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Abracadabrante Serafim das Neves


Há dias fui abordado por um jovem que me deu um papelinho onde anunciava as suas consultas como Mestre em Astrologia. O que me espantou não foi o facto de ele prometer cura, num prazo de sete dias, para problemas de amor, vício, negócios, justiça, mau olhado e impotência sexual, nem sequer a garantia de que, com ele, os clientes só pagam depois de curados. O que me chamou a atenção foi o facto de, também na área do espiritualismo e da astrologia, haver Mestres tão jovens.
Como sabes, actualmente uma licenciatura é o equivalente à antiga quarta classe e por isso os jovens, ainda antes de trabalharem um único dia na vida seja em que área for, se atiram a pós-graduações, doutoramentos e mestrados com a mesma energia com que nós nos atiramos aos caracóis e às imperiais num dia de Verão.
Longe vão os tempos em que era preciso uma vida para chegar a Mestre. Agora, graças às novas tecnologias e a sites como a Wikipedia, fabricar mestres e doutores é mais rápido do que fabricar chouriços, salvaguardadas as devidas diferenças, o que é um avanço cultural e académico de altíssima relevância. E também há quem venda teses de mestrado online no Olx, por exemplo, o que ainda é mais fantástico. Acabaram-se as elites, Serafim. Agora somos todos iguais. E se não somos todos iguais, somos todos Mestres.
Achas estranho que Santarém queira bater o recorde do maior ajuntamento de pessoas com barrete de campino na cabeça, que actualmente pertence a Benavente, e falas em competição fratricida. Eu tenho outra opinião. Santarém não quer guerras com Benavente e o facto de ter escolhido bater um recorde que pertence àquele concelho foi mero acaso. Alguma vez alguém de Santarém poderia imaginar que tal recorde existia e que pertencia a Benavente? Lembra-te que Benavente fica em cascos de rolha. É uma terra longínqua lá para os confins do Mundo. Fica quase tão longe de Santarém como, sei lá... a Papua Nova Guiné, por exemplo. Era impossível saber sequer que havia por lá pessoas, quanto mais barretes de campinos!!!
E este caso não é único. Não há aldeia, vila ou cidade que não tenha um festival das sopas, por exemplo e todos eles são iniciativas únicas e originais. Vai lá tu dizer ao pessoal que o Congresso da Sopa original é de Tomar. É o vais?! E atreves-te a dar o desgosto a quem faz festivais da flor, dizendo-lhes que o Festival da Flor é em Campo Maior? Claro que não porque não desejas que te olhem como se estivessem a ver um extraterrestre.
Podia dizer-se que andam todos a copiar uns pelos outros, desde festivais do caracol, do sável, da febra ou do pichelim à lagareiro. Mas isso não é verdade. Ninguém anda a copiar ninguém porque ninguém sabe o que se passa fora da sua terra que, por acaso...é a terra mais linda do mundo e arredores, o que até é verdade, diga-se desde já. Seja lá que aldeia for!
Por causa da chuva de palavrões que houve nos recintos desportivos o presidente da câmara de Almeirim vai criar um código de conduta dirigido aos agentes desportivos e, sobretudo, aos pais (e mães) dos atletas. Ora aqui está alguém a quem auguro uma fantástica carreira num futuro governo. Ele ainda é autarca mas já podia ser ministro. Afinal não são os ministros que resolvem todos os problemas com mais uma lei, um decreto ou um despacho? A coisa até pode resultar mas pelo menos ninguém os pode acusar de não terem feito nada.
Aqui há uns meses, já não sei onde, para acalmar os protestos do bom povo contra a merda de cão nos passeios, os políticos locais fizeram um regulamento que sancionava os donos dos canídeos com seiscentos euros de multa. É verdade que os passeios continuam cheios de merda mas pelo menos acabaram-se os protestos. É que nem o mais radical se atreve a pedir o aumento das multas de seiscentos para mil euros.
Termino com uma menção honrosa para o vereador do PS na Câmara de Santarém, Rui Barreiro, que partilhou no Facebook uma entrevista a um possuído pelo Demo que, para além de acusar o presidente da câmara, de todos os males de Mundo e arredores, só dizia carvalhadas. Foi de homem, Serafim. Foi de homem!
Saudações com...pimenta na língua
Manuel Serra d’Aire

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