Justificações para desistir da solução Ota não convenceram autarcas nem empresários
Reflexão sobre o assunto foi lançada pelo presidente de Vila Franca de Xira
Desistência da opção Ota para localização do novo aeroporto de Lisboa foi repentina e mal explicada. Entidades locais concordam que a decisão defraudou expectativas e afectou negativamente a economia da região.
A decisão tomada há cerca de uma década pelo governo socialista de José Sócrates de não avançar com um novo aeroporto internacional na Ota (Alenquer) foi uma decisão mal explicada, precipitada e uma oportunidade perdida para o desenvolvimento da região. O MIRANTE
foi ouvir a opinião sobre o assunto junto de diversas personalidades na sequência da reflexão lançada na última semana pelo presidente da Câmara de Vila Franca de Xira, Alberto Mesquita (PS), que considerou que o abandono do projecto atrasou o desenvolvimento da região em 30 anos.
Para João Range, presidente da Associação Empresarial dos Concelhos de Vila Franca de Xira e Arruda dos Vinhos (ACIS), é inegável que o abandono do projecto foi prejudicial. “É uma questão de bom senso, se tivesse avançado iria desenvolver toda esta zona”, nota, admitindo que o impacto do abandono do projecto não pode ser medido nem quantificado.
“Mas sente-se que seria uma mais valia. Na altura percebi que havia gente a adquirir terrenos na zona de Alenquer para se dinamizar à volta da Ota e que depois ficaram com as terras expectantes. Para Vila Franca de Xira foi uma perda. Mas não devemos pensar que foi só por causa disso que estamos assim”, defende. Para João Range a falta de mais apoios aos empresários é determinante para combater a proximidade a Lisboa. “Não há investimento para podermos progredir”, confessa.
Compensações do Governo foram zero
O presidente de Azambuja, Luís de Sousa, não esconde que o seu concelho se sente prejudicado. “Tenho um dossiê cheio de intenções que foram deixadas em muitas reuniões com o governo. Disseram que iam compensar os atrasos, a duplicação da Estrada Nacional 3 por exemplo, eram 5,2 milhões de euros para fazer uma terceira via, que não saiu do papel. E não era só esse como outros compromissos bastante grandes que íamos receber. Até hoje foi zero, o governo da altura não concretizou, o outro a seguir a mesma coisa e o actual fez o mesmo”, critica.
Luís de Sousa concorda que o abandono do projecto custou a Azambuja “uns 10 ou 15 anos de atraso” porque a construção estava impedida em algumas áreas. “Por esse motivo não pudemos andar para a frente como queríamos”, lamenta.
Tempo demais à espera
A ex-presidente da Câmara de Vila Franca de Xira e actual deputada socialista, Maria da Luz Rosinha, diz a O MIRANTE que a questão Ota sofreu de uma indefinição longa demais. “Lembro-me que a gestão do território estava condicionada àquela infraestrutura. Até hoje posso dizer que os argumentos apresentados para abandonar aquele projecto nunca me deixaram satisfeita. Foi tudo muito súbito e não fiquei esclarecida”, critica.
A deputada nota que o actual governo já foi abordado pelos municípios no que diz respeito à cobrança dos valores de compensações prometidos à data. “Os compromissos deviam ser revistos, é evidente que os municípios tiveram prejuízos mas passado todo este tempo não vale a pena chorar sobre o leite derramado, é preciso aprender a lição para o futuro”, entende. Para Maria da Luz Rosinha desistir da Ota “pode não ter sido um erro” mas entende que foi, garantidamente, “uma decisão mal explicada”.
Regina Janeiro, vereadora da CDU na Câmara de Vila Franca de Xira, culpa quem tem gerido o município pela falta de desenvolvimento do concelho. E lembra que mesmo depois de se saber que o aeroporto não vinha para a Ota, o PS insistiu na ideia de publicar um Plano Director Municipal onde essa estrutura estava acautelada.
“O PS teve tempo para emendar esta situação e manifestou falta de vontade, optando por insistir pelo mesmo conteúdo de revisão, tendo hoje um PDM desajeitado e desajustado à realidade”, defende a vereadora comunista. Regina Janeiro lembra a Plataforma Logística da Castanheira, que teve como fundamento “a localização do aeroporto na Ota”.
O presidente da Câmara de Alenquer e da Comunidade Intermunicipal do Oeste, Pedro Folgado, defendeu na última semana a necessidade dos municípios afectados pelo impasse do aeroporto serem indemnizados “por tantos anos de indefinição”, considerando “lamentável” a forma como todo o processo decorreu.