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Irredutível Serafim das Neves


Folgo em saber que continuas a usar o português com mestria sem te deixares intimidar pela brigada do português da treta. Usas ir para a bicha em vez de ir para a fila, falas em espectadores em vez de espetadores e quando é necessário referir um pederasta não estás com inglesismos mariquinhas e escreves homossexual em vez da abominável palavra “gay”.
Eu faço o mesmo sem complexos de culpa e sinto-me muito bem E ainda digo mentira em vez de inverdade, dirijo galanteios a mulheres bonitas sem medo de ser acusado de assédio e se a minha mulher diz não, não e oh, meu Deus, quando estamos a tratar da nossa vida sexual eu percebo bem que ela não está a orar mas a gostar.
O ano novo já está em alta rotação e em tempo de balanço do ano velho, devo dizer que um dos maiores mistérios desses 364 dias foi o desaparecimento de todos os vestígios de poluição do Tejo a partir da altura em que uma celulose decidiu meter um processo em tribunal exigindo 250 mil euros ao guarda prisional com costela de ambientalista, Arlindo Marques.
Aquilo foi dito e feito e em termos ambientais não foi caso único, ali para os lados de Torres Novas também desapareceu a poluição da Ribeira da Boa Água e só não desapareceu ainda a poluição no troço do rio Nabão que atravessa a cidade de Tomar porque ainda ninguém se lembrou de levar o caso a Tribunal.
Ou seja, de cada vez que um assunto não é resolvido por políticos nem por directores e fiscais dos mais variados serviços, basta chegar a tribunal e... pimba!!! É verdade que os tribunais são lentos mas se virmos bem os políticos e os directores que tais, também o são.
Ali para Santarém há quanto tempo andam a dizer que vão reabrir o troço da Estrada Nacional 114, entre a Ponte D. Luís e o Planalto, por exemplo? E no Entroncamento o presidente da câmara, Jorge Faria, quando foi eleito a primeira vez não disse que punha o Cine-Teatro S. João a funcionar num instantinho?!!! O instantinho já tem seis anos e nada. E em vez de pôr a funcionar o velho, decidiu construir um novo, exactamente o que o anterior presidente queria fazer. Chama-se a isto a evolução na continuidade.
E já nem falo de Vila Franca de Xira onde já foi anunciada umas vinte vezes a demolição de um viaduto de Caniços entre o Forte da Casa e a Póvoa de Santa Iria, que termina abruptamente numa parede de terra? Metam em Tribunal, caramba. Metam em Tribunal ou convidem o Presidente Marcelo para ir lá, que aquilo resolve-se logo.
Os centros de saúde da região vão funcionar mais horas por causa da gripe. Eu saúdo esta bela notícia mas não acredito muito que haja clientela. O doente português é um defensor das tradições e a nossa tradição quando temos uma gripada é ir a correr para o hospital, sem passar pelo centro de saúde.
Aliás, doente que se preze, seja a doença grave ou uma simples unha encravada, recorre à urgência do hospital. O centro de saúde é mais para ir pedir baixa ou pedir receitas e mesmo receitas já começa a passar de moda porque já há muita gente que aproveita para as cravar ao médico da urgência no hospital.
É verdade que se passam muitas horas nas urgências mas sempre dá para variar as conversas porque ao menos ali há pessoas de outras terras e evita-se estar sempre a ouvir as mesmas conversas do centro de saúde onde encontramos sempre o pessoal da terra a contar as mesmas calhandrices. O contacto com outros povos durante a espera nas urgências sempre foi bom para o aumento da nossa cultura geral. Dá-nos mais bactérias mas também nos dá mundo!!!
A presidente da Câmara de Abrantes, Maria do Céu Albuquerque, pediu aos jovens para não se esquecerem da existência da palavra obrigado. Ora aqui está um apelo interessante. Lembrar palavras que caíram em desuso nas relações entre portugueses é sempre salutar e mostra que a autarca tem preocupações linguísticas.
Depois de ter lido esta notícia percebi que os resultados começaram a aparecer. Ontem ouvi o filho mais novo da minha vizinha do segundo esquerdo dizer várias vezes obrigado à mãe. “Sou obrigado a estudar; sou obrigado a ir às aulas; sou obrigado a arrumar o quarto; sou obrigado a desligar a água do banho para me ensaboar...”, disse ele.
E eu também sou obrigado a fechar aqui este amontoado de belas ideias
Saudações brutamentais
Manuel Serra d’Aire

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