Crónicas de um ex-autarca de Alcanena compiladas em livro
Primeiro presidente eleito desse município reconhece que a vida de autarca hoje não é fácil mas há quatro décadas era bem mais complicada, sem fundos europeus e com quase tudo por fazer.
“Alcanena!...Assim és… Retalhos da vida de Alcanena (1987-1996)” é um livro de crónicas escritas por Joaquim Pereira Henriques, 96 anos, o primeiro presidente da Câmara de Alcanena eleito depois do 25 de Abril, cargo que exerceu entre 1976 e 1986. Na apresentação do livro, no dia 27 de Maio, nos Paços do Concelho, a presidente da câmara, Fernanda Asseiceira, fez questão de ceder o cadeirão presidencial a Joaquim Pereira Henriques, sublinhando a grande estima que tem pelo ex-autarca, que sempre se pautou por ideais de democracia, honestidade e competência.
A autarca destacou ainda que num tempo em que os políticos são conotados com práticas de corrupção e deslealdade às funções que exercem, assume particular importância o exemplo de Joaquim Henriques, “no qual me revejo, porque estou na vida política com lealdade e honestidade”.
Fernanda Asseiceira referiu que este livro, uma edição da Câmara de Alcanena, tem muitos textos que continuam actuais, apesar de terem sido publicados no extinto Jornal Alviela há 20 anos. “Há muitos textos dedicados à poluição no concelho, que continua a ser um problema actual, apesar dos muitos investimentos feitos para inverter o flagelo”, disse a autarca acrescentando que “um dia também poderei escrever um livro sobre como encontrei o concelho quando assumi o cargo”.
“A Fernanda já apanhou as estradas alcatroadas”
“Ser-se presidente da câmara é difícil e a Fernanda já apanhou as estradas alcatroadas”, referiu Joaquim Pereira Henriques lembrando, com o humor que o caracteriza, que quando assumiu a presidência do concelho avançou com todas as infraestruturas, desde a electricidade, à água, esgotos, estradas, mercado, piscinas… E numa altura em que não havia candidaturas a fundos comunitários, valeu o incremento da indústria de curtumes, que estava em franca expansão, e à qual a câmara cobrava 45% de imposto de transacções.
“Esse dinheiro arrecadado permitiu fazer muitas obras. Os funcionários da autarquia tinham a quarta classe mas eram profissionais de grande craveira. Eu ganhava dez contos e fazia de tudo para transformar Alcanena numa terra de progresso”, contou o ex-autarca.
Joaquim Pereira Henriques sublinhou que em 1986 foram investidos na despoluição do rio Alviela 500 mil contos, mas a situação persiste porque os industriais sempre olharam para a questão ambiental como factor competitivo para os negócios.