Desenvolto Manuel Serra d’Aire
Há quase 20 anos que andamos nesta aturada troca de emails e é interessante verificar que muitos dos assuntos de que falavámos nesses tempos primordiais mantêm-se actuais, o que acaba por contradizer aquela máxima que alguém celebrizou de que o mundo muda muito em 15 dias. O mundo pode mudar muito em 15 dias mas por cá as coisas demoram muito mais tempo a mudar. Aliás, se não fosse a lei de limitação dos mandatos autárquicos, estou convencido de que ainda tínhamos no poder alguns dos velhos dinossauros, nem que andassem já de bengala ou de cadeira de rodas.
Também muitos projectos andam a passo de tartaruga e lembrei-me deste arrazoado todo depois de ler umas notícias sobre a discussão, em Santarém, do futuro do Campo Infante da Câmara, o local onde em tempos se realizou a Feira Nacional de Agricultura. Fui pesquisar e vi que já há mais de duas décadas tinham-se realizado assembleias municipais precisamente sobre o mesmo tema. Como o assunto continua quente, deduzo que em Santarém o mundo muda pouco em 20 anos.
E quem diz em Santarém diz noutros pontos da região. Podia exemplificar com as ambicionadas novas pontes sobre o Tejo na Chamusca ou em Abrantes, com o IC3 inacabado, com a variante ferroviária a Santarém, com a supressão de passagens de nível na Linha do Norte. Tudo na mesma como a lesma! Enfim, isso do mundo mudar muito em 15 dias é o que se pode classificar como um mito urbano, pelo menos por terras ribatejanas...
Quem também pouco tem mudado nestes últimos 20 anos é o excelentíssimo senhor engenheiro Rui Barreiro, que foi nomeado agora para a administração de uma nova empresa pública de gestão florestal. Funções que, estou certo, vai desempenhar com os habituais denodo e pertinácia só ao alcance dos predestinados. Funções que se vêm juntar a um vasto rol de cargos que foi somando nestas últimas duas décadas e de que o mais notório terá sido o de secretário de Estado das Florestas e do Desenvolvimento Rural, nomeadamente pela fama que lhe granjeou a célebre portaria de 2011 que reabriu a caça ao melro. Afortunada Pátria que tais filhos tem!
Outro político predestinado, o presidente da Câmara da Chamusca, Paulo Queimado (PS), está furibundo pelo atraso nas obras do novo Centro Escolar da vila e terá dito numa reunião de câmara recente que lhe apetecia “espancar alguém” por causa do assunto. E como eu o compreendo. Também eu fico com ganas de desancar alguém quando vejo autarcas que prometem mundos e fundos e deixam tudo por fazer.. Ou quando alguém leva o cãozinho de estimação a defecar à minha porta, por exemplo. Ou quando um árbitro rouba o meu clube.
Sinceramente, espero que os munícipes do concelho da Chamusca não tenham os mesmos apetites justiceiros do autarca Queimado caso este falhe prazos ou alguma das promessas que fez ao eleitorado. Ir para as reuniões de câmara com os olhos à Belenenses seria ainda menos dignificante do que comparecer em actos públicos em calções e chinelos, como se estivesse em Copacabana...
Adeus e beijinhos à prima
Serafim das Neves