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António Félix perdeu a esposa ao chocar contra um pesado parado na berma
Pedro e António Félix, filho e marido de Gabiela Félix

António Félix perdeu a esposa ao chocar contra um pesado parado na berma

Acidentes mortais na Estrada Nacional 3 entre Carregado e Azambuja são frequentes.

Foi na noite de 6 de Janeiro de 2016, já passava das sete da tarde. Estava a chover. António Félix vinha a conduzir e a sua esposa, Gabriela Félix, vinha ao seu lado. Circulava na Estrada Nacional 3 na zona de Vila Nova da Rainha, a caminho de casa em Azambuja. O percurso era conhecido porque era habitual passar por ali. A viagem foi interrompida devido a um brutal acidente. Já passaram quase três anos e António diz não se lembrar do que aconteceu. O carro chocou contra a traseira de um camião estacionado na berma. Ele desmaiou. A esposa, que tinha na altura 66 anos, morreu na ambulância a caminho do hospital.
Pedro Félix, o filho, que assiste à conversa com O MIRANTE chama àquele troço da Nacional 3 um “corredor da morte sem escapatória”. E explica porquê. “É uma das estradas nacionais com maior tráfego e sinistralidade do país. A falta de iluminação; de passagens para peões; de separadores centrais; de rotundas onde os veículos possam inverter a marcha, são apenas algumas das medidas de segurança inexistentes. A estrada não tem praticamente bermas e quando elas existem estão ocupadas por veículos pesados. Se o camião não estivesse ali estacionado, o acidente teria um desfecho diferente. Poderia não ter tido um fim trágico”, lamenta”.
“Já passou este tempo todo e ainda me dói passar no local”, diz António Félix, que há 30 anos também perdeu um amigo na mesma estrada, a quarenta metros do local onde perdeu a esposa.
“Os acidentes afectam profundamente as famílias, amigos das vítimas e abalam a comunidade. Arrisco a dizer que em Azambuja não há ninguém que não tenha perdido um parente ou amigo na Nacional 3”, sublinha o filho, Pedro. O que mais o entristece é o seu filho, na altura de quatro anos, ter perdido a avó. “Ela era uma das pessoas mais importantes para ele. Para além da falta que me faz a mim, dói-me mais a falta que ela faz ao meu filho. A minha mãe tinha muito para lhe dar”, acrescenta.
A Estrada Nacional 3 é a única alternativa à A1 naquela zona e o número crescente de plataformas logísticas, em Azambuja aumentou drasticamente a circulação de veículos pesados. As ultrapassagens mal calculadas são, segundo a Infraestruturas de Portugal (IP), a maior causa de acidentes entre Azambuja e o Carregado. Esta empresa pública acordou, no mês de Novembro, com a Câmara de Azambuja e a Câmara de Alenquer, avançar com obras naquele troço em 2020. Uma medida que, segundo Pedro e António Félix, não deve ser desvalorizada mas que “peca por tardia”.

Protesto em forma de marcha lenta ao longo de onze quilómetros

Criado há três anos, o movimento Plataforma EN3 foi fundado por André Salema, Inês Louro e Joaquim Ramos para reclamar medidas de segurança para os quilómetros da Estrada Nacional 3 entre Azambuja e o Carregado. No Dia Mundial em Memória das Vítimas da Estrada, dia 18 de Novembro, largas dezenas de populares juntaram-se a mais uma iniciativa organizada pelo movimento: uma marcha lenta de 11 quilómetros, de carro, que protesta contra o desinvestimento da Administração Central na prevenção e segurança rodoviária.
“Decidimos continuar a alertar para que este assunto seja resolvido ou minimizado. A nossa meta é que em 2019 se concretizem alguns dos objectivos a que os intervenientes se propuseram”, referiu a O MIRANTE, André Salema.
Os 11 quilómetros, em marcha lenta, causaram alguns constrangimentos ao trânsito, num domingo de chuva. As filas adensaram-se, mas quem seguia na marcha arredava o pé do acelerador e não ultrapassava os 10 Km/h. Foram duas horas com os quatro piscas a funcionar e com algumas buzinadelas de quem estava alheio ao protesto.
António e Pedro Félix também participaram na marcha, tal como “em todas as outras iniciativas da Plataforma EN3”, contam. “A nós que perdemos alguém, estas iniciativas tocam-nos de uma forma diferente mas todos sentem revolta contra esta situação”.

