Em que terra te transformaste minha Vila Franca
Com tanto orgulho dei-te a conhecer. Quando aluna do Liceu Maria Amália, em Lisboa, todas as colegas sabiam que eu era duma linda terra ribatejana chamada Vila Franca de Xira que era única e diferente. Tirei o meu curso e dei os melhores anos da minha vida a esta terra, ajudando a formar seres íntegros para que o Mundo fosse melhor.
Que vejo hoje? Uma terra sem vida. Ruas vazias. Comércio arruinado. Casas velhas e desocupadas. Até o cemitério mete dó e por isso a minha revolta.
O meu marido João Matos (das sapatarias) faleceu há um ano. Tal como eu, tinha muito orgulho da terra que o viu nascer. Contribuiu para que ela tivesse um comércio digno e lojas bonitas que levaram pessoas a essa terra, criou postos de trabalho. E por tudo isso merecia, pelo menos, ter uma campa digna em vez de um buraco porque a câmara não autoriza que se arranje a campa.
O que resta da campa é uma lápide bonita com as fotos do meu pai e da minha mãe, uma pedra mármore nova e um jarrão de mármore encostados ao muro, assim como estão tantas outras campas neste cemitério.
Por os meus entes queridos tenho tentado tudo mas só encontro burocracias e obstáculos. Quando fui pedir ajuda à pessoa responsável pelo assunto na câmara ela não se dignou receber-me.
Peço que respeitem o passado e as pessoas que estão mortas e que contribuíram para que esta terra tivesse sido grande. É que, com este presente, dificilmente haverá futuro para Vila Franca de Xira.
Que gente é esta, tão desumana que não compreende que as suas atitudes ferem e doem? Olharmos para a campa onde estão a nossa mãe, nosso pai e marido e vermos um buraco em vez duma campa digna e arranjada, magoa. A única coisa que quero é uma campa digna, tratada e regularizada.
Valerá a pena votar mais alguma vez por esta terra? Creio que não!
Maria Vitória Matos