Recordo com alguma nostalgia os tempos em que o pessoal se deliciava na televisão com as notícias sobre sessões de pancadaria entre deputados em longínquos e exóticos parlamentos estrangeiros, quando ainda não havia internet, redes sociais, youtube e outras plataformas que nos trazem todos os dias imagens estapafúrdias que nos vão esgotando a capacidade de espanto.
Sempre tive um certo fascínio pela retórica política, pelos jogos de bastidores e pelos golpes palacianos. Pelas personagens sibilinas que vão manobrando na sombra (e às vezes ao sol) os nossos destinos colectivos. Não gosto da política feita de forma desbocada e literal, sem classe, porque não enobrece essa actividade nem quem a exerce. É por isso que recomendo um curso urgente de boas maneiras aos eleitos e eleitas da Assembleia de Freguesia de Samora Correia que se envolveram numa peixeirada medonha na última sessão desse órgão. “Parvalhão” e “monte de merda” foram alguns dos mimos proferidos na sala, num momento de excitação política que espero que fique devidamente registado em acta para deleite de quem aprecia a literatura mais libertina e escatológica.
Indo para assuntos mais sérios, não sei se estás a par mas uns monges videntes anunciaram por antecipação a aparição pública da Virgem Maria em Ourém no dia 13 de Junho, a partir das 18h00. Li com curiosidade essa mensagem, onde se referia que a aparição aconteceria durante um encontro cristão ecuménico de oração pela paz no mundo que decorreu numa agro-quinta da zona, e aguardei por novidades, porque esse era o dia de Santo António e não me dava jeito abdicar das sardinhas assadas, da broa e das minis.
No dia seguinte liguei a televisão, passei os olhos pelas capas dos jornais, ouvi a rádio, fui ao café escutar as calhandrices do dia e... nada! Nem uma pequena referência que fosse a tão insólito acontecimento. Pelo que fiquei sem saber se Nossa Senhora apareceu mesmo e ninguém deu eco disso ou se fez uma grande desfeita aos tais monges videntes.
Os jornais continuavam cheios de notícias sobre o Sporting, a selecção nacional, as façanhas dos nossos políticos e dos famosos pindéricos e até, vê lá tu, sobre um gato que adivinha os resultados do Mundial. Tudo, obviamente, assuntos muito mais pertinentes e decisivos para a normal rotação da Terra do que tão proeminente acontecimento – e aqui abro um parêntesis para dizer que me custa a perceber a fixação da Virgem por aparecer naquela zona, com tanto local mais aprazível do nosso país para aparecer. Mas, enfim, gostos não se discutem...
Os pais de uma escola de Alverca reclamaram da quantidade e da qualidade da comida servida aos seus filhos e ilustraram as queixas referindo que, num caso concreto, uma perna de frango foi dividida por três alunos. Isso não se faz, mas penso que os pais se devem ter precipitado na denúncia. O mais provável é que essa medida, que eu considero muito pedagógica, provavelmente foi enquadrada numa aula prática de História de Portugal, para retratar os gloriosos tempos em que uma sardinha tinha que dar para três...
Saudações solsticiais do
Serafim das Neves