“Na Austrália há menos stress e preocupações do que em Portugal”
Coragem foi o que não faltou a Miriam Rosário na hora de ir viver sozinha para o outro lado do mundo para seguir o seu sonho de estudar música numa das mais conceituadas universidades do mundo. E apesar das grandes diferenças culturais entre Portugal e Austrália, a jovem de Santarém conseguiu adaptar-se facilmente ao novo país onde o Natal é em pleno Verão e o bacalhau está ao preço da morte.
Miriam Rosário, 29 anos, estava feliz em Portugal até que chegou o momento do agora ou nunca e decidiu ir atrás do seu sonho de estudar música em Sydney, na Austrália. Agarrou nas malas e em Janeiro de 2016 partiu à aventura.
“Já conhecia a Hillsong College, em Sydney. Depois a Austrália é um país com uma beleza incrível e tem oportunidades de trabalho. Foi juntar o útil ao agradável”, confessa a jovem natural de Santarém, dizendo que nos primeiros dias contou com a preciosa ajuda de um amigo que já lá vivia há cerca de um ano. “Não tive grandes dificuldades de adaptação. Tive foi de alterar algumas rotinas como acordar bem mais cedo do que estava habituada em Portugal e contar com a diferença horária para falar com família e amigos”, conta.
Miriam Rosário explica que existem bastantes diferenças entre Portugal e a Austrália. Começa logo pela forma de relacionamento. Enquanto os portugueses são conhecidos por abrirem a porta de casa a toda a gente, com os australianos já não acontece o mesmo. “Neste país, porque grande parte das pessoas está apenas cá por um período de tempo, as pessoas são um pouco mais fechadas”, adianta. Talvez, acredita, “seja uma forma que arranjaram de se proteger por estarem constantemente a ver pessoas de que gostam a ir embora”. Depois, existe uma grande cultura do ar livre. A população acorda mais cedo para fazer desporto e sai mais cedo do trabalho para fazer actividades na rua com a família. “Aqui há menos stress e preocupações do que em Portugal”, admite.
Natal em Julho e bacalhau nas ocasiões especiais
E porque a época natalícia é passada em pleno Verão, uma peripécia que ainda hoje guarda com muito carinho foi ter celebrado Natal em Julho. É que, explica, em Sydney, em Julho é Inverno e “como Inverno sabe a Natal decidi celebrar esta data”. E nada ficou de fora. Montou a árvore, juntou um grupo de amigos, acendeu a lareira, viu filmes de Natal, trocou prendas e até comeu à boa maneira portuguesa. “Afinal, Natal é quando um homem quiser, certo?”.
Apaixonada pelo seu país, a jovem escalabitana diz que do que sente mais saudades de Portugal é da família, dos amigos e da comida portuguesa, principalmente a feita pela sua mãe. É que, confessa, “não tem sido fácil ir a Portugal. É uma viagem longa e por isso tem de ser bem programada”. Felizmente, adianta, vive-se numa era em que a tecnologia ajuda imenso a encurtar distâncias, graças às vídeo-chamadas, mensagens de whatsapp e emails. Quanto aos pratos portugueses, diz fazer questão de os cozinhar quando é a sua vez de estar à frente do fogão. “É uma forma de matar saudades e gosto que os meus amigos provem as nossas iguarias típicas”, revela. A única dificuldade é adquirir alguns ingredientes como é o caso do bacalhau, “mas vamos conseguindo manter a tradição, principalmente em ocasiões especiais”.
Cantores australianos bem promovidos
A frequentar o curso de Composição Musical e a trabalhar em part-time numa cafetaria e como vocalista, Miriam Rosário conta que o seu dia começa muito cedo, pelas seis da manhã. Ainda faz alguns exercícios de voz, toma o pequeno-almoço e vai para a universidade. Quando acaba as aulas vai para o seu trabalho. Só no final do dia é que ruma a casa, janta com os seus colegas e aproveita para descontrair e jogar às cartas. Nas tardes em que não trabalha costuma ir à praia, para planear o casamento que irá acontecer brevemente com um americano que conheceu já em Sydney e aproveitar a cidade. “Nesta cidade há sempre um café ou restaurante por descobrir e uma nova exposição por visitar”, explica.
Sem conseguir dizer se prefere cantar em português ou em inglês, Miriam Rosário olha com bons olhos o seu futuro e o do seu país, admitindo que quando a conjuntura melhorar irá regressar e quer que os seus filhos nasçam em Portugal. “Agora, se ficarão só eles saberão. Nós vamos encorajá-los a sonhar e a não ter medo de arriscar”, conclui.