Teve cancro da mama aos 24 anos e sorri 17 anos depois
Médicos disseram a Margarida Madureira que não era nada grave mas perdeu um peito com 24 anos e passou todos os horrores da quimioterapia e dos problemas emocionais
Uma noite, pouco tempo depois de ter feito 24 anos, Margarida Madureira apercebeu-se que tinha um alto num peito. Era algo estranho que nunca tinha detectado antes. O dia tinha sido triste porque fora o funeral do avô. Alarmada, dormiu pouco e no dia seguinte foi ao médico de família que a mandou fazer alguns exames. Quando os resultados chegaram o médico tranquilizou-a. Era um fibroadenoma. “Nada de sério”, nas suas palavras. Algo que se resolvia com uma simples cirurgia.
Margarida não ficou descansada e quis uma segunda opinião, tendo consultado uma médica particular que também dá consultas no Instituto Português de Oncologia de Lisboa (IPO). Voltou a ser observada e o diagnóstico foi o mesmo. “Mediante o resultado dos exames, a idade e sem antecedentes de cancro da mama trata-se de um fibroadenoma e tem fácil resolução”.
Submeteu-se então à cirurgia. Mas o que seria uma operação “simples e rápida” veio a revelar um problema maior. “O que a médica encontrou foi um tumor já muito ramificado”, lembra. Foi recolhida uma amostra para análise e o veredicto foi “um carcinoma maligno”. Uma semana depois estava de regresso ao IPO para fazer mais exames. “Foi tudo muito rápido”, recorda.
Nem Margarida nem os médicos queriam acreditar. Era uma paciente que fugia aos parâmetros normais da doença, tinha uma vida saudável, sem antecedentes familiares, e, acima de tudo, tinha 24 anos. Era a paciente mais jovem que já tinha passado pelo IPO de Lisboa com aquele problema. “Fiquei ansiosa, mas não muito preocupada, não senti que o mundo tinha desabado”, recorda.
O que a preocupava era o facto de ter acabado de ser colocada na Madeira, como professora do 1º ciclo do ensino básico e de não saber como proceder. A viagem para tratar das burocracias já estava marcada e por isso pediu à médica algum tempo. Quando regressou fez a cirurgia. “Foi-me feita uma mastectomia total do seio esquerdo, com remoção dos gânglios linfáticos da axila esquerda, seguida de reconstrução. Foram muitas horas no bloco operatório seguidas de dez dias de internamento”, lembra Margarida, realçando que contou sempre com o apoio da família e do namorado.
O namoro tinha começado três meses antes mas resistiu à doença, aos difíceis tratamentos de quimioterapia e às alterações do corpo e do humor de Margarida. “Depois dos tratamentos de quimioterapia ficava muito debilitada física e emocionalmente. Foi-me sugerido apoio psicológico, mas recusei. Quis ser eu a lidar com a situação. Foram dias complicados em que só estava bem deitada no escuro e não permitia que o meu namorado me tocasse intimamente. Ficávamos horas deitados de mão dada, sem falar”, recorda.
Também nunca usou peruca, embora tivesse perdido todo o cabelo. “A minha futura sogra, na altura, fez-me muitos lenços e chapéus e foi assim que passei todo o inverno. Vivo em Almeirim e a minha família é conhecida na terra. Toda a gente sabia o que se estava a passar e nunca senti discriminação ou olhares indiscretos”, refere. No entanto não foi sempre assim. “Num supermercado noutra cidade fiquei de frente para uma senhora já de idade que olhava insistentemente para mim. Na altura os peitos ainda estavam um pouco assimétricos e eu estava de lenço na cabeça… fiquei sempre com aquela imagem da indignação nos olhos da senhora”.
Margarida tem agora 41 anos e consegue sorrir quando diz que o tumor foi “um cromossoma que correu mal”. Casou em 2003 e dois anos depois foi mãe, respeitando os três anos de “limpeza” total do organismo.
“Depois de um cancro da mama ficamos sempre em estado de alerta. Mas todos os exames que tenho feito estão dentro dos valores normais”, assegura. Mãe de uma menina de 13 anos, tem o conforto da palavra dos médicos que dizem que, neste caso específico, não há risco genético. No entanto há sempre o “receio de mãe”, remata.
Grupo de Apoio de Santarém da Liga Portuguesa Contra o Cancro apela ao voluntariado
São necessários voluntários sobretudo para acções de sensibilização e prevenção junto de escolas, juntas de freguesia e empresas. Os requisitos são, ser maior de 18 anos, comparecer a uma entrevista de avaliação da disponibilidade e motivações e, no caso de a candidatura ser aceite, fazer uma formação específica, de dois dias, no IPO em Lisboa.
Os voluntários para o programa Vencer e Viver, especificamente dedicado ao cancro da mama, devem ainda obedecer a outros requisitos como ter tido a doença há dois anos ou mais.
Existem poucos homens a fazer voluntariado e a apoiarem a causa do cancro. A entrada de Luís Vasconcellos e Souza para co-coordenador do Grupo de Apoio de Santarém do Núcleo Regional do Sul da Liga Portuguesa Contra o Cancro, em 2016, fez acreditar que a situação seria alterada mas até ao momento, tal não se verificou.