o Grémio não existe. Há outras associações mas mais viradas para o desporto. Por isso temos de aproveitar isso”, conta.
Actualmente o edifício tem um parque de estacionamento provisório criado pela câmara. A perspectiva é que possa ser o Grémio a geri-lo no futuro. “Como está ainda provisório o acesso é livre. Durante o dia não é necessário para nós, mas a partir das 18h00 precisamos dele para quem vem às actividades e aos fim-de-semana para quem vem ver os espectáculos. O melhor era sempre ser pago e termos ali um retorno, mas mais importante que o dinheiro era termos a certeza que a pessoa quando vem ao Grémio possa ter estacionamento”, defende.