Um empresário optimista que apostou em tempos de crise
Jorge Ferreira, 45 anos, engenheiro electrotécnico, é proprietário do JAF – Consultores de Engenharia, com sede em Santarém.
Garra e espírito de iniciativa foi o que não faltou a Jorge Ferreira há um ano quando abriu o JAF – Consultores de Engenharia em Santarém. Uma oportunidade que o empreendedor não quis deixar passar depois de ter regressado de Angola onde trabalhou durante cinco anos. E apesar da construção civil estar a passar por uma fase difícil, o engenheiro electrotécnico mostra-se bastante optimista acerca do futuro do sector até porque, acredita, o país tem de avançar.
Nascido e criado em Alpiarça, Jorge Ferreira ainda se lembra do dia em que disse ao seu pai, proprietário de uma empresa de construção civil, que preferia antes ir trabalhar. Na altura, frequentava o 8.º ano de escolaridade. “Nunca fui muito virado para os estudos”, adianta o engenheiro de 45 anos. Foi quando começou, durante o dia, a trabalhar na empresa do seu pai e do seu tio e a estudar durante a noite. “Fazia de tudo o que competia a um trabalhador das obras”, conta.
Foi nessa altura que começou a olhar para o trabalho dos electricistas e a interessar-se. Afinal, diz, “não era tão sujo e tão pesado como o que fazia”. Entretanto, e já com o 9.º ano de escolaridade concluído, decidiu frequentar o curso de Técnico de Electrotecnia na Escola Secundária Dr. Ginestal Machado e seguir Engenharia Electrotécnica no Instituto Superior de Engenharia de Lisboa (ISEL). “Ia estudando e trabalhando numa empresa de electricidade ao mesmo tempo”, adianta.
Ainda esteve alguns anos a laborar na parte de produção na empresa de iluminação IPI, em Muge, até ter sido convidado, primeiro, para ir trabalhar numa empresa de electricidade em Lisboa, na parte de fiscalização e projectos e, mais tarde, para Luanda (Angola), no Grupo MCA. Lá ficou durante cinco anos na parte de direcção de produção.
“Angola é um país pobre, mas em termos de construção as obras são sempre de grandes dimensões”, conta o engenheiro que esteve na construção do estádio do Sport Luanda e Benfica. Jorge Ferreira admite que a parte pior de se trabalhar na construção civil em Angola foi, sobretudo, a aquisição dos materiais a tempo e horas de concluir as empreitadas. Algo quase impossível naquele país.
Jovens devem apostar na prática
Da experiência em África destaca também as amizades fortes que fez. “Lá, como estávamos sozinhos, costumávamos encontrar-nos aos fins-de-semana e jantarmos juntos”, recorda. Casado e com filhos, era via skype que o engenheiro costumava matar saudades da família, para além das viagens quatro vezes por ano que a sua empresa pagava para vir a Portugal.
Entretanto, a distância começou a pesar e como Angola entrou numa crise económica e a empresa começou a reduzir pessoal decidiu regressar a Portugal. “Na altura, ainda aguardei que me renovassem o visto e que a situação do país melhorasse mas como nunca aconteceu decidi ficar cá”, explica.
Passou, então, a fazer os seus projectos em casa até que, através de uma amigo, foi à NERSANT - Associação Empresarial da Região de Santarém e há um ano decidiu começar o seu negócio. Não está arrependido, apesar de na região a actividade estar ainda um bocado parada. “Actualmente, fruto da crise económica, só nas grandes cidades é que a construção civil tem andado”, refere o engenheiro que aguarda por melhores dias.
Em relação ao facto de os jovens começarem a trabalhar sem qualquer experiência na área, Jorge Ferreira não tem dúvidas que se deve cada vez mais incentivar os estudantes de electrotecnia a apostarem na prática. Pois, acredita, só assim os jovens não terão tanta dificuldade em integrar-se no mercado de trabalho. Talvez seja por isso que, frisa, “hoje-em-dia os cursos profissionais estão cada vez mais na moda”.