Este ano já morreram vinte e quatro pessoas nas estradas do Distrito de Santarém

Em 2017 perderam a vida nas estradas do distrito de Santarém 43 pessoas, em mais de quatro mil acidentes. As vítimas mortais quase duplicaram em relação ao ano anterior. Este ano, até Outubro, já morreram 24 pessoas.
Com o objectivo de lembrar aqueles que perderam a vida ou a saúde em acidentes de viação, assim como os seus familiares e os profissionais que lidam todos os dias com esta realidade, como polícias, equipas de emergência e clínicos, foi instituído em 2005, pela Organização das Nações Unidas, o Dia Mundial em Memória das Vítimas da Estrada. Um dia que se comemora todos os anos no terceiro domingo de Novembro.
Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) revelam que morrem todos os anos 1,2 milhões de pessoas em acidentes de viação, ficando feridas cerca de 50 milhões em igual período. Em duas décadas o número deverá aumentar em 65%, de acordo com a OMS, caso não haja alterações na forma de enfrentar esta realidade.
Em Portugal, segundo a Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR) morreram, no ano passado, mais de 500 pessoas nas estradas nacionais. Até Outubro de 2018 a contabilidade de vidas perdidas em acidentes rodoviários estava já nas 422 vítimas, 24 das quais no distrito de Santarém.
Durante a última década, 2009 foi o ano em que se registou o maior pico de vítimas mortais no distrito de Santarém. Perderam a vida 75 pessoas, em 2033 acidentes, 68 dos quais com vítimas mortais.
Entre os concelhos com maior sinistralidade no Distrito de Santarém em 2017, estão Santarém, com 218 acidentes e seis mortos; Ourém, com 180 acidentes dos quais resultaram três vítimas mortais; Tomar, com 129 acidentes e dois mortos; Torres Novas, com 116 acidentes e quatro vítimas mortais; Abrantes, com 111 acidentes dos quais resultaram três mortos.
Nos concelhos com menor sinistralidade destacam-se a Golegã e Constância, com 15 e 17 acidentes respectivamente, dos quais não resultou qualquer vítima mortal.
Segundo dados da ANSR a maior parte dos acidentes ocorridos no distrito de Santarém aconteceu dentro das localidades (65%) tendo os meses de Junho, Julho e Agosto sido aqueles em que se registou maior número de casualidades, com incidência nas sextas-feiras.
O relatório anual da Autoridade Nacional para a Segurança Rodoviária destaca como estradas mais mortíferas do distrito de Santarém, em 2017, a EN 118, com quatro mortes; a EN 3, também com quatro mortes; e a EN 119 e o IC 2, com três mortes cada. Assinala ainda outras vias onde se registaram acidentes com vítimas como a A 23, N 2, EN 114, A 1, e EN 113.
EN 10 é ponto negro em Vila Franca de Xira
Azambuja e Vila Franca de Xira inserem-se no distrito de Lisboa onde ocorreram cerca de oito mil acidentes em 2017, com um total de 51 vítimas mortais. No ano passado registou-se apenas uma morte no concelho de Azambuja, num total de 108 acidentes com vítimas, a maior parte deles registados na EN 3. Já em Vila Franca de Xira deram-se 339 acidentes com vítimas, três das quais mortais. A Auto-estrada do norte (A1), a EN 10 e o IC 2 foram as vias com maior sinistralidade. De acordo com a análise da ANSR também aqui se verifica um maior número de acidentes à sexta-feira, com incidência nos meses de Verão. A Autoridade Nacional destaca como ponto negro na região de Lisboa a EN 10 (entre o quilómetro 128 e o 134), com um registo de cerca de 20 acidentes. Um ponto negro é um lanço de estrada com o máximo de 200 metros de extensão, no qual se registou, pelo menos, cinco acidentes graves com vítimas.

António Félix perdeu a esposa ao chocar contra um pesado parado na berma

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