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“O fado canta-se de olhos fechados para sentir cada palavra”
Diana David já pensa em gravar o seu próximo disco

“O fado canta-se de olhos fechados para sentir cada palavra”

Diana David cresceu em Benavente e o fado faz parte da sua vida desde criança. Aos 14 anos estreou-se no palco a cantar fado de olhos fechados, com receio de enfrentar o público. Hoje, ultrapassada a timidez, continua a fechar os olhos e a agarrar o xaile por entre os dedos, mas para sentir cada palavra que canta. Aos 21 anos, Diana David lança “Sonho”, o seu primeiro trabalho discográfico.

Em Benavente o sino da igreja faz soar as oito da noite. A fadista Diana David escolhe um banco recatado no Largo 25 de Abril para falar de si e do seu fado. Agora que muita gente a reconhece na vila, prefere um sítio sossegado para estar “mais à vontade”. Com o nervosismo na voz, Diana David, deixa-o cair quando a palavra fado surge na conversa. Nasceu no Hospital de Santarém mas cresceu em Benavente. Tem 21 anos e uma vida levada a cantar fado com o vozeirão de mulher disfarçado na pele de uma menina.
O seu primeiro disco foi apresentado em Outubro, em Benavente. A sala estava cheia e os aplausos da noite alimentaram-lhe o sonho. A palavra sonho é a que dá o nome ao disco e surge ao recordar uma entrevista que deu a O MIRANTE, em 2017. “Vocês têm culpa nisto. Só se chama ‘Sonho’ porque nessa entrevista a minha mãe disse que ter uma filha fadista era o seu sonho”, explica.
Foi depois de ter vencido o concurso FestFado Ribatejo 2017, cuja final foi em Benavente, que a fadista conseguiu o apoio para gravar um CD. Garante que foi a partir daí que o fado se tornou assunto sério e que o sonho da sua mãe também passou a ser o seu.
Diana David frequenta o terceiro ano da licenciatura de Educação Básica, na Escola Superior de Educação de Santarém. Quando terminar o mestrado quer “ser professora de dia e cantar o fado à noite”. É solista numa tuna mista, a IssóTuna, canta com as bandas filarmónicas de Óbidos e Santo Estêvão, com a banda Five e integra o grupo musical Alma Ribatejana. Tudo o que sabe de música foi-lhe ensinado no Estúdio Etc & Tal, em Benavente.
Desde que se lembra de si, Diana tem memória de ser embalada por fados, na voz da sua mãe. Ainda criança, sem saber ler ou escrever, “apanhava a letra e cantava” pelos cantos da casa. Envergonhada, na altura, não se sentia capaz de cantar em público, só o fazia em frente a uma pessoa, a sua mãe. “Foi ela que me fez descobrir o fado, me inspirou e incentivou a cantar”, acrescenta.

“O público de Benavente dá-me muita força”
Defende Benavente e as suas raízes ribatejanas com unhas e dentes. Gosta de ir a esperas e corridas de toiros e só lhe falta arranjar uma tertúlia. Diz que deste ano não passa. No que toca ao fado, diz-se “conservadora”, embora aprecie alguns fadistas mais contemporâneos. É no fado triste, negro e carregado de sentimento que Diana David se perde. “Gosto de transmitir ao público aquilo que sinto e de os fazer sentir comigo. Só neste registo de fado, mais lento, é que sentimos verdadeiramente”, diz.
De xaile ao ombro carrega o sentido de cada nota, de cada palavra que lhe sai a cantar. “Não é por ser tradição, mas porque gosto de o sentir a entrelaçar-se nos meus dedos, enquanto canto o fado. É algo que me transmite emoção”, adverte.
Referindo-se aos temas que estão presentes no CD, Diana David diz que “quis chegar às gentes do Ribatejo”, cantando fados mais tradicionais que “realçam o sentimento” das tradições da região. Gravou, entre outros, “Os Encantos do Ribatejo”, “Tarde Triste no Campo Pequeno” e “Quando há Feira em Benavente”. É a cantar este último tema, escrito por Hermínia Silva, que a jovem fadista se enche de alegria e orgulho nas suas raízes. A letra “fala de tudo aquilo que Benavente tem de melhor, da Festa da Sardinha Assada, das tasquinhas, dos toiros e das pessoas”.
É no Calvário, a zona ribeirinha de Benavente, que Diana David se sente em casa. Nesse lugar onde se fazem as feiras e tasquinhas para provar os sabores do Ribatejo, onde se reúnem as tertúlias e se fazem as picarias com os campinos. Já cantou nesse lugar, mas qualquer outro do concelho a faz sentir em casa. “O público de Benavente dá-me muita força e sei que se não fossem eles não tinha chegado onde cheguei. Quero continuar a orgulhá-los e a representar Benavente através do fado”, diz.
A jovem fadista já pensa em gravar um próximo disco, desta vez com alguns originais. Já tem um na gaveta há cinco anos, escrito em homenagem ao seu avô, já falecido, e diz que vai começar a aplicar-se na escrita de novas canções.

“O fado canta-se de olhos fechados para sentir cada palavra”

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